Território brasileiro está à disposição do capital estrangeiro, afirma especialista

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

O engenheiro agrônomo, cientista social e membro do conselho da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), Horácio Martins, esteve presente nesta quinta-feira (27) no seminário A Questão Agrária no Brasil, que está sendo realizado na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). Em sua fala, ele analisou a forma como o capital exerce domínio na agricultura brasileira.

Segundo Horácio, atualmente há um processo de desnacionalização do campo brasileiro, decorrente da ação do capital financeiro internacional para dominar e utilizar os recursos naturais do país.

“Nosso território está à disposição para o capital estrangeiro, que se apropria dos recursos naturais. A hegemonia do capital financeiro tem o aval da burguesia agrária brasileira e do Estado, ambos entreguistas.”

As terras e demais recursos naturais são explorados de forma frenética no mundo inteiro pelo capital estrangeiro, mas especialmente na América Latina. Nesse cenário, a Reforma Agrária é um empecilho político a esse processo, e o campesinato, um empecilho social.

Essa subordinação ao capital financeiro faz com que o Brasil se contente com o papel de exportador de matérias primas para o exterior. “A desindustrialização da economia, que se primariza mais e mais, derrubou nossa produção industrial. Em 1980, a participação da indústria na economia era de 38%; hoje, é de 15%”, afirma Horácio.

O controle das empresas não se estende apenas às terras. Dez empresas no mundo controlam o mercado de insumos, e no Brasil, nove controlam o mercado agropecuário. Em 2009/2010, de acordo com Horácio, elas obtiveram 67% do lucro de toda a produção agropecuária brasileira.

A distribuição dos alimentos também está na mão de poucas empresas: Wall Mart, Carrefour e Pão de Açúcar controlam a distribuição de 50% dos alimentos em todo país.

Reforma Agrária

De acordo com Horácio, a pauta da Reforma Agrária está relegada ao segundo plano, pois realizá-la seria fortalecer o campesinato e isto é o oposto do processo de desnacionalização do campo brasileiro.

“Os povos originários e camponeses têm seus direitos de ser e de participar da vida política do país negado. Para o capital financeiro e grandes empresas, pessoas e a natureza não passam de mercadorias”, observa.

Há também um processo para naturalizar esse modelo excludente no campo brasileiro. Para o engenheiro agrônomo, o resultado disso é que o agronegócio se tornou a referência de produção rural no Brasil, pautando em grande medida as políticas públicas destinadas à agricultura familiar.

Para Horácio, esse processo ocorre de forma cada vez mais intensa no campo, sem que haja uma resistência expressiva dos setores populares. “A oposição feita por partidos e movimentos sociais a este modelo é tímida e insípida”, conclui.