Sem Terra ocupam latifúndio de antigo Barão de café em Londrina

No Paraná, há 9 mil famílias acampadas esperando uma resolução para o problema da terra e da reforma agrária.

IMG-20150822-WA0005.jpg

Por Ceres Hadich, Jaqueline Pivato e Igor de Nadai
Da Página do MST

Cerca de 1.200 famílias ligadas ao MST ocuparam a Fazenda Figueira, distrito de Paiquerê, no município de Londrina, na última segunda-feira (17). 

A Fazenda Figueira, de aproximadamente 3.700 hectares, foi doada por Alexandre Von Pritzelwitz em 1995 para a Fundação de Estudos Agrários Luíz de Queiroz (FEALQ). 

A Entidade é considerada sem fins lucrativos, mas de direito privado, o que significa que ela funciona enquanto uma instituição privada que desenvolve atividades de gerenciamento de projetos acadêmicos, estabelecendo parcerias com entidades públicas e privadas (entenda o histórico da área logo abaixo).

Em nota, os Sem Terra afirmam que não são contra as atividades de pesquisa na área, o desenvolvimento de conhecimento científico e da preservação dos recursos naturais, e que inclusive “o saber popular é um dos princípios das ações do MST, lutando sempre contra o latifúndio do saber, pela criação de escolas do campo, cursos e universidades que atendam as demandas dos trabalhadores do campo e da cidade”.

Também afirmam que as famílias acampadas esperam uma saída concreta e pacífica para o assentamento, “que lutam por um pedaço de chão para que possam viver com dignidade, produzindo alimentos saudáveis e livre de agrotóxicos para a sociedade de Londrina e contribuindo para a restauração e conservação do meio ambiente e da dignidade humana”, completa a nota.

No Paraná, há 9 mil famílias acampadas esperando uma resolução para o problema da terra e da reforma agrária. Somente na cidade de Londrina, existe a demanda de assentar 1200 famílias acampadas. 

Histórico da área

Alexandre Von Pritzelwitz, nascido em Santos em 1925 e filho de imigrantes alemães, veio morar em Londrina no início dos anos 1940. Seu pai, Gustav Kurt Von Pritzelwitz, também conhecido “Barão”, nasceu em Munique, na Alemanha, e chegou a São Vicente, litoral de São Paulo,  em 1921. Gustav se tornou um importante empresário do setor cafeeiro.

A data da chegada do “filho do Barão do café” a Londrina, porém, coincide com a confusa demarcação de terras e títulos de propriedade da região de Londrina, quando ainda pertencia ao município de Jacarezinho, a chamada Gleba ou Fazenda Três Bocas, uma área de 50 mil alqueires colonizada por grandes latifundiários do Paraná. 

Eram pessoas bem relacionadas com o governo da Província, que conseguiram títulos de propriedade de terras onde jamais haviam pisado. Um processo de divisão de terras públicas começou em 1908, e depois reveste em 1941, quando uma mesma propriedade foi disputada por diferentes “donos”, que na verdade adquiriram essas terras por contatos e vantagens políticas entre as elites do estado e da região.

Na fazenda, as atividades principais eram a cultura do café e a pecuária de corte. A partir de 1975, devido à grande geada ocorrida na região, a atividade na fazenda passou a ser, exclusivamente, a pecuária de corte. 

Além disso, na fazenda há uma área de 1.165,85 hectares de florestas nativas, averbadas como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) além de desenvolver atividades de pesquisa relacionadas à criação de gado.

Diante desse histórico, os Sem Terra concluem a nota dizendo que “se grandes proprietários adquiriram grandes extensões de terras com títulos inexistentes ou no mínimo duvidosos, o passivo que resta para o povo de Londrina é esse contingente de famílias Sem Terra, com uma dívida histórica a ser paga ao povo de Londrina e região”.