Acampados denunciam ao ouvidor agrário quadro de violência em Uberaba

 

Da Página do MST


As 80 famílias acampadas em Uberaba, no Triângulo Mineiro, fizeram uma marcha até a praça Rui Barbosa, no centro da cidade, na semana passada, para denunciar a truculência da Polícia Militar durante uma ação de despejo.

Depois do ato, foi encaminhada uma carta para o ouvidor agrário nacional e presidente da comissão nacional de combate à violência no campo, desembargador Gercino José da Silva Filho, para cobrar proteção das famílias acampadas e punição aos policiais envolvidos na ação.

 

Da Página do MST

As 80 famílias acampadas em Uberaba, no Triângulo Mineiro, fizeram uma marcha até a praça Rui Barbosa, no centro da cidade, na semana passada, para denunciar a truculência da Polícia Militar durante uma ação de despejo.

Depois do ato, foi encaminhada uma carta para o ouvidor agrário nacional e presidente da comissão nacional de combate à violência no campo, desembargador Gercino José da Silva Filho, para cobrar proteção das famílias acampadas e punição aos policiais envolvidos na ação.

“O comando da polícia de Uberaba sempre teve essa postura violenta contra os movimentos sociais na região. Hoje é o momento de fazer mais uma denúncia”, afirmou Maísa, dirigente regional do MST. “Houve um grande abuso de poder. Foi uma ação conjunta de usineiros, fazendeiros e poder público para nos despejar de um área sem mandado da Justiça”, completou Edvaldo Soares dos Santos, também dirigente.

A Comissão de Direitos Humanos prometeu encaminhar a denúncia e as provas recolhidas para a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.

A marcha

Antes de chegar à praça, os manifestantes pararam em frente à Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), onde fizeram um ato em apoio à paralisação dos servidores, que cobram aumento salarial. Os estudantes, professores e trabalhadores da universidade retribuíram, através de uma salva de palmas, o apoio recebido.

Foi realizada também uma audiência pública popular, com a presença de representantes do Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, CPT (Comissão Pastoral da Terra) e sindicatos e outros movimentos sociais. O poder público local não enviou nenhuma autoridade para acompanhar o evento.

Despejo

Na noite do dia 17 de abril, cerca de 80 famílias, com mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos, ocuparam a fazenda Inhumas, montando um acampamento para alojar as pessoas. A propriedade de 890 hectares já havia sido ocupada outras vezes, pois o Incra já havia feito a vistoria e decretado que a área é improdutiva, logo, sujeita à desapropriação para Reforma Agrária.

Por volta das 5h30 da manhã do dia 18, foram surpreendidos por um tiro,  disparado por milícias. Os trabalhadores tentaram dialogar com os jagunços, para impedir que houvesse feridos. Depois de uma intensa negociação, as milícias concordaram em aguardar a chegada da polícia.

Por volta das 8h, um tenente e um soldado voltaram ao acampamento, acompanhados do arrendatário da fazenda. Alegaram que a ocupação era ilegal e ameaçaram prender os trabalhadores caso eles não saíssem da área. Meia hora depois, chegaram doze viaturas da PM, com homens fortemente armados. Deram apenas 10 minutos para que os acampados desmontassem todas suas barracas e pegassem seus pertences. O major presente na ação ameaçou entrar e fazer uma “varredura”, usando cães para amedrontar ainda mais as famílias.

Como a região é dominada pelo plantio de cana-de-açúcar, sabe-se que a usina Vale do Tijuco, pertencente ao grupo CMAA, está interessada nesses 890 hectares para expandir sua produção. Por isso a empresa enviou dois ônibus para auxiliar a polícia na remoção ilegal das famílias.

As famílias foram levadas até a Praça Pio XII, no bairro Gameleira, em frente à igreja São José. Nos dois primeiros dias, os acampados puderam utilizar as dependências da igreja para usar os banheiros e chuveiros, mas após o segundo dia foram impedidos de entrar.

Foram nove dias de acampamento precário na praça, sem acesso a higiene e condições mínimas de repouso. Apenas após a chuva, a polícia permitiu que as barracas de lona fossem levantadas para proteger os manifestantes.