Loja da Reforma Agrária comercializa produtos sem agrotóxicos no RS

Por Marco Weissheimer
Do Sul21


Até bem pouco tempo, a imagem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aos olhos de boa parte da população, era sinônimo de acampamentos em beira de estrada, ocupações de fazendas e marchas pelas estradas e cidades em defesa da Reforma Agrária.

Por Marco Weissheimer
Do Sul21

Até bem pouco tempo, a imagem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aos olhos de boa parte da população, era sinônimo de acampamentos em beira de estrada, ocupações de fazendas e marchas pelas estradas e cidades em defesa da Reforma Agrária.

A agenda e as lutas do movimento estão longe do fim, mas o MST já é conhecido hoje também pelos produtos dos assentamentos de Reforma Agrária que oferecem, em sua maioria, produtos de um tipo específico que vem sendo cada vez mais procurados: alimentos orgânicos, sem agrotóxicos e livres de transgênicos.

Hoje, os agricultores do MST tem uma pauta de produção diversificada: arroz ecológico (sem agrotóxico), ovos (de galinhas criadas soltas e alimentadas com ração orgânica), frango caipira (sem qualquer tipo de hormônio), hortaliças, laranja, bergamota, banana, inhame, bergamota, leite em pó, iogurte.

O arroz é um dos principais produtos dessa economia dos assentamentos. A Cooperativa Regional de Assentados (Cootap), que reúne 418 famílias em 3.800 hectares, produziu, na safra 2011/2012, cerca de 40 mil sacas de arroz ecológico (a maior produção de arroz ecológico do Brasil).

“Tudo produto de assentamentos”

Morador do assentamento Integração Gaúcha, de Eldorado do Sul, Leandro Kohls trabalha na Loja da Reforma Agrária, localizada no Mercado Público de Porto Alegre desde 2002. Ele conta que chegou a haver mais uma loja, situada na Avenida Farrapos, mas hoje só há a do Mercado Público.

Mas essa única loja, que vende produtos da Reforma Agrária e da agricultura familiar, já se tornou uma referência na capital gaúcha para quem busca alimentos orgânicos, sem uso de agrotóxico e sem transgênicos. “Os principais produtos que vendemos aqui são o arroz produzido nos assentamentos, hortaliças, verduras e frutas que vem de Eldorado do Sul, Nova Santa Rita e de Três Cachoeiras. De Três Cachoeiras vem banana, inhame, gengibre, bergamota. De Montenegro também vem bergamota e laranja. Tudo produto de assentamentos”.

“Temos leite em pó também, que é coletado nos assentamentos. E vinho que é produzido pela agricultura familiar, por parceiros ligados ao movimento. Temos o vinho da Marson, os sucos da Monte Vêneto e da Novo Citrus, por exemplo.

A Coopervita, que produz frango caipira, geleias e doces ecológicos, também é filiada ao movimento”, relata Leandro Kohls, exibindo os diferentes produtos vendidos nas prateleiras da loja que resistiu ao incêndio que destruiu recentemente boa parte da área superior do Mercado Público. Há outros lugares onde é possível encontrar esses produtos em Porto Alegre, mas não muitos. A rede de comercialização ainda é restrita. Há a Feira de Produtos Ecológicos da José Bonifácio, por exemplo, nos sábados pela manhã, no Parque da Redenção.

“Cada região tem a sua variedade”

“Alguns dos nossos fornecedores expõem lá”, relata o jovem agricultor. “E há pessoas que compram aqui e vendem lá. No Campus Central da UFRGS há uma loja também que vende produtos que temos aqui, só que com menor variedade”. A maior parte dos produtos vendidos na loja vem de assentamentos localizados na Região Metropolitana de Porto Alegre ou perto dele. Há razões logísticas para isso.

“Cada região tem a sua variedade. Aqui produzimos bastante arroz. Mais para o norte do Estado é soja, em outros lugares é feijão. Até teríamos uma variedade maior de produtos para vendermos aqui, mas não conseguimos trazer pelo custo. Há empresas como a Ecobio e a Vale Ecológico que compram dos assentamentos, colocando a sua marca e conseguindo trazer um volume muito maior de produtos”, diz Leandro.

“As pessoas querem produtos orgânicos”

Ele fala do perfil dos consumidores que frequentam a Loja da Reforma Agrária: “O pessoal não vem aqui procurando produtos de assentamento. Eles procuram produtos orgânicos, naturais, integrais, sem agrotóxicos. Esse é o foco. Aqui não tem nada com transgênico nem nada com veneno. No nosso alvará está escrito que é proibida a venda de produtos transgênicos. Não é qualquer produto que posso vender por aqui”.

Mas isso, ao invés de ser um problema, é uma vantagem competitiva para o estabelecimento, único na capital gaúcha. Com um mercado em expansão pela procura cada vez maior de produtos livres de venenos, lojas como a da Reforma Agrária transformaram-se em sinônimo de qualidade de vida.