Mística e emoção na homenagem aos 50 anos do assassinato de João Pedro Teixeira

 


Da Página do MST*

 

 


Da Página do MST*

 

Nesta segunda-feira (2) foi celebrada a morte de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado por sicários do latifúndio, em 2 de abril de 1982, na rodovia Café do Vento, Sapé. Pedro Teixeira foi um dos fundadores das Ligas Camponesas de Sapé, em 1958, juntamente com Biu Pacatuba, João Alfredo, Pedro Fazendeiro e Ivan Figueiredo.

Ao longo do dia, cerca de cinco mil pessoas, dentre elas atividades, militantes e ativistas de movimentos sociais e antigos militantes daquela época, participaram de uma extensa programação com a celebração da memória do líder camponês morto.

As homenagens começaram pela manhã com uma caravana de todo povo, ao visitarem o túmulo de João Pedro Teixeira no cemitério conhecido por “Cemitério Velho” de Sapé.

Em seguida, foi realizada uma caminhada pelas ruas de Sapé, bem como os camponeses faziam com frequência nas lutas da década de 1960. Ao chegarem a Praça João Pessoa – onde as Ligas Camponesas faziam suas reuniões e assembleias públicas, todas coordenadas pelo João Pedro Teixeira, que era o principal líder -, iniciou-se um belo ato público, durante o qual discursaram personagens históricos das lutas camponesas, dentre os quais Elizabeth Teixeira (viúva do ex-líder), Agassiz Almeida, Assis Lemos e João Pedro Stédile, do MST.

Com palavras carregadas de profunda emoção, Elizabeth Teixeira relatou o seu calvário após a morte do seu esposo. Acentuou a líder camponesa: “Mesmo carregando o peso dos meus quase 90 anos estarei sempre lutando pela reforma agrária no Brasil, que ainda não foi realizada”.

Em seguida, o ex-deputado constituinte Agassiz Almeida rememorou as lutas dos camponeses. “Há 50 anos, tiros do latifúndio abateram João Pedro Teixeira. Ele tombou no chão da história como um valente que não se curvou ante forças poderosas”. João Pedro Stédile acrescentou ai dozer que “o MST teve como embrião as Ligas Camponesas e a história de luta de homens como João Pedro Teixeira, Francisco Julião, Pedro Fazendeiro e tantos outros companheiros”.

Uma frase impressa num cartaz grande retirada de um discurso de João Pedro Teixeira destacava-se no meio da praça, em que dizia: “eu sei que vou me matar. Eu sei que a reforma agrária vai demorar. Haverá tempos de derrota. Não desanimem. Mas nossa luta vai ficar como brasa, escondida nas cinzas. Até que um dia renascerá, com toda força, e como fogo, será invencível. E um dia, o povo brasileiro terá reforma agrária.”

Da praça João Pessoa, a carreata se dirigiu por cerca de 12Km ao povoado de Barra de Antas, em Sapé, para a casa onde morou João Pedro Teixeira, sua esposa Elizabeth Teixeira (que acompanhou todo processo com seus 87 anos) e seus onze filhos. Às 16 horas, com a presença do governador Ricardo Coutinho, o arcebispo Dom José Maria Pires, deputados, secretários do governo e representantes de várias entidades de classe e órgãos defensores dos direitos humanos, inaugurou-se o Memorial das Ligas Camponesas, com as bênçãos cristãs de Dom José Maria Pires, seguindo-se o corte simbólico da fita por parte do governador Ricardo Coutinho, Elizabeth Teixeira e Agassiz Almeida.

Após este ato cívico, o governador Ricardo Coutinho destacou a presença histórica destes nomes das lutas camponesas no Nordeste, como os de Elizabeth Teixeira, Agassiz Almeida, Assis Lemos e Francisco Julião, in memoriam, representado pelo seu filho Anacleto Julião.

Já Agassiz Almeida disse que “50 anos nos separam daquele 2 de abril de 1962, e a partir de então um grito de indignação ecoou pelos tempos afora. Repito como já me manifestei em várias partes do país: a abolição da escravatura em 13 de maio de 1888 veio da pena de uma princesa; 70 anos depois, a libertação dos camponeses, após quatro séculos de opressão do latifúndio, foi conquistada, com sangue, suor e mortes”.

Encerrando a programação, o governador Ricardo Coutinho, visivelmente emocionado, destacou: “Com este Memorial das Ligas Camponesas pretendemos resgatar a história das lutas camponesas, e ao mesmo tempo, dizer ao povo paraibano que estamos bem próximo dos trabalhadores rurais, a fim de trazer dias melhores e recuperar uma parte das lutas agrárias deste país que não podem ser esquecidas. A maior dificuldade para instalar este Memorial foi o ódio daqueles que implantaram a ditadura no país, os quais além de matarem muita gente, quiseram apagar da memória do povo documentos da época”.

*Com informações do Centro de Referências em Direitos Humanos do Agreste da Paraíba