“A Reforma Agrária está no bojo da discussão sobre alimentos sadios”, afirma dirigente do MST

Em entrevista, Cedenir de Oliveira, avaliou os primeiros meses de 2015 e falou sobre a organização do Movimento para o próximo período.

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

O ano de 2015 está sendo marcado por inúmeras manifestações contrárias aos retrocessos humanos e trabalhistas impostos por governantes ao povo brasileiro.

O MST está entre os movimentos sociais que protagonizam, em todo o país, ações de lutas para a manutenção dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Nesse sentido, reafirmando a luta pela Reforma Agrária e pela soberania alimentar, o dirigente nacional MST no Rio Grande do Sul, Cedenir de Oliveira, avaliou os primeiros meses do ano e falou sobre a organização do Movimento para o próximo período.

Confira a entrevista:

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Para Cedenir Oliveira, a Reforma Agrária é muito mais que a distribuição de terras.

Como você avalia as ações realizadas nos primeiros meses de 2015?

Nós fizemos uma boa jornada, fruto do processo de preparação que tivemos desde o ano passado com outros movimentos sociais. Com isso, conseguimos fazer lutas massivas que responderam à onda conservadora que se instalava no país. Também recolocamos na pauta social os temas específicos da Reforma Agrária, a questão dos alimentos saudáveis, a luta das mulheres, além de denunciarmos o uso abusivo de agrotóxicos e as condições precárias dos nossos assentamentos.

De que forma o MST tem trabalhado com a sociedade a questão dos agrotóxicos?

O tema dos agrotóxicos faz parte de uma ideia geral que vem no conceito da Reforma Agrária. Hoje, a Reforma Agrária não é apenas o processo de democratização da terra, ela é também uma disputa do modelo de produção para a agricultura. Ao enfrentarmos o agronegócio denunciamos todas as contradições que envolvem esse modelo, desde a dependência financeira, econômica, a produção de alimentos sem qualidade, até problemas ambientais e de envenenamentos.

Este é o tema que mais tem apelo no dia a dia das pessoas, pois todos têm hoje algum familiar ou vizinho sofrendo com câncer. Sendo assim, a Reforma Agrária está inserida no bojo de discussões que temos feito sobre a produção de alimentos sadios. Só que, para produzir alimentos sadios é preciso diversificar a produção, e para diversificar a produção, tem que ter camponês no campo, e para ter camponês no campo, é preciso fazer a Reforma Agrária.

Qual a expectativa para esse novo período?

Do ponto de vista geral da classe trabalhadora, vai ser um período muito difícil, de grandes  ataques aos direitos conquistados. Mas, contraditoriamente a esse ciclo, podemos estar diante de um novo período histórico, de grandes lutas pela Reforma Agrária e de reafirmação do Movimento. Algo similar ao ocorrido na década de 90, com a perspectiva de assentamento. Nós já temos alguns sinais nesse sentido: em várias regiões do país está ocorrendo uma retomada massiva dos acampamentos e um processo intensivo de mobilização.

Um Exemplo disso são as duas mil famílias acampadas no Rio Grande do Sul somente esse ano. O próximo período também exigirá a formação massiva de novas lideranças. Será um período de organicidade e de muitos debates internos, onde recolocaremos o papel das cooperativas da produção de alimento livre de agrotóxicos, também vamos radicalizar o debate com a juventude e reafirmar a participação das mulheres dentro do Movimento.