Voem queridas, voem. Somos muitos que te agradecem


Da Página do MST

Nos últimos dias, o MST perdeu duas grandes militantes históricas da organização: Dona Ilda e Cidona.


Após dois anos de luta contra um câncer, Dona Ilda faleceu neste sábado (28), aos 65 anos de idade.


Assentada em Itapeva (SP), Dona Ilda entrou de fato no MST em 1985, mas desde o começo do Movimento já atuava ao lado dos Sem Terra, realizando trabalho de base na grande São Paulo com pessoas pobres.

Da Página do MST

Nos últimos dias, o MST perdeu duas grandes militantes históricas da organização: Dona Ilda e Cidona.

Após dois anos de luta contra um câncer, Dona Ilda faleceu neste sábado (28), aos 65 anos de idade.

Assentada em Itapeva (SP), Dona Ilda entrou de fato no MST em 1985, mas desde o começo do Movimento já atuava ao lado dos Sem Terra, realizando trabalho de base na grande São Paulo com pessoas pobres.

Há 20 anos se mudou para Itapeva, onde ficou acampada na ocupação que deu origem ao assentamento Fazenda Pirituba, onde foi assentada. Foi dirigente do setor de Frente de Massas do MST em São Paulo e teve cinco filhos, todos assentados e ligados ao MST.

Para Sebastião Aranha, militante do MST e genro de Dona Ilda, “a contribuição dela foi muito importante, porque o trabalho dela trouxe muita gente perdida até o MST, principalmente a população de rua, e hoje essas pessoas estão assentadas e trabalhando no campo. A Frente de Massas do MST perde muito com a morte dela”. 

Quando perguntado como ela era como pessoa, Aranha afirma: “Uma mãe”.

Luta, esperança, alegria e combatividade

Na última sexta-feira (27), foi o MST de Minas Gerais quem perdeu uma de suas lideranças, a Cidona. Moradora do assentamento Franco Duarte, no Vale do Jequitinhonha, Cidona ficou acampada anos na BR 367, mas não parou de lutar pela Reforma Agrária e pelo feminismo depois de assentada. Sempre ativa nas reuniões e manifestações, Cidona animava a luta com esperança, alegria e combatividade (leia mais aqui).

Ela morreu depois de passar mal durante uma festa de casamento, onde dançou e se divertiu. Foi levada ao hospital, mas não resistiu. Ainda não se sabe ao certo a causa da morte, mas pessoas próximas acreditam que ela sofreu um infarto.

Cidona era uma das lideranças sempre presente em diversos movimentos sociais do Vale: nas reuniões da Cáritas Diocesana de Almenara; nos Fóruns da Mulher do Jequitinhonha; nas atividades de formação política dos trabalhadores; na luta pela água na ASA Articulação do Semi-Árido; nos movimentos contra o Mineroduto das multinacionais do minério de ferro; no bloqueio da BR 367 em manifestação contra morte de trabalhadores; na exigência de punição dos assassinos da Chacina de Felisburgo; nos debates dos Seminários Visões do Vale, da UFMG; no apoio à ocupação de Moradia Estudantil dos estudantes da UFVJM, em Diamantina. 

Cidona era notada por todos e todas quando falava, dançava e cantava em qualquer reunião ou concentração de trabalhadores em luta. Ou quando cobrava decisões políticas de qualquer gestor público, com a mesma firmeza e altivez. Fosse quem fosse a autoridade competente. Nos encontros ela sempre puxava e comandava os gritos, cantos e danças: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com formiga não assanha o formigueiro”, dizendo que somente com a união de homens e mulheres teríamos uma terra de igualdade, fraternidade e libertação de todas as amarras da vida. E chamava a juventude:”Juventude que ousa lutar, transforma e conquista o poder popular”, em reunião e encontros de formação política e da cidadania.

Quem conheceu e conviveu com Cidona sentiu a sensibilidade, a força, a inteligência e a coragem de uma grande mulher, de uma grande figura humana, em todos os sentidos. Ela era imensa e ficava ainda maior quando falava, gesticulando. Parecia que o coração dela ainda era maior que a sua anatomia, querendo pular pra fora do seu corpo, se espalhar pelo Vale, pelo Brasil, pelo mundo. 

Sua história de luta sempre será nosso guia, nossa glória, guerreira de todos nós!  

Abaixo, confira o poema de Débora Del Guerra, da Marcha Mundial das Mulheres, em homenagem a Cidona. 

 

Voa querida, voa. E no que pudermos, viva!

 
A vida é sopro. Como saber do último?
Nós duas acocoradas ao pé do borralho, saia arribada pro agachamento durar o tempo da prosa, larga.
Eu, ria das tuas perguntas. Tu, das minhas respostas. e vice-versa.
Igualmente diferentes. Diferentemente iguais. sonoridade, talvez tenha essa textura.
houvesse adélia te conhecido, seria outro o poema. a palavra esbelto não faria sentido, tão pouco ser pesado o cargo de carregar bandeira. “pesada é a vida com a barriga enconstada no fogão”. [sobre meu lombo, eu mesma escolho]

pesada Cidona, seria a luta, sem tua alegria.
dançar, sem tua voz. acordar, sem tua poesia. marchar, sem teu ânimo.
o cotidiano, sem tua toda disposição. o feminismo, sem tua síntese. 

“a mulher largou o fogão pra fazer revolução”. 
nem preciso fechar os olhos pra te ouvir. choro.

[que ninguém que não viva com as latas d’agua na cabeça, no corte de lenha pro mexido do dia e família no lombo, se atreva a chama-la de ultrapassada e panfletária]
pesado querida, seria ser mulher sem ter andado por esse vales contigo, sem ter vivido a idéia radical de defendermos juntas que nós mulheres somos gente, agindo. tão simples quanto isso – feminismo.
por tudo, agora é tão pesada tua falta. pesado saber ser resultado do trabalho e da vida, maldito perfil epidemiológico da gente nossa, que tudo dá para altera-lo e nada recebe em vida.
houvesse adélia te conhecido, concluiria:
Mulher é indobrável. Tu és.

que o peso não nos dobre, e se dobrar, que não nos quebre.

Obrigada, nega. Somos muitas a te agradecer. 
Amor e luta enquanto houver vida.
Voa querida, voa. E no que pudermos, viva!
 
Débora Antoniazi Del Guerra
da Marcha Mundial das Mulheres