Jornada em Defesa da Reforma Agrária aproxima academia da luta pela terra

Ao longo de todo o mês de abril dezenas de universidades realizam atividades em torno da questão agrária.

Por Maura Silva
Da Página do MST

Ao longo do mês de abril, dezenas de universidades públicas de todo país realizam a 2° Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária. Na sua primeira edição, em abril de 2014, 57 instituições de ensino superior, entre campus, institutos e universidades brasileiras desenvolveram atividades em torno da jornada.

Encontros, debates, palestras, exibições de teatro, filmes e feiras com produtos da Reforma Agrária serão apenas algumas das programações previstas para este mês (Abaixo, confira algumas das instituições com atividades já programadas).

O objetivo da jornada é levar o debate da Reforma Agrária e a luta do campo para o cotidiano das universidades e, assim, abrir um canal de diálogo e formação com os estudantes.

Segundo Rosana Fernandes, da coordenação política pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), nas últimas décadas o debate sobre a questão agrária tem sido deixado de lado nas escolas e universidades do país.

Por isso, foi desenvolvida a jornada universitária, criada a partir de uma articulação com professores que apoiam a questão e querem, por diversas maneiras, debater a temática no meio acadêmico.

“Para isso contamos com formas diversas, desde seminários, ciclos de debates, projeções de filmes, feiras de alimentos saudáveis. Dessa maneira, o nosso objetivo é sensibilizar a comunidade acadêmica para a questão, e conquistar apoio de professores e estudantes com a luta desenvolvida pelos movimentos sociais do campo”, disse Rosana.

Segundo a professora doutora titular da Faculdade de Educação (Faced) e do grupo Universidade Federal da Bahia, Celi Zulke Taffarel, é importante “ocupar o latifúndio do conhecimento nas universidades e tencionar para que a direção da formação humana leve em conta as questões agrícolas e agrárias”.

Para ela, esta questão não diz respeito somente ao campo, mas, também à população urbana. “Se o campo não planta e cidade não janta. Estas palavras de ordem nos mostram a dicotomia que interessa somente ao capital. Por isto, temos que lutar para unificar a luta da cidade e do campo”, acredita.

Já Fernandes relembra que abril também é o mês em que acontecem com maior intensidade as lutas pela terra e pela Reforma Agrária, com a jornada de lutas do MST, ao rememorar o Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 Sem Terra foram brutalmente assassinados no Pará, no dia 17 de abril de 1996.

Fernandes sustenta, portanto, que atrelar as lutas do campo com a inserção nas universidades é fundamental para que a realidade dos problemas sociais brasileiros possam ser conhecidos pelos estudantes.

MST e a universidade

Atualmente, o MST tem mais de 3 mil militantes presentes nas universidades. Mais de 5 mil já se formaram em cursos universitários e de especialização, e cerca de mil professores realizam um trabalho próximo ao Movimento.

Essa inserção acontece via cursos de graduações e pós, que são desenvolvidos em parcerias com várias instituições públicas. As turmas possibilitam a apresentação de questões específicas do campo brasileiro e das lutas sociais ao longo de todo o curso.

“Como costumamos dizer, realizamos ocupações do latifúndio do saber, rompendo com as cercas da ignorância, construindo conhecimentos que possam acumular para a conquista da sociedade que buscamos construir”, destaca Fernandes.

Para ela, a Jornada Universitária “é a forma de reafirmar a luta camponesa no Brasil com as suas conquistas históricas, e reconhecer os movimentos como sujeitos sociais que legitimam suas ações desde as mobilizações desenvolvidas até a produção de alimentos saudáveis para toda a sociedade”.

Celi aponta para o fato da universidade ser “altamente elitista onde predominam grupos de interesses mais ligados ao grande capital do que aos trabalhadores. Isto é evidente no crescimento das áreas de agronegócio em detrimento da agroecologia, da agricultura familiar e da educação do campo”.

Entretanto, é preciso “reconhecer e valorizar os grupos contra hegemônicos que diuturnamente levam o embate para avançarmos na produção do conhecimento, na pesquisa, na extensão e no ensino considerando as especificidades do campo brasileiro onde o capital se desenvolve e opera destruindo forças produtivas, destruindo a natureza, o trabalho e o trabalhador”, acrescenta.

Nos próximos dias, já estão confirmadas atividades nas Universidades Federais da Bahia (UFBA), de Juiz de Fora (UFJF), Pernambuco (UFPE), Sergipe (UFS), Brasília (Unb), do Vale do São Francisco (UNIVASF) – Campus Juazeiro, Rural de Pernambuco (UFRPE), nas Universidades Estaduais de Santa Cruz (Uesc), do Estado da Bahia (UNEB) – Campus Juazeiro, de Pernambuco (UPE) – Campus Petrolina, na Unesp de São José do Rio Preto, no Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro/BA), nos Institutos Federais do Sertão Pernambucano (IFPE – Campus Petrolina e Campus Ouricuri), Pará (IFPA-Campus Rural de Marabá) e na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).