Congresso debate relação entre educação do campo e reforma agrária

Cerca de 500 pessoas participam do 1° Congresso Nacional de Residência Agrária, em Brasília.

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Por Iris Pacheco
Da Página do MST

Entre os dias 11 a 14 de agosto, cerca de 500 pessoas de todo o território nacional, entre alunos, ex-alunos, professores e apoiadores da educação no campo, participam do 1° Congresso Nacional de Residência Agrária.

A atividade visa debater maneiras de fortalecer a relação entre as universidades e os movimentos sociais no âmbito da pesquisa, ensino e extensão, de modo a articular as diversas potencialidades do desenvolvimento dos projetos de assentamentos. 

O evento está sendo realizado pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), no Centro de Convenções Israel Pinheiro, em Brasília.

Durante a abertura, que aconteceu na manhã desta terça-feira (11), Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, enfatizou que o latifúndio do saber é um espaço que deve ser ocupado tanto quanto o da propriedade privada da terra. 

“A transformação da sociedade que o Movimento busca construir perpassa pelo tripé: luta, educação e Reforma Agrária. Não haverá reforma agrária no país enquanto não se romper o latifúndio do saber”, ressaltou.

Já o Ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Patrus Ananias, ressaltou a importância de se realizar este encontro e a necessidade da presidenta Dilma Rousseff trabalhar junto ao ministério para assentar as 120 mil famílias acampadas, um direito social do povo camponês.

 

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“O direito da propriedade não é absoluto. Ele deve estar submetido ao direito do bem comum… Determinados bens transcendem os bens individuais, que são os direitos sociais coletivos”, afirmou o Ministro.

Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Jonas Duarte falou como representante dos professores dos cursos do Residência e comentou sobre sua experiência no semiárido.

Para ele, é preciso que o processo de educação do campo esteja atrelado à tão sonhada Reforma Agrária, e a pesquisa deve trazer soluções aos problemas sociais, e não ampliá-los.

“Se não houver Reforma Agrária, o Brasil vai continuar sendo um país de oligarquias. É preciso defender o Estado democrático, mas é preciso que esse governo acene para a classe trabalhadora, e a Reforma Agrária seria um belíssimo aceno”, disse.

O Congresso de Residência Agrária conta com a apresentação de 294 artigos divididos em sete grupos de trabalho: Agroecologia; Tecnologias de Produção; Questão Agrária, Direitos e Conflitos do Campo; Cooperação, Agroindústria e Organização da Produção; Práticas Pedagógicas e Metodológicas da Residência Agrária; Cultura; Educação do Campo.

O evento irá até sexta-feira (14), e também será um espaço de socialização e balanço das experiências construídas nos cursos de residência agrária em todo o país, com a realização da Mostra de Saberes e Sabores. 

Outro ponto a ser buscado é a tentativa de consolidar e organizar uma rede de pesquisa do Residência Agrária para que a troca de conhecimento entre os cursos seja realizada com maior intensidade.
 

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O programa

O Residência Agrária é implementado por meio do Pronera, uma programa criado a partir da luta dos movimentos sociais por uma política de educação que atenda às necessidades do campo.

As ações do Residência Agrária se consolidam por meio de bolsas de estudo destinadas à realização de estágio de vivência e especialização lato sensu em regime de alternância, com atuação em assentamentos da reforma agrária. 

Essa metodologia garante o permanente espaço de reflexão e orientação para a promoção do desenvolvimento sustentável do campo.

Para Adriana Fernandes, assentada e estudante do residência agrária na UnB, o programa é uma conquista do povo e por isso o governo tem que garantir a continuidade do programa.

“O residência agrária é um exemplo para outras universidades da América Latina. O governo tem que assumir o compromisso de continuidade do programa, que é uma conquista do povo”, enfatizou.

Maria Lúcia Falcón, presidente do Instituto Nacional de Colonização na Reforma agrária (Incra), comentou sobre a importância de fazer ciência para dentro do país.

Já Hernan Chaimovic, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq), salientou a importância do Cnpq no Programa e a legitimidade que isso traz a esse movimento, e assumiu o compromisso de manter e ampliar o Programa, fato que dependeria da vontade política do governo federal.

 

Atualmente o programa conta com a participação de 35 universidades de todo o país. São 35 cursos em andamento com 1.500 alunos em todo o território brasileiro.

Embora haja diferentes formatos de metodologia e conteúdo programático, todos constroem um ambiente de discussão e elaboração acadêmica sobre a reforma agrária no país, não apenas para refletir, mas também construir novas formas de soluções para o problemas sociais no campo brasileiro.