Mobilizações de camponeses representam a necessidade de outro modelo agrícola


Por Guilherme Almeida
Da Página do MST

 

O ano de 2012 está se mostrando um ano importantíssimo para a luta camponesa. Prova disso são as mobilizações dos movimentos sociais do campo em todo o Brasil que aconteceram neste primeiro semestre.

Na primeira quinzena de março, por exemplo, milhares de atingidos por barragens se mobilizaram por todo o país na Jornada Nacional de Lutas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Já em abril, foi a vez do MST mobilizar cerca de 60 mil Sem Terra em todo o Brasil em torno da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

No começo de maio, a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) promoveu sua Jornada Nacional de Lutas da Agricultura Familiar.

No final do mesmo mês, o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) mobilizou mais de 10 mil camponeses em todo o país na Jornada Nacional de Luta Camponesa. No mesmo período também aconteceu o Grito da Terra Brasil, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), que contou com mais de 8 mil camponeses em Brasília.

E no começo de junho, o Movimento Camponês Popular (MCP) tampouco deixou de fazer sua luta, quando mais de 3 mil trabalhadores rurais se mobilizaram por três dias em Brasília.

As ocupações de terras, de prédios públicos como o Ministério da Fazenda e a Embrapa, marchas e dezenas de atos que deram corpo às jornadas são exemplos das mobilizações que levaram persistentemente às ruas as reivindicações e anseios dos trabalhadores rurais brasileiros.

De forma resumida, pode-se dizer que os movimentos sociais em questão lutam por um outro modelo de agricultura no Brasil. Lutam por uma matriz produtiva antagônica ao do agronegócio, que não se baseia na alta concentração de terra, no monocultivo de commodities voltado à exportação, na enorme utilização de agrotóxicos e na baixa geração e precariedade do trabalho para a população do campo.

Dessa forma, Willian Clementino da Silva Matias, da secretaria de política agrária da CONTAG, acredita que construir uma unidade entre os movimentos do campo é fundamental para as conquistas de suas pautas. “Consciência de classe é mais importante que as divergências que temos nas nossas metodologias. Não temos que fragmentar. Nossas pautas são convergentes”.

Na mesma linha segue Valter Israel da Silva, da direção nacional do MPA. “Temos pautas comuns, escritos de maneiras diferentes”. Ele defende a atuação conjunta contra questões estruturais que os movimentos separadamente não têm força para combater.

Marcos Rochinski, secretário geral da FETRAF-BRASIL, exemplifica a importância da unifidade entre os movimentos campesinos, ao considerar estas mobilizações “como grande oportunidade de apresentar a agricultura familiar como modelo capaz de conciliar preservação ambiental e desenvolvimento sustentável com capacidade de gerar renda com a produção de alimentos.”

Rochinski considera um desperdício de força quando mobilizações não são articuladas, ainda que sejam conjuntas. “Naquilo que temos agido de forma mais articulada como contra a aprovação do Código Florestal e da PEC do trabalho escravo, ou até mesmo em relação às dividas rurais, sente-se que o tratamento do governo passa a ser diferente.”

Falta de resposta

Infelizmente a necessidade de se articular não vem apenas da vontade de construir coletivamente. Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, lembra que os movimentos trabalham em conjunto para correr atrás dos prejuízos impostos pelo latifúndio.

“O governo não respondeu satisfatoriamente a ninguém nesse ano. A reforma agrária foi esquecida pelo governo Dilma. Os últimos anos têm sido ruins para a política de assentamentos. Enquanto a gente perde espaço o agronegócio ganha. A falta de conquista também mobiliza”, relata Alexandre Conceição.

“A PEC do trabalho escravo e o código florestal são exemplos de como a bancada ruralista atrasa ou impede conquistas da população do campo. Algo a mais precisa ser feito”, aponta o dirigente do MST, destacando a relação tensionada no Congresso Nacional.

Para Alexandre, o governo da presidenta Dilma Rousseff não impõe derrotas ao agronegócio porque é esse o modelo de agricultura priorizado pelo Brasil.

Marcos Rochinski, da FETRAF, acredita que o ano de 2012 está sendo o pior na relação entre governo e movimentos sociais do campo desde o início do primeiro mandato do ex-presidente Lula.

Congresso Camponês

A fraca resposta do governo em relação às pautas apresentadas pelos movimentos do campo coloca a necessidade deste setor articular uma ação conjunta para o segundo semestre de 2012. Seria a continuidade da luta no campo, agora no sentido de cobrar respostas.

“Para pautas estruturais as respostas são mínimas. A cada ano que passa menos espaço para debate”, avalia Valter Israel. Ele ressalta ainda que a conseqüência disso é a construção de uma campanha dos movimentos campesinos buscando medidas práticas a serem tomadas pelo Estado.

 Valter aponta para a sintonia que estes movimentos apresentam na análise conjuntural, ao terem avançado no “diagnóstico”, mesmo que algumas vezes deixe a desejar na prática.

Desta maneira, estes movimentos estão organizando para o segundo semestre o Congresso Camponês, 51 anos após o primeiro, com a finalidade de unificar ainda mais a luta dos trabalhadores do campo.