Em crise, setor canavieiro lucra com o processo especulativo



Por Maura Silva
Da Página do MST


A tensão no setor canavieiro se arrasta desde 2008, ano da última grande crise econômica internacional, e é tida por alguns especialistas como a pior dos últimos 40 anos.

Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que pelo menos 44 usinas fecharam as portas na região Centro-Sul do país por falta de investimentos.

No Brasil, a expansão da agroindústria canavieira sempre dependeu de investimentos feitos pelo Branco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Por Maura Silva
Da Página do MST

A tensão no setor canavieiro se arrasta desde 2008, ano da última grande crise econômica internacional, e é tida por alguns especialistas como a pior dos últimos 40 anos.

Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) apontam que pelo menos 44 usinas fecharam as portas na região Centro-Sul do país por falta de investimentos.

No Brasil, a expansão da agroindústria canavieira sempre dependeu de investimentos feitos pelo Branco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em 2010, os empréstimos chegaram a soma dos R$7,4 bilhões para o setor. Recentemente, o governo anunciou que poderia expandir a demanda no mercado interno de 20% para 25%, numa tentativa de conter o avanço da crise.

Segundo Maria Luisa Mendonça, autora do artigo “A agroindústria canavieira e a crise econômica mundial”, desde meados de 2009 o que vem acontecendo é a fusão de usinas nacionais de pequeno e médio porte, que passaram por um período de falência.
As empresas estrangeiras não se concentram no controle direto das terras, elas se fundem à estrutura já montada para lucrar com a possibilidade de crédito, o que aumenta as dificuldades do setor.

“A fusão acontece. Para que as usinas se mantenham em processo ativo, elas dependem de crédito, que ficaram mais escassos pós 2008. Para burlar essa estrutura, essas usinas falidas mudam de razão social e viabilizam outros créditos. Isso gera um acumulo de dívidas, uma verdadeira bola de neve”, diz.

Para Maria Luisa, o princípio do agronegócio é o acesso ao crédito. As crises econômicas geram escassez no mercado internacional, mas, ao mesmo, tempo fazem com que o capital estrangeiro migre para o mercado da terra dos países em desenvolvimento.

“O sentido não é o aumento de produtividade, ele é especulativo. As falências e a queda de produtividade continuam acontecendo. As empresas têm investido cada vez mais na mecanização, em máquinas, insumos químicos e investimentos para manter o nível de produtividade. É um processo que se retroalimenta. Além disso, houve um aumento nas demissões dos trabalhadores braçais, o que não é positivo, pois contribui com o êxodo rural e desestabiliza a econômica local”, salienta.

Ainda segundo a autora, a busca por competitividade no mercado mundial faz com que a agroindústria da cana, assim como todo o agronegócio brasileiro, assuma constantes dívidas para manter níveis aceitáveis de produtividade.

A expansão territorial expressa a necessidade das usinas aumentarem seus ativos para conseguir maiores montantes de empréstimos financeiros. Portanto, seu principal “produto” é uma enorme dívida econômica, social e ambiental.
       
“Existem dois movimentos, o aumento da extensão do agronegócio, o acesso a solos mais férteis, fontes hidrográficas. Só que ao mesmo tempo, isso aumenta a dependência do dinheiro.

Atualmente nem as fusões estão acontecendo mais, as empresas estão simplesmente falindo. O que tem sido visto recentemente é a atuação dos fundos de investimentos que tem um caráter especulativo”, finaliza.