Filhos do Contestado na luta pela Reforma Agrária

 

Por Pepe Pereira dos Santos,

Da Página do MST

 

Por Pepe Pereira dos Santos,

Da Página do MST

 
Desde 7 de junho, mais de uma centena de famílias no município de Timbó Grande, planalto norte de SC, ocupam uma área de aproximadamente 110 alqueires, da qual a multinacional Terra Master detém os papéis. Trata-se da parte de um todo dez vezes maior, que são os mais de 1000 alqueires que a mesma empresa comprou no município para o plantio de pinus.
 
Timbó Grande tem uma população de quase 8 mil pessoas, que na sua ampla maioria trabalha ou nas terras de outros, leia-se no pinus, ou nas empresas do setor madeireiro, que exploram essas terras e seu povo desde o Contestado. Com muitas horas de trabalho em turnos de até 24 horas por dia, os moradores e moradoras de Timbó Grande recebem pouco mais de 1 (um) salário mínimo por mês, que garante a renda familiar.
 
Formadas basicamente por camponeses sem-terra descendentes dos caboclos que lutaram na Guerra do Contestado, as famílias do acampamento viram gerações inteiras serem expulsas de suas terras, mas ao mesmo tempo aprenderam o valor da resistência, da luta e da organização.
 
Dos redutos de Santa Maria, Timbozinho e Perdizes Grandes, nasceram as bases do acampamento Filhos do Contestado MST-SC. Em menos de quarenta dias de ocupação construímos de maneira coletiva uma escola onde funcionará a Escola Itinerante do 1° ao 5° ano do ensino fundamental, no método pedagógico do educador Paulo Freire, reconhecido e respeitado em todas as partes do mundo. Iniciamos também a alfabetização de jovens e adultos e a escola abrigará outras atividades de formação no acampamento. 
 
Algumas ações mobilizaram as famílias na última semana: a construção de um espaço de produção de mudas para os assentamentos da região, com uma parte em estufa também construída de forma coletiva; fizemos formação na área de saúde, priorizando a questão das ervas medicinais; na política para entendermos melhor a luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação da sociedade. Fechamos a semana com um dia todo dedicado à cultura, com apresentação teatral (de um grupo local) de uma peça sobre a Guerra do Contestado, além de filmes das lutas do MST e música com gaiteiros e violeiros da região.
 
O coletivo da juventude que se organiza dentro do acampamento teve participação ativa em todas as atividades. Como tudo está em movimento, estamos nos preparando para garantir a agilidade necessária por parte do INCRA para que o governo cumpra a decisão da justiça agrária de Santa Catarina e assente todas as famílias do acampamento Filhos do Contestado até o final de outubro.