Desapropriação de reserva indígena no MT escancara a violência do latifúndio


Da página do MST

Desde o início dessa semana, a desapropriação das fazendas ocupadas de forma ilegal na área indígena de Marãiwatsédé começou a ser executada. Os despejos ocorrem pelo fato da área ser uma reserva indígena destinada à tribo Xavante.

Os posseiros e fazendeiros que serão despejados agravam a tensão na região, criando conflitos com as forças de segurança que exercem a desapropriação e ameaçando figuras históricas na defesa dos direitos indígenas, como o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga.

Da página do MST

Desde o início dessa semana, a desapropriação das fazendas ocupadas de forma ilegal na área indígena de Marãiwatsédé começou a ser executada. Os despejos ocorrem pelo fato da área ser uma reserva indígena destinada à tribo Xavante.

Os posseiros e fazendeiros que serão despejados agravam a tensão na região, criando conflitos com as forças de segurança que exercem a desapropriação e ameaçando figuras históricas na defesa dos direitos indígenas, como o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga.

Os Xavante lutam há mais de 40 anos para conseguir voltar de fato a sua terra de direito e viver em paz. Dos 165 mil hectares da reserva, os 800 Xavantes não ocupam nem 10% do total, situando-se em apeas uma aldeia, e mesmo assim sempre sofreram constantes ameaças físicas para que saíssem da área.

Os indígenas foram removidos de suas terras na década de 60, com apoio do regime militar para que empresas agropecuárias pudessem se estabelecer na área. Em 1992, a empresa Suiá Missu, por conta da pressão internacional da Eco-92, se desfez das terras. Neste momento, políticos e latifundiários, apoiado pelo estado do Mato Grosso, fizeram forte campanha para a ocupação da área indígena por não índios, incitando uma grande quantidade de pequenos produtores e posseiros a ocuparem a área, para encobrir a ação dos grandes latifundiários.

De acordo com levantamento do Ministério Público Federal (MPF), grande parte das áreas do povo Xavante está nas mãos de apenas 22 posseiros. Prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, empresários e um desembargador são donos de 32 fazendas na região, o equivalente a 44,6 mil hectares da área.

Pequenos proprietários

Em carta divulgada sobre a situação da área pelo bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Adriano Ciocca, é preciso dar assistência aos posseiros de baixa renda que vão perder sua terra. “Sabemos que está havendo muito sofrimento, sobretudo, dos mais pobres, por causa desta retirada determinada pela justiça. Lamentamos que pessoas humildes tenham se deixado levar pelas promessas de políticos e demais pessoas interessadas apenas em tirar proveito desta terra historicamente pertencente ao povo Xavante e que estão acostumadas a usar o povo para garantir os seus interesses”, disse.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) assegurou que os pequenos produtores serão incluídos no cadastro da Reforma Agrária. O bispo Ciocca argumenta que a entidade religiosa apoiará quem tem o direito à um pedaço de terra e irá pressionar para o cumprimento deste direito, mas que a ocupação teria esse fim para os não indígenas. “Queremos lembrar que nós, bispos e agentes de pastoral, desde o início desta ocupação alertamos e sempre continuamos alertando para a possibilidade do atual desfecho por se tratar de terras cujo direito é garantido ao povo Xavante pela Constituição Federal de nosso país.”

Ameaças a Dom Pedro Casaldáliga

O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga é um histórico defensor do direito dos Xavante a ocuparem suas terras, e que posseiros e sem terra também possam obter um lote legal. Há mais de três meses, Dom Pedro vem recebendo ameaças de sequestro e morte, que se tornaram públicas nesta semana. Para garantir sua segurança, o bispo foi movido de sua residência para um lugar mais seguro, até o fim das desapropriações.

De acordo com carta de solidariedade a Dom Pedro, assinada por entidades como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), “O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.” Quando a perseguição a sua figura começou, Dom Pedro escreveu o poema abaixo, no qual afirma que “morrerá de pé com as árvores”:

MORREREI DE PE COM AS ARVORES

Eu morrerei de pé como as árvores.
Me matarão de pé.
O sol, como testemunha maior, porá seu lacre
sobre meu corpo duplamente ungido.

E os rios e o mar
serão caminho
de todos meus desejos,
enquanto a selva amada sacudirá, de júbilo, suas cúpulas.

Eu direi a minhas palavras:
– Não mentia ao gritar-vos.
Deus dirá a meus amigos:
– Certifico
que viveu com vocês esperando este dia.

De golpe, com a morte,
minha vida se fará verdade.
Por fim terei amado!