Camponesas ocupam Embrapa em Goiás contra privatização

 

Por Elizângela Araújo
Da Página do Sinpaf

 

Cerca de 500 agricultoras ligadas a movimentos de luta por justiça no campo ocupam, desde às 8 horas desta segunda (5/3), a Embrapa Arroz e Feijão, e m Goiânia, em Goiás.

 

Por Elizângela Araújo
Da Página do Sinpaf

 

Cerca de 500 agricultoras ligadas a movimentos de luta por justiça no campo ocupam, desde às 8 horas desta segunda (5/3), a Embrapa Arroz e Feijão, e m Goiânia, em Goiás.

As trabalhadoras exigem, entre outros pontos, a manutenção da Embrapa 100% pública e a retirada do Projeto de Lei 222/08 (Embrapa S/A), que propõe transformar a Embrapa em empresa de economia mista com ações negociadas na bolsa

O autor da proposta é o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Atualmente, a matéria tramita no Senado sob a relatoria de Gim Argello (PTB-DF), que apresentou parecer favorável à proposta no dia 1º de fevereiro.

Além disso, as mulheres camponesas cobram audiência com o ministro da Agricultura para discutir a proposta de modelo dos movimentos para a agricultura, participação no Conselho de Administração (Consad) da empresa e um programa de pesquisas para a agricultura familiar camponesa agroecológica, com contratação de novos pesquisadores e pessoal de apoio à pesquisa.

Rosana Fernandes, da coordenação da Via Campesina, afirmou que a intenção da ocupação não é fazer enfrentamento. “Não ocupamos prédios administrativos, permanecemos na entrada, mas só a nossa presença já é questionadora. A ideia é permanecer até que recebamos propostas concretas para nossas exigências”, explicou. CPT, PJR – Pastoral da Juventude Rural, movimento dos pequenos agricultores, MAB e Fetraf e MMC.

Ela explica que a Embrapa foi escolhida para a ocupação por ter priorizado a pesquisa para os grandes empresários e o agronegócio, incentivando o uso de agrotóxicos. “É um lugar simbólico para as questões que estamos pondo novamente para a sociedade”.

A ocupação faz parte da Jornada de Lutas das Mulheres Camponesas 2012, que reúne militantes da Via Campesina, composta pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) entre outros.

De acordo com lideranças do MST, a pauta foi entregue ao chefe-geral da unidade, que se comprometeu a entregá-la ao presidente da Embrapa, Pedro Arraes, e ao ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho.

O presidente do SINPAF, Vicente Almeida, afirmou que a luta das camponesas é legítima e que os trabalhadores da Embrapa devem apoiá-la. “Elas lutam por reforma agrária, priorização da pesquisa para a agricultura agroecológica e pela manutenção e fortalecimento da Embrapa como empresa 100% estatal. Esses pontos também compõem a nossa luta”.

Assim que chegaram ao local os manifestantes organizaram uma assembleia com os trabalhadores da Embrapa para informar os motivos e objetivos da ocupação. “A manifestação é justa, embora nos tenha pego de surpresa. A Embrapa só tem trabalhado para os grandes empresários e quase não sobra recursos para a agricultura familiar. Aqui mesmo no Arroz e Feijão quase não há pesquisa para agricultura agroecológica. Por isso apoiamos o movimento e nos colocamos a disposição enquanto a ocupação durar”, afirmou o presidente da Seção Sindical SINPAF Goiânia, Waldomiro Faria. De acordo com ele, os cerca de 230 empregados da empresa demonstraram compreensão da mobilização e apoiam as reivindicações.

Jornada de lutas das Mulheres Camponesas

A Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas 2012 tem como objetivo denunciar o capital estrangeiro na agricultura e as empresas transnacionais. A intenção da jornada, que se dá nesta semana em que se comemora do Dia Internacional da Mulher, é chamar a atenção da sociedade para  destruição do meio ambiente e as ameaças à soberania alimentar do país impostas pelo agronegócio.

De acordo com o MST, as principais reivindicações da jornada são: destinação das grandes extensões de terra utilizadas por empresas do agronegócio à Reforma Agrária, para produção de alimentos saudáveis para autossustentação e geração de renda; fim do latifúndio e garantia de justiça social no campo para dar base à construção da soberania alimentar do país; garantia de recuperação e preservação da biodiversidade, matas, florestas, plantas medicinais, sementes crioulas, água, terra como patrimônio dos povos a serviço da humanidade e um projeto de agricultura baseado na agroecologia. “Nosso projeto prevê que a terra, as águas, as sementes, o ar e as diversas formas de produção da vida no campo jamais podem ser mercantilizadas”, afirma Rosana.