Movimentos sociais do campo unificam luta em Mato Grosso


Por Keka Werneck
Da Página do MST
 
Os movimentos sociais do campo de Mato Grosso estão reunidos em Várzea Grande nesta quinta e sexta-feira (30), no Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras, dos Povos do Campo, das Águas e das Florestas, para traçarem ações em comum, que fortaleçam e unifiquem a luta no campo.


Por Keka Werneck
Da Página do MST
 
Os movimentos sociais do campo de Mato Grosso estão reunidos em Várzea Grande nesta quinta e sexta-feira (30), no Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras, dos Povos do Campo, das Águas e das Florestas, para traçarem ações em comum, que fortaleçam e unifiquem a luta no campo.

As pautas estão sendo discutidas entre mais de 250 pessoas de todas as regiões do estado de 13 entidades, na chácara da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri).

A Fetagri está na coordenação do evento político, junto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Comissão Indigenista Missionário (CIMI), Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), índios e quilombolas.

Os participantes estão ligados de uma forma ou de outra às águas, à terra e à floresta. São populações que vivem essas questões na rotina do dia a dia.

Entre as pautas em comum estão a luta pela proteção das riquezas hídricas, a luta pela desconcentração da terra, a luta pela educação no campo e principalmente a luta pela terra e pelo território.

“O que queremos é o uso comum das águas, e não somos contra ninguém, mas o fato é que tem gente com muita terra e sobramos nós, sem nenhuma ou com muito pouca terra, e outra coisa é que educação no campo não é só a escola estar lá nas comunidades, a grade curricular tem que corresponder à nossa realidade rural. Porque o que acontece hoje é que o estudante está lá no campo, mas estudando sobre os problemas da cidade. Se a gente quer garantir a sucessão rural, então temos que mudar isso, porque tudo que o estudante vê hoje em dia na escola  é a valorização do urbano e precisamos construir a cidadania sim, mas também a camponia”, explica Neuzo Antônio de Oliveira, da Fetagri.
 
Unidade

Para o companheiro Genadir Vieira, o Axé, do MST, isso é muito importante para fortalecer o movimento camponês e o MST participa dessa unificação porque a reforma agrária é um dos pontos de convergência.  “Atualmente estamos falando de reforma agrária popular, que venha realmente do povo e também estamos lutando por assistência técnica, educação camponesa e a agroecologia, contra venenos agrícolas, para melhorar a alimentação da nossa população, são bandeiras nossas do dia a dia de luta”.

Axé destaca que só este ano foram realizadas em Brasília 14 mobilizações de grupos camponeses de grande porte, e isso não resultou em nenhuma conquista.

O encontro nacional unificado aconteceu em Brasília em agosto deste ano.

Os dirigentes das organizações apontaram que a importância da unidade também se dá por causa da ofensiva do capital no campo. Sob a hegemonia do capital financeiro e das empresas transnacionais está impondo um novo padrão de produção, exploração e espoliação da natureza: o agronegócio.

“O agronegócio construiu uma unidade, uma aliança do capital, aglutinando o capital financeiro, as corporações transnacionais, a mídia burguesa e os grandes proprietários de terra. E essa aliança representa hoje os inimigos comuns para toda a população que vive no meio rural, e que depende da agricultura, da natureza, da pesca, para sobreviver”, disseram os dirigentes.

Leia a Carta Manifesto na íntegra:

CARTA MANIFESTO.

ENCONTRO ESTADUAL UNITÁRIO DOS TRABALHADORES, TRABALHADORAS E POVOS DO CAMPO, DAS ÁGUAS E DAS FLORESTAS DE MATO GROSSO.

Nós, Trabalhadores e Trabalhadoras, Povos das Águas e das Florestas de Mato Grosso, presentes no Encontro Unitário realizado em Várzea Grande, nos dias 29 e 30 de novembro de 2012, debatemos e deliberamos pela construção e realização de um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, das águas, dos direitos territoriais, da dignidade e da produção de alimentos saudáveis.

Considerando nosso entendimento comum sobre:

– a ofensiva organizada do capitalismo em mercantilizar a vida, as florestas, o cerrado, o pantanal, a terra, a água, na lógica do lucro;

– o posicionamento conivente do governo com o modelo e os interesses econômicos e políticos do capital;

– a violência do Estado e da burguesia rural e urbana contra os movimentos sociais do campo, os povos das águas e das florestas, quilombolas e indígenas, por meio da repressão institucionalizada, psicológica e física, dos assassinatos, destruição dos instrumentos de trabalho e das moradias;

– a criminalização das lutas e dos movimentos sociais;

– o investimento público em construção de Rodovias, Hidrovias, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Usinas Hidrelétricas somente para atender aos interesses das empresas do agronegócio, do hidronegócio e das mineradoras.

