Quem tem medo do latifúndio?



 

Por Maria Luisa Mendonça
Do Brasil de Fato


 

Essa parece uma pergunta retórica, mas a atual conjuntura política nos leva a questionar as razões da permanência histórica do poder das oligarquias rurais no Brasil. O exemplo mais recente foi a vitória da bancada ruralista no Congresso Nacional, que promoveu a destruição da legislação ambiental com a aprovação das mudanças no código florestal. Outro fato emblemático foi o balanço da política agrária, que em 2011 registrou o pior índice de concentração fundiária no país.

 

Por Maria Luisa Mendonça
Do Brasil de Fato

 

Essa parece uma pergunta retórica, mas a atual conjuntura política nos leva a questionar as razões da permanência histórica do poder das oligarquias rurais no Brasil. O exemplo mais recente foi a vitória da bancada ruralista no Congresso Nacional, que promoveu a destruição da legislação ambiental com a aprovação das mudanças no código florestal. Outro fato emblemático foi o balanço da política agrária, que em 2011 registrou o pior índice de concentração fundiária no país.

O avanço do capital sobre recursos naturais é acompanhado por um crescente processo de formação de monopólios no setor agrícola, com a participação de empresas estrangeiras. A concentração de capitais no campo faz parte de um movimento especulativo de capitais financeiros que migram para o setor de commodities, principalmente com o agravamento da crise econômica internacional. O resultado é a geração de uma bolha especulativa, que tem causado um forte aumento no preço da terra.

As mudanças no código florestal têm como objetivo permitir maior expansão territorial de monocultivos e o avanço do agronegócio em áreas com acesso a infraestrutura, vastas bacias hidrográficas e biodiversidade. O discurso sobre um suposto “crescimento” econômico serve pare esconder a dimensão que a crise mundial toma no Brasil, representada pela aliança entre a oligarquia latifundista e grandes empresas nacionais e multinacionais.

A lógica deste modelo está baseada na superexploração do trabalho e, portanto, comunidades camponesas, indígenas e quilombolas sofrem constante repressão.

A tão propagada “eficiência” do agronegócio não se sustenta, na medida em que se constata uma queda no nível de produtividade da agricultura baseada no monocultivo extensivo. A ineficiência desse setor fica evidente já que combina a necessidade de constantes investimentos em insumos químicos com a expansão do controle sobre recursos naturais, como terra e água.

Além de ceder poder à bancada ruralista, o governo mantém uma política que privilegia o latifúndio com constante rolagem de dívidas e créditos subsidiados. Ano após ano, o agronegócio demanda perdão de dívidas com bancos estatais, além de diversas formas de incentivos fiscais. Portanto, o verdadeiro “produto” do agronegócio não é a cana, a soja, o eucalipto ou a laranja, mas uma enorme dívida financeira, social e ambiental. Resta saber se o governo Dilma se manterá refém dos ruralistas ou terá coragem de atender às expectativas da sociedade e vetar o desmonte do código florestal.