Movimentos pressionam para que Equador não ceda aos transgênicos


Por Natasha Pitts
Da Adital


A Via Campesina Internacional, movimento que une trabalhadores/as agrícolas do mundo todo em defesa da agricultura sustentável em pequena escala como modo de promover a justiça social e a dignidade, fez, na última semana, um apelo ao presidente equatoriano Rafael Correa. Os integrantes da organização pedem que o mandatário não se renda aos transgênicos e que respeite as decisões tomadas pelo povo equatoriano.


Por Natasha Pitts
Da Adital

A Via Campesina Internacional, movimento que une trabalhadores/as agrícolas do mundo todo em defesa da agricultura sustentável em pequena escala como modo de promover a justiça social e a dignidade, fez, na última semana, um apelo ao presidente equatoriano Rafael Correa. Os integrantes da organização pedem que o mandatário não se renda aos transgênicos e que respeite as decisões tomadas pelo povo equatoriano.

Em carta para Correa, assinada por Henry Saragih, coordenador internacional da Via Campesina, em nome da Comissão Coordenadora Internacional da organização, os/as ativistas se dizem preocupados com as afirmações públicas dadas pelo mandatário sobre a necessidade de abrir o Equador para o cultivo e as sementes transgênicas.

Também foi repreendida e causou indignação a declaração feita pelo presidente que os cultivos transgênicos poderiam quadruplicar a produção. Com base em estudos científicos, a Via Campesina garante que as variedades transgênicas, na verdade, são menos produtivas que as variedades normais. “Seria de grande utilidade, para informar melhor o debate, se o senhor pudesse informar-nos das fontes que asseveram que os cultivos transgênicos poderiam quadruplicar a produção”, solicitaram, lembrando que os cultivos transgênicos não alimentam o povo, pois são mais frequentemente destinados à produção de agrocombustíveis.

“Os cultivos transgênicos não são resposta alguma aos problemas de pobreza que milhões de famílias e comunidades campesinas enfrentam no Equador e no resto do mundo. Pelo contrario: aumentam a dependência, nos expulsam da terra, nos deixam sem trabalho, depreciam o valor da produção e destroem as economias locais”, explicaram, deixando claro que o problema da alimentação pode ser resolvido com proteção, fortalecimento e expansão da agricultura campesina.

Na carta, também chamam atenção ao fato que mais de 80% dos cultivos transgênicos são resistentes a herbicidas, mas diferente dos cultivos normais, desenvolvidos pela agricultura campesina, não são resistentes ao frio, à seca ou a outras condições adversas. Esta característica dos cultivos transgênicos foi o que causou o incremento do uso desenfreado de herbicidas e outros pesticidas, deixando em países como Brasil – o maior consumidor mundial de agrotóxicos -, Argentina, Chile e Paraguai um rastro de danos como o aumento dos casos de câncer, de doenças graves de pele, malformações, aumento das taxas de aborto e intoxicações agudas.

Diante deste quadro, pedem que o presidente relembre suas promessas. “Apelamos aos compromissos assumidos pelo senhor ao inaugurar o V Congresso da Cloc, na cidade de Quito, Equador, em 12 de outubro de 2012, quando assegurou que no Equador não se necessita de uma reforma agrária, mas de uma revolução agrária, com uma radicalização em função dos mais pobres”, rememoraram.

Para além do que foi prometido por Rafael Correa, a Via Campesina acentua na carta que a nova Constituição equatoriana estabelece que ‘A soberania alimentar constitui um objeto estratégico e uma obrigação do Estado para garantir que as pessoas, comunidades, povos e nacionalidades, alcancem auto-suficiência de alimentos sãos e culturalmente apropriados de forma permanente’. Além disso, no artigo 401, se declara o Equador livre de cultivos e sementes transgênicas.

A Via Campesina reafirma a disposição para dialogar com Rafael Correa, mas antes disso pede que o mandatário respeite as decisões tomadas pela população a fim de que seja assegurada uma convivência digna, pacífica e democrática no país.