Controle da soja por brasileiros no Paraguai provoca desigualdades, aponta especialista

Segundo o professor Ramón Fogel, esse modelo com poucas regulações representa uma nova relação com a natureza, com efeitos destrutivos para os recursos naturais.

 

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Da RBA

Com forte lobby, brasileiros que produzem soja na região de Alto Paraná, no Paraguai, pagam baixos impostos e são proprietários de 55% das terras. Durante o Fórum Universitário Mercosul (Fomerco), realizado recentemente no país vizinho, o professor da Universidade Nacional de Assunção, Ramón Fogel, explicou que, com a invasão, a desigualdade cresce sem parar.

“Se considerarmos terras e recursos naturais, capacidade empresarial e força de trabalho local, quem controla tudo são os estrangeiros ou atores locais vinculados com as forças globalizadas. Esses fatores são controlados por brasileiros que estão na base desse processo. Empresários obtêm grande quantidade de terras em 2008; 62% das grandes propriedades no Alto Paraná eram de estrangeiros, sendo 55% brasileiros. Agora a participação é maior. Isso significa a expulsão de comunidades camponesas. Há 20 anos, a população rural representava 60%, hoje está menor que 40%. Isso determina que o Estado paraguaio invista 12 vezes menos que a Argentina, e dez vezes menos que o Brasil. Essas são as assimetrias, que vão crescendo dia a dia, hora a hora”, disse.

Segundo o professor e sociólogo, o controle de brasileiros é total, e para enfrentar o problema, o fundo de convergência estrutural é a melhor saída. “Neste espaço de intercâmbio, eu quero destacar os processos promovidos pelo bloco do Mercosul, como também as dinâmicas socioeconômicas que desenvolvem as assimetrias entre o países e aqui no Paraguai. Então, o fundo de convergência estrutural é um mecanismo de financiamento solidário para encarar essas assimetrias, e todos os outros processos. Se a superação das assimetrias permanecem como objetivo para alcançar a integração temos que começar a pensar como alterar essas tendências, caso contrário não alcançaremos os objetivos.”

O processo de integração entre Brasil e Paraguai teve início na década de 60, num modelo de desenvolvimento onde fronteiras vivas do sul do país se expandiram para o leste do país vizinho, explicou Fogel.

Ele contou que os fazendeiros brasileiros que ocuparam rapidamente as terras disponíveis no Paraguai provocaram transformações importantes no país. Esse modelo de desenvolvimento sofreu mudanças no século passado com a expansão da agricultura capitalista em nível global.

“Esse desenvolvimento desigual atingiu o interior do Paraguai, e entre Paraguai e Brasil. A desigualdade corre nessas duas vias. Essa dinâmica responde à lógica de uma questão-chave ligada ao Brasil. Não estamos falando apenas de extrativismo clássico, fomos sempre agroexportadores, mas agora, somos impulsionados pelo agronegócio da soja. Apareceram novos atores, que exportarão os avanços da engenharia genética. Para nós, esse modelo com poucas regulações representa uma nova relação com a natureza, com efeitos destrutivos para os recursos naturais, e as consequências são várias, não apenas a contaminação, mas também, o devastamento.”

Segundo o professor, países do Mercosul passaram a promover o desenvolvimento baseado nas exportações de matéria prima, o investimento estrangeiro se concentrou na exportações de recursos naturais.