Sem Terra denunciam irregularidade e cobram criação de assentamentos no RS


 

 

Da Página do MST

As famílias do MST que ocupam uma área de 480 hectares da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), redigiram uma carta aberta na qual denunciam as irregularidades da propriedade. No documento, o MST aponta que o local está sendo arrendado de forma ilegal para a plantação de arroz convencional e com o uso de agrotóxico, que sabidamente causa prejuízo à saúde humana e animal.

Na carta, os trabalhadores e trabalhadoras questionam o estado e a sociedade sobre como uma área que poderia ser destinada para o assentamento das famílias acampadas no Rio Grande do Sul é destinada para beneficiar somente uma pessoa?

Além disso, as famílias afirmam que se há interesse em realizar plantio de arroz orgânico no local, os trabalhadores e trabalhadoras do campo, organizados pelo MST, detêm conhecimento suficiente para isso, sendo possível a implantação de um assentamento no local. 

Carta aberta de denúncia sobre a área da FEPAGRO em Eldorado do Sul

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – ocupa uma área da
Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO). A terra, de 480
hectares, foi ocupada no dia 24 de outubro pois não está cumprindo a sua
função social de desenvolver pesquisas que beneficiem a população do Rio
Grande do Sul.

* Dos 480 hectares da área, 130 estão sendo arrendados ilegalmente há 17
anos. Diante disso, denunciamos que:

a) a área é arrendada para a plantação de arroz convencional;
b) nessa lavoura é aplicado agrotóxico com a utilização de avião;
c) as aplicações de agrotóxicos e venenos ocorrem próximas ao Assentamento
Conquista Nonoaiense e a Vila Progresso. É sabido que o uso de agrotóxicos
causa prejuízos á saúde humana, como o desenvolvimento do câncer, depressão
e outros problemas;
d) constatando que o arrendamento de terras públicas é ilegal, questiona-se:
quem fica com a renda da plantação de arroz?
e) a FEPAGRO não tem projeto de pesquisa para as suas áreas no estado que em
geral estão abandonadas. Uma prova disso são as ocupações realizadas pelo
MST e MAB em Vacaria e em Eldorado;
f) o governo do estado não apresenta soluções imediatas para o assentamento
das mil famílias acampadas. Em abril deste ano o governo assinou um acordo
de assentar 550 famílias até setembro, mas até agora não fez nada. Além
disso, fazem três anos que nenhum novo assentamento é criado no estado;
g) o diretor da FEPAGRO de Eldorado do Sul, Maurício Dasso, admitiu que a
terra está sendo arrendada e manifestou interesse em ceder a área para
pesquisa em arroz ecológico. Ele afirmou que a pesquisa com arroz ecológico
não é empecilho para criar assentamento no local;
h) Considerando que a maior produção de arroz ecológico no RS é das famílias
do MST, a melhor maneira de realizar esse projeto é com a criação de um
assentamento no local.

* Diante da situação dessa área: ilegalidade, não cumprimento da sua função
de pesquisa e prejuízo às famílias da região, propomos:

a) que a área seja destina à Reforma Agrária, garantindo assim a produção de
alimentos orgânicos, sem uso de agrotóxico. Ao invés de beneficiar somente
um arrendatário, a área vai beneficiar cerca de 30 famílias acampadas que
precisam de terra para trabalhar, bem como a comunidade local, que poderá
adquirir alimentos baratos e saudáveis;
b) as famílias assentadas no RS, depois de lutarem com o MST, produzem
atualmente 3.800 hectares de arroz orgânico. A safra prevista para 2011 e
2012 é de 350 mil sacas. A produção de 400 famílias é distribuída para a
merenda escolar e cestas básicas da CONAB. O volume da produção orgânica
garantiu às famílias conquistarem uma unidade de beneficiamento de sementes
em Eldorado do Sul;
c) ao serem assentadas nessa área em Eldorado, os trabalhadores e
trabalhadoras passarão a fazer parte dessa conquista, já que o MST é a única
organização com experiências concretas na produção de arroz.

As 200 pessoas que ocupam hoje a área em Eldorado do Sul permanecerão
acampadas até que o governo apresente uma solução definitiva com relação a
essa área e ao assentamento imediato das mil famílias acampadas no estado.
Reiteramos que a luta do MST é por terra e liberdade para trabalhar,
produzindo alimentos saudáveis para o povo brasileiro.

Assinam esta carta as famílias acampadas do MST no Rio Grande do Sul