Arturo Paoli, uma vida inteira dedicada aos pobres

Em novembro faria 103 anos de vida. Arturo Paoli foi um dos pais da Teologia da Libertação.
arturo!.jpg
Legenda

Da Página do MST

Na madrugada da última segunda-feira (13), partiu Arturo Paoli, um dos mais importantes profetas da Igreja dos pobres. Um patriarca.

Em novembro faria 103 anos de vida. Arturo Paoli foi um dos pais da Teologia da Libertação.

Uma vida dedicada totalmente aos outros, mas também ao estudo e às publicações que tanto contribuíram na formação de várias gerações.

Foi um dos grandes testemunhos de um Evangelho vivido como práxis de libertação na Itália, na Argentina, onde chegou num transatlântico em 1960, na Venezuela, no Brasil (em São Leopoldo, Foz do Iguaçu…).

E também um Justo entre as Nações por ter ajudado a judeus em fuga durante a Segunda Guerra Mundial, acolhendo-os no seminário de Lucca.

Nascido em Lucca, na Via Santa Lucia, no dia 30 de novembro de 1912, Paoli se formoue em Letras em Pisa em 1936, entrou no seminário no ano seguinte e foi ordenado sacerdote em junho de 1940.

Participou, entre 1943 e 1944, da Resistência e desenvolveu a sua missão sacerdotal em Lucca até 1949, quando foi chamado a Roma como vice-assistente da Juventude de Ação Católica, a pedido de Dom Montini, depois Papa Paulo VI. Aí se confrontou com os métodos e a ideologia de Luigi Gedda, presidente geral da Ação Católica e, no início de 1954, recebeu a ordem de deixar Roma para embarcar como capelão no navio argentino “Corrientes”, destinado ao transporte dos emigrantes.

Durante anos realizou um intenso trabalho na Argentina dedicado aos marginalizados. Com o retorno de Perón para o país, o clima político se torna pesado, e Arturo é acusado de exercer um tráfico de armas com o Chile.

Naquele momento, o Chile era governado por Allende, destituído no apocalíptico dia 11 de setembro de 1973 pelo golpe de Estado de Pinochet. Em 1974, apareceu nos muros de Santiago um manifesto com uma lista de pessoas a serem eliminadas por “qualquer um que as encontrar”: o nome de Arturo está no segundo lugar.

Alguns Pequenos Irmãos são presos, e cinco deles figurariam entre os milhares de desaparecidos. Arturo, nesse momento, se encontra na Venezuela, como responsável pela área latino-americana da Ordem: advertido por amigos para não voltar para a Argentina por estar sendo procurado, volta para lá somente em 1985.

Assim iniciou a experiência venezuelana, primeiro em Monte Carmelo, depois na periferia de Caracas, continuando, ou, melhor, intensificando, a sua produção livreira: Il presente non basta a nessuno, Il grido della terra e muitos, muitos outros…

Em terras brasileiras

Com o afrouxamento da ditadura militar, Arturo intensifica as suas missões no Brasil, residindo a partir de 1983 em São Leopoldo e entrando em contato com a realidade das prostitutas, inúmeras no seu bairro.

Em 1987, transferiu-se, a pedido do bispo local, para Foz do Iguaçu: lá foi morar no bairro de Boa Esperança, onde constitui uma comunidade. Mas, lembra o frei Arturo, “a condição de extrema pobreza das pessoas do bairro me atormentava, e dessa angústia nasceu a ideia de criar a Associação Fraternidade e Aliança”, uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, com projetos sociais voltados para o bem da comunidade.

Seguiram-se 13 anos de duro e intenso trabalho para dar dignidade a essa população marginalizada. Hoje, a AFA é uma bela realidade, a qual se somou no ano 2000 a Fundação Charles de Foucauld, voltada especificamente para os jovens do proletariado e do subproletariado de Boa Esperança. Juntas, as duas entidades levam adiante inúmeros miniprojetos que envolvem diretamente mais de 2.000 pessoas, entre adultos, adolescentes e crianças: ludoteca, ambulatório, atividades pós-escola (reagrupados no projeto chamado “Crianças desnutridas”), casa da mulher, cantina, coral, cursos de música, de informática, atividades esportivas… Projetos que visam à formação humana e que foram possíveis graças a ajuda de muitos, muitos amigos italianos que os financiam na sua quase totalidade.

Em 2004, Arturo, com o padre Mario De Maio, presidente da Oreundici, lançou o projeto “Madre Terra”: uma fazenda didática (da extensão de cerca de 40 hectares), também na periferia de Foz do Iguaçu, onde alguns jovens (provenientes das casas-família já acompanhadas e financiadas pela Oreundici), encontraram um posto de trabalho, uma “família ampliada”, o espaço e a possibilidade de crescer e se encontrar também com os muitos amigos italianos que seguem esse projeto e cuidam da amizade entre esses dois povos, sob o olhar admirável e paterno de Arturo.

Hoje, o projeto “Madre Terra” permite aumentar essa amizade, com o vivificante e salutar contato com a beleza áspera e fascinante da natureza brasileira.