Chevron e Código Florestal. Negligência e postura passiva do governo

Por Cesar Sanson,
Da Rádio Agência NP

Por Cesar Sanson,
Da Rádio Agência NP

Ao longo da semana dois temas repercutiram na conjuntura brasileira, particularmente na mídia alternativa e nas redes sociais: o vazamento de petróleo na bacia de Campos (RJ) e a aprovação da reforma do Código Florestal na Comissão do Meio Ambiente do Senado.

No Ano Internacional das Florestas, da Campanha da Fraternidade que colocou em discussão a gravidade da crise ecológica e às vésperas da Rio+20, a reafirmação da flexilização da legislação ambiental e a postura vacilante do governo frente ao caso Chevron, são manifestações de que o país se coloca de costas para a problemática ambiental e caminha na contramão do debate mundial.

A aprovação da reforma do Código Florestal pela Comissão do Meio Ambiente no Senado – em que pese algumas alterações depois de intensa contestação – coloca a nú a subordinação da agenda ambiental à agenda econômica. Nos três anos em que esse tema – pautado pela bancada ruralista – se encontra em debate, o governo pouco fez para impedir o avanço das teses do agronegócio. Mais do que omissão, o governo vem sendo conivente com o desfecho da flexibilização do Código Florestal.

Por outro lado, no caso Chevron, viu-se uma reação tardia do governo brasileiro, beirando até mesmo falta de indignação com o fato ocorrido. O Ministério de Minas e Energia, a ANP e o Ibama demoraram para se manifestar, revelaram despreparo e até mesmo ingenuidade. A inércia do Estado brasileiro ficou evidente. Destaque-se que a ausência de indignação com a gravidade do crime ambiental não se resumiu ao governo. A imprensa, os partidos políticos e também as organizações sindicais e os movimentos sociais foram tíbios na denúncia e repercussão do problema.

Em ambos os casos, a postura leniente do governo deve-se, sobretudo, ao seu modelo desenvolvimentista, no qual a questão ambiental não é determinante. O fato é que o Brasil permanece preso ao século XX, a uma concepção de industrialização tardia e tributária da Revolução Industrial. As tensões provocadas pela Reforma do Código Florestal, assim como o caso Chevron – que deve ser lido no contexto da exploração do pré-sal -, inserem-se numa certa compreensão de que danos ambientais sob a ótica do progresso são custos inevitáveis e um preço a ser pago.

Nos dois casos, a dubiedade do governo permite a interpretação de que considera desejável a flexibilização no Código Florestal e “admissível” acidentes como o da Chevron – que levanta a inquietante pergunta se o país está de fato preparado para o pré-sal.

O estrago na flexibilização do Código e a postura passiva diante da negligência da Chevron poderia ser ainda maior não fosse a forte reação do movimento social, particularmente do movimento ambientalista e da comunidade científica.

*Cesar Sanson é pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.