Antônio Vieira: perdemos um camarada, um amigo, um eterno defensor da Reforma Agrária

Partiu na noite desta segunda-feira, após 76 anos bem vividos e de muita luta, nosso querido Antônio Vieira, que nos deixou um legado de sabedoria, coerência, persistência e de luta.

 
Da Página do MST

Partiu na noite desta segunda-feira (20), em Recife, após 76 anos bem vividos e de muita luta, nosso querido Antônio Vieira, que nos deixou um legado de sabedoria, coerência, persistência e de luta.

Desde jovem se envolveu com os camponeses pernambucanos na luta pela Reforma Agrária e por justiça social. 

Trabalhou com Dom Helder Câmara e enfrentou a ditadura. Amargou a prisão e suas torturas. Nunca esmoreceu. Na dúvida e nas crises, sempre dizia: consultem o povo!

Ainda na ditadura liderou a retomada do sindicalismo combativo, reorganizou a oposição sindical no campo, em Santarém, no Pará. Desenvolveu um método de trabalho de base que depois foi imortalizado no documentário “Lamparina”.

Sempre ajudou o MST e a luta pela Reforma Agrária. Foi um verdadeiro organizador dos movimentos populares.

Teremos muita saudades do Vieira, mas também muito orgulho de ter o privilégio de sua amizade e sabedoria. Longa vida ao camarada Vieira. O teremos sempre em nossos corações e espírito.

É a pequena homenagem que todos os militantes da Reforma Agrária e do MST devotam.

Direção nacional do MST

TESTEMUNHO DE RANULFO PELOSO

Amigos e amigas de Vieira,

Construímos uma grande amizade, unidos pela mesma causa e baseado no afeto mútuo.

Conheci Vieira, nos tempos de Taquari. No dia 1o. de Dezembro &”39;73, quando eu recebia o diploma do ITER, intermediado por D. Hélder, ele se achegou e fez um convite para ir ao Engenho. O trabalho popular não avançaria sem responder à dimensão da religiosidade do povo que ele não entendia.

No dia que me despedia, no final de Julho/74, ele foi preso pela ditadura. Voltei ao Engenho e fiquei até o Natal de 74 quando ele voltou, em meio a uma grande festa de recepção. Pela conjuntura do tempo e por sua militância, considero um tempo intensivo de aprendizado – esforço, estudo, agonia… e também festa, pintura, poesia, seresta e muitas visitas.

Nos encontramos, em Recife, no final de 77, contando o que tentávamos fazer em Santarém. Veio o brilho nos olhos e disse: fecho minha página NE e abro minha página amazônica; primeiro de janeiro &”39;78, chego lá. E efetivamente chegou.

Ai, foi toda a trajetória do trabalho sindical de 5 anos, registrado depois no “Lamparina”, trabalhando na FASE. Veio a etapa no Estado do AM ainda na FASE e depois em outra entidade. Em seguida, voltou a Belterra, na assessoria de comunicação do Prefeito Geraldo Pastana.

Guardo como marca principal – seu compromisso até a morte, com a classe oprimida pela qual doou todo seu talento e esteve preso; outra marca forte é sua dedicação à Educação Popular desde os tempos da AP, depois no MEB, depois na Fase; uma terceira, foi seu potencial artistico colocado a serviço da luta popular – poetas, cantor, comunicador, teatrólogo, diretor de filme, pintor (guache, óleo, bico de pena) escultor,… sempre trabalhando no mais-que-perfeito. Foi um grande mestre, com a dignidade e capacidade de um grande dirigente.

Ele costumava repetir – “assim passei os dias que me deram para viver”.

Fica a saudade. Mas, sobretudo, a memória de entrega total pela emancipação do ser humano.

Um abraço a cada pessoa comprometida com o seu legado.

Ranulfo.