Morre o historiador marxista Eric Hobsbawm aos 95 anos

 

Por Marina Mattar
Do Opera Mundi

 

 

   

 

Por Marina Mattar
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      Eric Hobsbawm – Foto: Reprodução

Um dos maiores historiadores do século XX e respeitado marxista, Eric Hobsbawm faleceu nesta segunda-feira (01) em Londres, aos 95 anos, segundo um comunicado de sua família divulgado em jornais britânicos. O estudioso deixou um amplo legado de pesquisas e análises sobre a história do mundo moderno a partir do viés marxista.

O intelectual estava internado no hospital Royal Free e não resistiu a uma pneumonia. Sua filha, Julia Hobsbawm, informou que o historiador estava passando por um longo período de doenças, mas não deu outros detalhes sobre seu quadro de saúde.

“Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo”, acrescentaram seus familiares em comunicado.

Responsável por obra de quatro volumes sobre a história contemporânea, Hobsbawm é considerado um dos principais historiadores dos séculos XIX e XX. Seus estudos abrangem de 1789, data da revolução francesa, a 1991 com a queda da União Soviética e enfatizam, sobretudo, as transformações políticas e sociais do mundo por meio de seus principais marcos históricos.

O imperialismo das potências sobre os continentes asiático e africano, a revolução russa e o estabelecimento dos regimes burgueses na Europa também foram objetos de estudo do marxista.

Para o historiador Niall Ferguson, os livros “A Era da Revolução” (1789 – 1848), a “Era do Capital” (1848 – 1875), “A Era dos Impérios” (1875 – 1914) e “A Era dos Extremos (1914 – 1991) são “o melhor ponto inicial para qualquer pessoa que deseje começar a estudar a história moderna”.

O trabalho de Hobsbawm, no entanto, não se limitou a essa série de estudos e a idade parece não ter impedido o historiador de continuar com suas pesquisas e análises. Tendo em vista recentes acontecimentos mundiais como os atentados terroristas do 11 de setembro e a guerra dos Estados Unidos “contra o terror”, Hobsbawm publicou “Globalização, Democracia e Terrorismo” em 2007, uma compilação de palestras e conferências.

Em 2011, aos 94 anos, o historiador fez sua ultima contribuição e análise aos estudos do pensamento e da história marxista com o livro “Como mudar o mundo”. Prefácios, artigos, conferências e ensaios reunidos na obra explicitam a preocupação central do historiador em refletir sobre as transformações e nesse caso, sobre uma teoria que alicerça a revolução.

Hobsbawm também se encontrou no ano passado com o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e opinou sobre a situação política brasileira. “Lula ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas”, opinou o historiador.

O historiador, de origem judaica, nasceu no ano de 1917 em Alexandria, no Egito, mas cresceu em Viena, capital austríaca, e em Berlim, capital alemã. Junto de sua família, se mudou para Londres em 1933 quando Hitler chegou ao poder na Alemanha. Hobsbawm desenvolveu seus estudos no King’s College, na capital britânica, e em Cambridge. Em 1947, começou a lecionar na Universidade de Birbeck, onde, anos depois, acabou por se tornar o reitor.

O posicionamento político de Hobsbawm era público e muito conhecido, pois, em plena Guerra Fria, ele se afiliou ao Partido Comunista britânico. O historiador disse, anos depois, que “nunca tentou diminuir as coisas que aconteceram na Rússia”, informou o jornal britânico Guardian.

“Mas, acreditava que um novo mundo estava nascendo em meio a sangue, lagrimas e horror: revolução, guerra civil e fome. Por conta do colapso do Ocidente, nós tínhamos a ilusão de que mesmo que brutal, o sistema funcionaria melhor do que o ocidental. Era isso ou nada”, contou o historiador.