Consideramos as consequências perversas do modelo capitalista:

– a concentração de terra, de financiamentos públicos e de poder nas mãos dos latifundiários;

– a paralisação do processo da reforma agrária e da demarcação das terras indígenas e quilombolas;

– o envenenamento da terra e das águas pelo uso intensivo de agrotóxicos;

– o trabalho escravo, a superexploração de trabalhadores e trabalhadoras, a destruição da fauna e flora específicas e cada bioma, a expulsão de ribeirinhos, indígenas, quilombolas de seus territórios;

– a negação da identidade do camponês, dos povos indígenas e quilombolas;

– a impunidade e a conivência com aqueles que matam, exploram, desempregam, escravizam, agridem, expulsam, envenenam, destroem o meio ambiente e a vida humana;

Diante destas perversidades, afirmamos:

– a reforma agrária que transforme esta realidade rural e urbana;

– a soberania dos povos da terra, das florestas e das águas;

– a soberania alimentar, para garantir a alimentação saudável e sem agrotóxicos para todas e todos;

– a construção de uma nova relação produtiva e econômica com a terra, as florestas e as águas na perspectiva agroecológica e sustentável;

– a garantia do acesso aos direitos sociais, políticos, humanos, culturais, ambientais e territoriais: saúde, educação, previdência, trabalho digno, liberdade de manifestação e organização, demarcação das terras indígenas e quilombolas;

– uma educação que humanize, emancipe e valorize as identidades específicas dos diferentes povos;

– uma verdadeira democratização dos meios de comunicação, que esteja a serviço dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras e povos do campo, das águas das florestas e da cidade;

– um Estado que dê prioridade aos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras e povos do campo e da cidade, das águas e das florestas;

Assim, nos comprometemos:

– A construir a Unidade com respeito às organizações, entidades, movimentos, pastorais e de seus membros, e suas especificidades;

– A denunciar que o capital é o inimigo de camponeses/as e povos e compreender a forma como ele se estrutura no campo;

– A valorizar a formação política e da identidade dos jovens, criando as condições necessárias para que eles permaneçam no campo;

– A construir e fortalecer relações de igualdade de gênero, faixa etária e orientação sexual;

– A solidarizar e apoiar aos povos e comunidades que são atingidos pela ofensiva do capital no Brasil, em outros países da América Latina e em países da África;

– A construir instrumentos de comunicação popular com a sociedade para qualificar a disputa do projeto popular;

– A aprofundar uma transformação sob uma nova relação com o meio ambiente, levando em conta os biomas do Pantanal, Cerrado e Amazônico que compõem nosso estado;

– A fortalecer e ampliar as experiências da agroecologia como matriz tecnológica para a produção de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos e a disputa com o modelo do agronegócio;

– A incentivar novas fontes de energia verdadeiramente limpas e renováveis que estejam a serviço e controle dos trabalhadores;

– A aprofundar o conhecimento sobre o que seja a emancipação dos Assentamentos e as possíveis conseqüências;

– A reafirmar a luta pela terra e territórios na perspectiva da alteração do poder e da afirmação das identidades e da produção cultural e da luta por direitos;

– A compreender o papel do Estado e dos Governos;

– A lutar para efetivar na prática o que afirmamos e assumimos coletivamente.

Várzea Grande-MT, 30 de novembro de 2012.

Entidades, movimentos e povos que assinam a presente:

MMC – Movimento das Mulheres Camponesas

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

FETAGRI – Federação Estadual de trabalhadores da Agricultura.

CPT – Comissão Pastoral da Terra

CIMI – Conselho Indigenista Missionário

MTA – Movimento dos Trabalhadores Acampados e Assentados

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

PJR – Pastoral da Juventude Rural

Sociedade Fé e vida – Cáceres

Comitê Popular do Rio Paraguai – Cáceres

Acampados do Araguaia

Quilombo Baixio – Município de Barra do Bugres

Quilombo Vila Bela – Vila Bela

Quilombo Cor Bela – Vila Bela

Quilombo Casa Vasco Manga -Vila Bela

CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Quilombolas

Povo Indígena Xavante de São Marcos – Barra do Garças

Povo Indígena Rikbaktsa – Brasnorte

Povo Indígena Canela – Santa Terezinha, Canabrava do Norte e Luciara

Povo Indígena Cinta Larga – Juína

Povo Indígena Bororo – Barra do Garças

Comunidade Bananal – Rondonópolis.

ORAM – Associação Rural de Ajuda Mutua – Moçambique

Entidades apoiadoras:

FDHT – Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso

Associação Fé e Vida

CBFJ – Centro Burnier Fé e Justiça

FASE – Federação das Associações de Assistência Educacional

FORMAD- Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento

IOV – Instituto Ouro Verde

CJ – Coletivo Jovem

RECID – Rede Cidadã de educação Popular

ICARACOL – Instituto Caracol

REMTEA – Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso