Estado brasileiro pede desculpas aos perseguidos do Encruzilhada Natalino

Da Página do MST


A 85ª Caravana da Anistia realizou um ato de reconhecimento e homenagem à luta dos trabalhadores do Acampamento Encruzilhada Natalino, no município de Ronda Alta (RS), e pediu desculpas públicas devido à perseguição sofrida pelos camponeses durante a ditadura militar.

Da Página do MST

A 85ª Caravana da Anistia realizou um ato de reconhecimento e homenagem à luta dos trabalhadores do Acampamento Encruzilhada Natalino, no município de Ronda Alta (RS), e pediu desculpas públicas devido à perseguição sofrida pelos camponeses durante a ditadura militar.

O ato público, que aconteceu na última sexta-feira (13), reuniu mais de 1.000 pessoas, entre autoridades do estado, trabalhadores Sem Terra e comunidade local, no salão paroquial do município.

A Caravana da Anistia percorre o Brasil na intenção de pedir desculpas publicamente pelos crimes cometidos pela ditadura militar contra os perseguidos e torturados. Em Ronda Alta, a Caravana se remeteu de forma especial aos agricultores e agricultoras sem terra que lutaram pela Reforma Agrária no início dos anos de 1980 na região.

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, ressaltou a importância da iniciativa do Ministério da Justiça, em analisar, julgar e reparar os atos da ditadura militar que prejudicaram o povo brasileiro, entre eles os camponeses Sem Terra do Encruzilhada Natalino.

Stedile lembrou que a região Norte do Rio Grande do Sul é palco de importantes lutas pela terra e pela Reforma Agrária desde a década de 1950, que se caracterizaram como luta de classe entre o povo e o latifundiários.

“A origem disso é que nessa região havia um grande latifúndio chamado Sarandi, de propriedade de um Uruguaio. Em função disso surgem as primeiras lutas na região, que deram origem ao Master (Movimento dos Agricultores Sem Terra), a primeira Lei de Reforma Agrária no país, criada pelo Instituto Gaucho em 1958 e as primeiras desapropriações de terras feitas pelo governador Leonel Brizola”, explicou.

Coordenada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a atividade homenageou os acampados da Encruzilhada Natalino e julgou os requerimentos de anistia do Padre Arnildo Fritzen, Angelin Antônio Campigotto, Zolmir Antônio Calegari, Inês Calegari, Ivete Vieira, Maria Salete Campigotto e Miguel Gonçalves Vieira, os quais foram acampados e protagonistas na luta pela terra e contra a ditadura do acampamento, entre o período de 1980 e 1983. Na ocasião também foi inaugurado um monumento para relembrar ao acampamento.

Pe. Arnildo, pároco de Ronda Alta quando os agricultores iniciaram as principais mobilizações para a conquista da terra, se tornou um exemplo na região para os movimentos que ainda aguardam pela Reforma Agrária, especialmente pelo testemunho de resistência, coragem e apoio ao povo Sem Terra.

A sessão contou com a participação de diversas autoridades, entre elas o prefeito de Ronda Alta, Miguel Ângelo Gasparetto (PT), e o arcebispo de Passo Fundo, Dom Antonio Carlos Altieri.

Na ocasião, o prefeito ressaltou a importância da memória histórica em Ronda Alta e o significado da presença de Pe. Arnildo na luta. “Quis a providência divina que ao baterem na porta de uma Igreja, fossem acolhidos por alguém que jurou servir a Deus, no cuidado com os outros”, afirmou Miguel Ângelo. 

Já Dom Altieri realçou que “a Igreja sente as alegrias e angústias de seu povo”, motivando que o amor seja o grande continuador da continuidade desta caminhada. O arcebispo também alertou que a repressão ainda é encontrada em muitos espaços atuais da sociedade.

A homenagem realizada pela 85ª Caravana da Anistia reafirmou o desejo de dar voz aos camponeses que a repressão tentou calar, reconhecendo a coragem empenhada em enfrentar o regime militar na luta pela garantia de direitos, como o direito à terra e a Reforma Agrária.

A história 

Após o início da ditadura, os militares começaram a perseguir os camponeses que lutavam pela terra na região. Com o apoio da Igreja Católica de Ronda Alta, na figura do padre Arnildo Fritzen, entre 1980 e 1983, organizaram um acampamento com cerca de 630 camponeses na Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta. 

De 30 de julho a 31 de agosto, o acampamento foi decretado área de segurança nacional, sofrendo intervenção militar comandada pelo Coronel Curió (Leia mais sobre a história do Acampamento Encruzilhada Natalino).


*Com informações da Arquidiocese de Passo Fundo