Escolas têm papel fundamental na construção da Reforma Agrária Popular, apontam educadores

"Por meio delas podemos resgatar as práticas das gerações passadas, incentivando as crianças e jovens à produção agroecológica”, destacou Sem Terra durante encontro.

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

A construção da Reforma Agrária Popular está entre os principais pontos defendidos por educadores e educadoras do campo do Rio Grande do Sul, no primeiro dia do Encontro Estadual de Educadores da Reforma Agrária, promovido pelo MST.

A sétima edição do evento iniciou nesta quarta-feira (22), e reúne cerca de 130 pessoas no Centro de Formação Sepé Tiarajú, no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão.

Pela manhã, após místicas e apresentações culturais, Adalberto Martins, do setor de produção do MST, abriu o debate falando sobre os desafios a serem enfrentados no combate ao capitalismo, e a necessidade da construção da Reforma Agrária Popular.

Segundo ele, nos últimos anos, o Brasil passou por profundas mudanças na correlação de forças políticas que atuam no campo, onde o agronegócio é o “novo inimigo” e representa a aliança entre a classe ruralista e as grandes empresas internacionais, que controlam a produção de grãos, maquinários e insumos, além de contar com o apoio de políticas públicas que favorecem ao seu desenvolvimento.

Para Martins, esse novo cenário estabelecido no país exige mudanças estratégicas para tornar viável a Reforma Agrária Popular, que luta pela democratização da terra, quebra do poder político dos latifundiários, e o fortalecimento do mercado interno.

“A reforma agrária tem que criar condições para que possamos mudar o modelo de produção no campo. No entanto, precisamos de políticas públicas, reorganizar as comunidades e fortalecer a discussão em torno da função social da terra, defendendo a produção sustentável, que proteja os recursos naturais e abasteça mercados locais e regionais. As escolas têm papel fundamental nesse processo: por meio delas podemos resgatar as práticas das gerações passadas, incentivando as crianças e jovens à produção agroecológica”, destacou.

Silvia Reis Marques, da direção nacional do MST, reforçou que as instituições de ensino têm papel central na construção da Reforma Agrária Popular, junto à unificação da classe trabalhadora.

“Por meio das escolas podemos dialogar com as crianças sobre a importância da produção de alimentos saudáveis e, assim, continuar mudando a realidade dos nossos assentamentos, evitando que o capitalismo atinja aquilo que defendemos e conquistamos. Esse processo de conscientização também deve ser fortalecido com a unificação da classe trabalhadora, pois a conquista da reforma agrária que queremos depende da união operária”, disse.
 

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Desafios aos educadores

Durante à tarde, a pesquisadora Isabela Camini e o educador Ivori de Moraes, ambos do MST, deram continuidade aos debates sobre a educação do campo, propondo leituras e desafios, como ações de combate ao latifúndio e agronegócio, e de incentivo ao projeto camponês e sistema público de educação.

Isabela orientou aos educadores a não se conformarem com o fechamento das mais de 4 mil escolas de campo apenas em 2014, e a participarem das lutas sociais que fortaleçam a prática pedagógica, mantendo-se na militância.

Já Moraes defendeu a retomada do debate sobre a escola diferenciada, que valorize a comunidade escolar e invista em formação. “Precisamos formar camponeses com conhecimento técnico em agroecologia”, sinalizou.

Ele também recordou conquistas como a Pedagogia da Alternância, a criação do Comitê Estadual da Educação do Campo, na gestão do então governador Tarso Genro, e cursos de licenciatura em diferentes regiões do estado. Além disso, afirmou que os educadores devem avançar na tarefa de inserir os jovens aos movimentos sociais.

A presidente do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Helenir Schürer, tratou sobre a atual conjuntura educacional brasileira e gaúcha. Ela discordou de medidas que comprometem a qualidade da educação no estado, a exemplo de projetos de lei que “amordaçam os professores e impede os alunos de pensarem e refletirem” sobre temas que assolam a sociedade.

Encerrando o primeiro dia de atividades, o educador do MST, Edgar Kolling, defendeu ações de denúncia e enfrentamento da ingerência dos empresários na educação brasileira, além do aproveitamento dos espaços escolares para tratar sobre a questão da Reforma Agrária Popular.

O 7º Encontro Estadual de Educadores da Reforma Agrária reúne 21 escolas do campo do RS, duas universidades federais, e equipes técnicas. Ele acontece até a próxima sexta-feira (24), e é etapa preparatória para o 2º Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agrária (Enera), que será realizado de 21 a 25 de setembro de 2015, em Luziânia (Goiás).