Aumenta a violência no campo e Sem Terra se transforma em alvo principal

Dados da Comissão Pastoral da Terra mostram que dos 36 assassinatos ocorridos no campo em 2014, 11 foram de trabalhadores sem terra.

Por Iris Pacheco
​Da Página do MST

Na tarde desta terça-feira (13), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, a sua publicação anual sobre Conflitos no Campo Brasil. A edição de 2014 revela que, diferentemente dos anos anteriores, em que se destacava entre os assassinados indígenas e quilombolas, o alvo principal em 2014 foram os sem terra.

Foram 11 assassinatos, do total de 36 registrados. Oito deles eram assentados e sete eram posseiros. As tentativas de assassinato, por sua vez, aumentaram de forma vertiginosa. Em 2013 foram registradas 15 tentativas de assassinato, enquanto no ano passado foram 56, o que representa um aumento de 273% no número de casos.

Segundo o presidente da CPT, Dom Enemésio Lazzaris, o avanço do agronegócio e a concentração fundiária vitimam os povos do campo e mantém o ciclo de desigualdade no país.

“Para parar os assassinatos é preciso frear o avanço do agronegócio com sua ganância para cima das terras dos povos e rever os grandes projetos que impactam, desestabilizam e desumanizam o campo brasileiro. É preciso diminuir de que tem muito para que todos tenham alguma coisa”, salientou Dom Enemésio.

A constatação do presidente da CPT tem base em dados. De acordo com o INCRA, entre 2010 e 2014, 6 milhões de hectares passaram para as mãos dos grandes proprietários – quase três vezes o estado de Sergipe. Segundo o Sistema Nacional de Cadastro Rural, as grandes propriedades privadas saltaram de 238 milhões para 244 milhões de hectares.

O INCRA ainda aponta que mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que possuem em média mais de 2.400 hectares. Já o o Atlas da Terra Brasil 2015, feito pelo CNPq/USP, mostra que 175,9 milhões de hectares são improdutivos no Brasil.

Para Ayala Ferreira, coordenadora nacional do MST, os povos do campo tem enfrentado um latifúndio que apresenta a contradição entre o dito moderno, pois representa o desenvolvimento econômico do país, e ao mesmo tempo atrasado, com práticas de trabalho escravo e perseguição violenta.

“Esse mesmo latifúndio utiliza seus mecanismo de defesa, enquanto classe dominante agrária, para se manter impune diante dos crimes cometidos contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Se o Estado tivesse intenção de encarar de frente essa realidade, o que concretamente não ocorre, a reforma agrária seria o modelo de desenvolvimento agrícola e de superação da desigualdade no país”, ressaltou.