Agronegócio gasta milhões contra rotulagem dos transgênicos nos EUA

 

Por Alan Rappeport e Hal Weitzman
Do Financial Times, de Washington e Chicago

No Valor Econômico
 

 

Por Alan Rappeport e Hal Weitzman
Do Financial Times, de Washington e Chicago

No Valor Econômico
 

Empresas de agronegócios e alimentos dos Estados Unidos estão gastando milhões de dólares em uma campanha contra uma proposta que, se aprovada, as forçaria a revelar o uso de ingredientes geneticamente modificados na composição de seus produtos.

As companhias alegam que o cumprimento de lei como essa resultaria em um aumento de custos que, segundo alertam, seriam repassados aos consumidores. Gigantes como Coca-Cola, PepsiCo, General Mills, Monsanto e DuPont já investiram US$ 25 milhões para tentar derrubar a “Proposta 37”, da Califórnia.

Milho, soja e canola estão entre os ingredientes que podem ser produzidos a partir de sementes transgênicas, que os tornam mais resistentes a pragas e mesmo a intempéries climáticas. Com a proposta da Califórnia, as empresas temem não poder mais comercializar seus produtos como “naturais” no mercado local; elas também estão preocupadas com a possibilidade de aprovação de regras semelhantes em outros Estados americanos.

“[A proposta] terá um impacto muito negativo e custos maiores”, diz Kathy Fairbanks, uma porta-voz da campanha “No on 37”, contra a proposta de lei. “Ela é baseada no medo, e não em fatos”.

Os EUA não têm uma lei federal sobre a classificação de alimentos geneticamente modificados. Países europeus irritaram empresas americanas uma década atrás, quando começaram a impor exigências rígidas nesta frente. Coca-Cola e PepsiCo, as fabricantes americanas de bebidas que combinaram gastar US$ 1 milhão em oposição à lei californiana, não quiseram comentar o assunto, mas são representadas na empreitada pela Grocery Manufacturer”s Association, que é contra a proposta.

O grupo afirma que as companhias terão de começar a usar ingredientes orgânicos ou alterar suas embalagens na Califórnia. Qualquer uma das soluções significará custos maiores que serão repassados aos consumidores.

Monsanto e DuPont, duas das maiores produtoras de sementes transgênicas do mundo, são as maiores doadoras para a campanha que visa derrotar a proposta, com gastos de US$ 4,2 milhões e US$ 4 milhões, respectivamente. A Monsanto não quis fazer comentários ao “Financial Times”. Limitou-se a postar uma mensagem em seu blog, na qual afirma que “os consumidores têm hoje amplas escolhas alimentícias, mas poderão ter essas escolhas negadas se a Proposta 37 prevalecer.”

“Por baixo do lema deles do direito de saber, há uma campanha de marketing enganosa que visa estigmatizar a moderna produção de alimentos”, afirma o blog. Já a DuPont afirmou apenas que “cumpre todas as exigências de designação dos produtos derivados da biotecnologia e acredita, em todos os casos, que a classificação deve ser verificável, não discriminatória nem ilusória”.

A Food and Drug Administration (FDA) e a American Medical Association não encontraram evidências que mostram que os alimentos com ingredientes transgênicos sejam danosos. Mas defensores da lei afirmam que as companhias mentem sobre a composição de seus produtos e que os reflexos de longo prazo dos alimentos transgênicos não foram estudados.