Procurador-geral do MP-AL condena declarações de promotor contra o MST


 

Da Página do MST



Um grupo da Direção Estadual do MST foi recebida pelo procurador-geral do Ministério Público de Alagoas (MPE-AL) Eduardo Tavares, na tarde de terça-feira (11/10). Estiveram presentes ainda o procurador-geral substituto, Sérgio Cavalcacanti, e o chefe de gabinete, Fernando de Araújo.

 

Da Página do MST

Um grupo da Direção Estadual do MST foi recebida pelo procurador-geral do Ministério Público de Alagoas (MPE-AL) Eduardo Tavares, na tarde de terça-feira (11/10). Estiveram presentes ainda o procurador-geral substituto, Sérgio Cavalcacanti, e o chefe de gabinete, Fernando de Araújo.

O MST apresentou denúncia contra o promotor de Atalaia Sóstenes de Araújo Gaia, que associou os “Sem Terra” a “bandidagem”, durante audiência pública na Câmara de Vereadores de Atalaia, em 20 de setembro. Araújo Gaia ainda afirmou que “como diz o Coronel Amaral, bandido bom é na pedra do IML”.

O procurador-geral desaprovou a conduta do promotor. “Essa posição não condiz com a posição do Ministério Público. Não concordamos com ela e pedimos desculpas. O promotor será chamado e terá que desdizer o que disse”, afirmou Tavares.

“Ficamos chateados. É uma posição isolada”, disse. Segundo ele, o MPE-AL avalia que os movimentos sociais “têm aprimorado o país e a democracia”. “Valorizamos muito os movimentos sociais, particularmente o MST, que de todos é o mais representativo”, disse.

“Queremos dar continuidade ao diálogo que já construímos com o MP em outras gestões. Temos um papel também de fiscalizador, quando identificamos posturas como estas que não condizem com à instituição”, disse Débora Nunes, da Direção Nacional do MST.

Eduardo Tavares deixou aberta ao Movimento a possibilidade de entrar com representação contra o promotor, ao passo que garantiu que haverá procedimento interno para resolver a questão.

Confira abaixo a transcrição de trechos da fala do promotor:

“Nós temos famílias, o problema ainda não bateu na nossa porta porque a grande maioria das pessoas que tem uma condição financeira maior tem seguranças, as autoridades tem proteção, mas não estão isentos de serem tragados por esses traficantes. Porque nós temos filhos e a gente não sabe o futuro dos nossos filhos amanhã se continuar desse jeito. Sem que vocês que representam, que é o eco da sociedade de Atalaia, que eu acho a Câmara dos Vereadores, representa o todo de 53mil habitantes que tem aqui em Atalaia. É uma comarca difícil porque são vários povoados distantes, tem um problema aqui seríssimo gravíssimo dos Sem Terra, que nunca foi resolvido esse problema aqui, que é onde parte toda bandidagem aqui de Atalaia. Além disso pessoas da sociedade que estão envolvidas com roubo de carro, com homicídios, com roubo de carga” […]

[…] “e eu quero parabenizar aqui o Major J Cláudio mais uma vez pelo trabalho que ele fez que está a nível de segredo de justiça. Poucos policiais, eu estou com 62 anos de idade, 28 anos de Ministério Público, poucos, eu conheço poucos pra fazer o trabalho que o Major J Cláudio está fazendo aqui em Atalaia. É de tirar o chapéu Major, pra o trabalho que Vossa Excelência está arriscando sua vida, arriscando a vida do seu batalhão, que não é fácil lidar com traficante, não é fácil lidar com bandido, mas o bandido bom, já dizia o Coronel Amaral, é na pedra do IML. E tem carta branca aqui, do Ministério Público. Digo isso aqui, disse ao Governador e ao Vice-Governador”, […]

A seguir, leia a íntegra da nota de repúdio da Direção Estadual do MST ao promotor de Atalaia Sóstenes de Araújo Gaia

A Constituição Federal, em seus Artigos 127 a 130, define o Ministério Público como uma “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Em seu Artigo 129, inciso II, lhe é atribuído como função “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia”.

Na contramão da sua incumbência constitucional, em Audiência Pública, sobre Segurança, realizada pela Câmara de Vereadores de Atalaia no último dia 20 de setembro, com a presença de Dr. Alfredo de Mesquita (Juiz de Direito), Major J. Cláudio, vereadores e outras autoridades, o promotor público Sóstenes de Araujo Gaia usa a tribuna para afirmar que dentre as dificuldades existentes na comarca de Atalaia tem-se “o problema dos Sem Terras que é de onde parte toda bandidagem do município”.

A respeito de mais uma infeliz declaração do promotor, o Movimento Sem Terra afirma:

1-Que reconhecemos o importante papel do Ministério Público no Brasil e em Alagoas. Fomos defensores de seu crescimento e sua autonomia e independência no processo de democratização do Brasil, mas não podemos nos calar diante de pessoas que envergonham e maculam a imagem do MP;

2-Sentimos na carne as questões da violência em nossa sociedade. A violência social e a violência do Estado quando não garante direitos constitucionais aos cidadãos. E temos feito nossa parte para minimizar estas violências. Imaginem o que seria dos milhares de trabalhadores que foram descartados das terras das Usinas Brasileira e Ouricuri em Atalaia após falência, e com a apropriação indevida daquela terras por fazendeiros e autoridades; se não tivessem encontrado no MST a possibilidade de ter terra, trabalho e moradia digna;

3-O MST em Atalaia é alvo de inúmeras tentativas de barrar a luta pela terra, prova disto é o histórico de violência contra a luta e os trabalhadores, tendo três mortes só neste município, através de consórcios de fazendeiros e grileiros de terra com a conivência de autoridades (Chico do Sindicato, José Elenilson e Jaelson Melquíades, todos assassinados, impunes até hoje). Buscando criminalizar o Movimento e construir uma imagem negativa da organização na sociedade.

4-Lamentamos muito a conduta de um agente público que deveria servir de defesa intransigente da aplicação da Lei, mas que se soma ao conservadorismo que insiste em afrontar os Direitos Humanos. Posições expressas na fala do promotor citado, como “bandido bom é na pedra do IML”, não condizem com a competência demandada pela Instituição a qual hoje representa.

5- A história de mais de 25 anos do MST comprova que nossa organização se construiu combatendo todas as formas de violência, procurando conquistar vida digna para as pessoas excluídas. Só em Atalaia são mais de 500 famílias (2000 cidadãos) assentadas/os a partir da luta do nosso Movimento, com direito a escola, creche, terra pra plantar, moradia digna, cultura.

Esperamos que os órgãos competentes tomem as medidas cabíveis contra esse membro que tem demonstrado posição em desconformidade com os princípios do Ministério Público.

Seguiremos organizando famílias, no Brasil, em Alagoas e em Atalaia. Lutando para conquistar terra para quem nela quer trabalhar. Convictos que não se desiste da luta quando matam um Sem Terra.

Direção Estadual do MST de Alagoas