O Sem Terra mais velho do país

Do Brasil de Fato


“O Sem Terra mais velho do país”. É assim que algumas pessoas identificam Seu Luiz Beltrame, lutador e poeta que completou 106 anos no último dia 10 de outubro. Símbolo da luta pela terra, Seu Luiz já participou de diversas marchas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ainda hoje, mesmo com dificuldades de locomoção por conta da idade, fica bravo quando não o convidam para as atividades.

Do Brasil de Fato

“O Sem Terra mais velho do país”. É assim que algumas pessoas identificam Seu Luiz Beltrame, lutador e poeta que completou 106 anos no último dia 10 de outubro. Símbolo da luta pela terra, Seu Luiz já participou de diversas marchas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ainda hoje, mesmo com dificuldades de locomoção por conta da idade, fica bravo quando não o convidam para as atividades.

Baiano, de Paramirim, SeuLuiz tem oito filhos (dois já falecidos), 47 netos, 75 bisnetos e 20 tataranetos. Seu nome vem de uma homenagem a Santo Beltrão, uma vez que “em sua família já havia um Luiz e era preciso diferenciar”, esclareceu.

Como muitos nordestinos, veio da Bahia para São Paulo em busca de trabalho e acabou ficando nas lavouras de cana-de-açúcar. Atualmente vive em Coroados, interior do Estado com uma das filhas. Na cidade, mora boa parte de sua família.

Não chegou a frequentar escola, “mas aprendeu ler e escrever aos 14 anos a partir de ensinamentos de seu pai”, conta Camila Bonassa, integrante do Setor de Comunicação do MST-SP e que ajudou na publicação dos livros do Seu Luiz. Desde então usa a caneta e o caderno para anotar seus poemas, coisa que não fazia antes, “tendo que decorar cada uma das composições de poesias e músicas que fazia para animar bailes”, finaliza Camila.

Assim, em versos, passa narrar sua história de vida, que apresenta ao mundo através da publicação de dois livros que reúnem boa parte de sua produção. O primeiro, “Sonho com a Terra”, foi publicado de forma independente e o segundo, “Sonho com a Vida”, pela Editora Expressão Popular, ambos produzidos pelo MST.

Recentemente, o militante-artista foi protagonista do curta metragem “Luiz Poeta”, que segundo seus diretores Bruno Benedetti, Fábio Eitelberg, Patrick Torres, Pedro Biava e Rafael Stedile, nada mais é que o retrato de uma visita realizada em 2011 ao Seu Luiz e que rendeu muitas histórias.

Comemoração

No último dia 11 de outubro, as comemorações tomaram conta do salão de festas alugado pela família do Seu Luiz, no município de Coroados, interior de São Paulo. Depois da missa, um cortejo levou os cerca de 200 convidados, entre familiares, amigos e companheiros de luta, para assistirem as homenagens feitas ao artista-militante pelos integrantes do MST do Estado de São Paulo. Animado e sempre disposto seu Luiz acompanhou toda preparação e realização da festa.

Entre várias poesias escritas por Seu Luiz destaca-se “Injustiça”, escrita em 1980 e publicada no livro “Sonho com a Terra”, de 2002.

INJUSTIÇA

Por Luiz Beltrame, 1980

Eu fico surpreso e penso,

Que neste Brasil imenso

Sempre olho para lá

Vejo a bela natureza,

Vejo a grande riqueza

Da Serra do Carajás

O tucano bica a gente

Fica e pega a cuíca

Escuto alguém falar

E me mata de tristeza

Que não convém a riqueza

Da Serra do Carajás

Não é preciso pressa,

Nem muita conversa

A maneira é esta

E eu vou explicar

Pois o nosso tesouro é

A prata, o diamante e o ouro

Eu acho um desaforo

Ver o americano levar

Eu topo qualquer parada

Até não falo mais nada

Porque a Serra Pelada

É nossa Serra Vestida

Pois tem a riqueza,

Fruto da natureza

Com uma grande beleza

Da nossa Pátria querida

Estou velho e não agüento

Com sentimento escrever

Mesmo assim estou escrevendo,

Com os olhos estou vendo

Pois eu estou percebendo

Minha lágrima descer

A lágrima desce por tudo

O que eu vejo acontecer