MST e universidades desenvolvem projeto de saúde no campo


Por Ramiro Olivier
Da Página do MST

Os Sem Terra do Assentamento Jaboatãozinho, município de Moreno (42 km de Recife), realizaram neste último sábado (27) o encerramento do projeto Experiência de Saúde no Campo.

“Compreender, analisar e refletir sobre o processo saúde-doença dos trabalhadores e trabalhadoras para atuar sob uma perspectiva transformadora da sociedade”. Esse é o objetivo do projeto, desenvolvido por residentes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/ FIOCRUZ – PE, em parceria com o Coletivo Estadual de Saúde do MST.

“Além de estudarmos na cidade, a própria universidade tem o seu foco na saúde urbana. Com isso, sentimos a necessidade de entender a saúde e o modo de vida de quem vive no campo. Porém, é preciso ir além e identificar os principais problemas de saúde dos trabalhadores e trabalhadoras do Assentamento Jaboatãozinho”, comenta a residente Marina Fenicio.

Com 94 famílias assentadas, o Assentamento Jaboatãozinho conta com uma população de aproximadamente 650 pessoas entre crianças e adultos. Mas apesar da proximidade com a capital, o acesso às políticas e aos serviços públicos é bastante defasado.

Os principais problemas identificados pelos residentes dizem respeito exatamente à falta de acesso às políticas e serviços de saúde. Há apenas um agente comunitário de saúde para atender todas as famílias do assentamento, e a unidade da saúde da família mais próxima se encontra há 4 quilômetros de distância, no Engenho Massaranduba.

Leia mais:
“Medicina cubana ensina a atender o povo com qualidade e humanismo”, afirma militante


A escola, por exemplo, que atende somente uma turma de séries iniciais do ensino fundamental, conta com poucos recursos e precárias condições, não tendo infraestrutura de saúde, saneamento ou abastecimento de água, apesar da estação de tratamento de água, responsável por abastecer o distrito de Bonança, ficar a apenas 100 metros da escola.

“O que vemos é uma total falta de compromisso do governo municipal, que tem uma rede de serviços praticamente inexistente e de difícil acesso ao Assentamento”, afirma Lenna Menezes, do Coletivo Estadual de Saúde do MST.

Os residentes identificaram ainda que as principais doenças que afetam as famílias assentadas são aquelas mais comuns em áreas pobres e remotas, onde o acesso a cuidados médicos e a medicamentos a preços acessíveis são limitados, como leishmaniose, filariose e esquistossomose.

Hortas medicinais

A partir do estudo feito pelos residentes, surgiu uma demanda dos próprios assentados em desenvolver hortas medicinais para suprir algumas necessidades em relação à saúde do Assentamento.

Nesse sentido, o médico e especialista em fitoterapia, Dr. Celerino Carriconde, do Centro Nordestino de Medicina Popular, ministrou uma oficina de Hortas Medicinais. Carriconde ressaltou a importância das práticas alternativas de saúde para o tratamento de vários tipos de doenças, e orientou os assentados a usarem mais o conhecimento popular sobre a utilização das ervas medicinais, que ao longo da história vêm sendo substituído por remédios químicos.

O próximo passo do projeto foi a implantação de duas hortas medicinais coletivas para atender o assentamento Jaboatãozinho. O projeto conta com profissionais de várias áreas: médicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes social, fisioterapeuta, odontóloga e psicólogos.