Lutar por uma educação de qualidade no campo é um compromisso do povo

Durante seminário Sem Terra apontaram a situação de negação da educação do campo, em contraste com a benevolência do estado com as escolas públicas administradas pelo capital.

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Do Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Formar o ser humano, construir relações de cooperação e respeito, desenvolver um modelo de agricultura que alimente o povo e preserve o meio ambiente, esses foram os princípios que orientaram a realização do 2º Seminário de Educação do Campo e Agroecologia, entre os dias 19 e 20/01, no Assentamento Josinei Hipólito, em Ituberá, no Baixo Sul baiano.

 

Com o lema “Por uma Escola Pública e Popular”, o seminário contou com a participação de 120 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, dos assentamentos e acampamentos da região. 

 

A principal proposta da atividade foi a construção do projeto político pedagógico da Escola do Campo Luana Carvalho, que a partir do mês de fevereiro oferecerá o ensino médio técnico em agroecologia junto ao ensino fundamental II, já em funcionamento na escola.

 

“Nós sonhamos em construir uma escola produtiva, que prepare estudantes capazes de liderar os caminhos da agricultura agroecológica. Isso enche de esperança os jovens e pais dos assentamentos Margarida Alves, Lucas Dantas, Josinei Hipólito e comunidades vizinhas”, explicou a coordenação do evento.

Já Almiro, mais conhecido como Grapiúna, do assentamento Josinei Hipólito, afirmou que se sente muito honrado, alegre e satisfeito “porque agora eu posso dá a oportunidade aos meus filhos de estudar numa escola que constrói uma educação popular e que garanti a participação da família”.

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Uma escola dos trabalhadores

Um dos pontos de destaque do Seminário foi a história das lutas enfrentadas pelas famílias para obter a escola no assentamento. De acordo com os trabalhadores, foram muitas reuniões, debates, marchas e ocupações. 

“Nossa luta teve início em 2009 e continuou na marcha estadual em 2010. Foi ali que o governo se comprometeu em construir a escola. Mas, as obras pararam. Então, na marcha de 2012 e depois com uma ocupação na Secretaria de Educação as obras foram retomadas e concluídas em janeiro de 2015”, relataram.

“Mesmo com as obras concluídas, o poder público se negava iniciar as aulas. Em resposta a essa decisão, realizamos mais uma ocupação, desta vez, foi o prédio da Escola”. 

Nesta última ocupação, as famílias e um coletivo de educadores iniciaram no dia 06 de maio de 2015 as aulas do ensino fundamental II e resistiram até a prefeitura reconhecer a escola.

Denúncia

O coletivo de educação do MST aponta esta situação de negação da educação do campo, em contraste com a benevolência do estado com as escolas públicas administradas pelo capital. 

“Na região existem escolas técnicas de educação rural custeadas pelo estado e que tem a direção e o projeto político pedagógico implementado pelas empresas do agronegócio, como a Odebrecht e Michelin”, afirmou o coletivo.

Segundo Roseane Rios, do setor de educação na regional, “o BNDES e o Fundo da infância repassou 17 milhões para a casa jovem da Odebrecht, enquanto isso, as outras escolas e as escolas do campo são sucateadas e com parco investimento em tecnologia”. 

“Desta forma, se reproduz o modelo histórico da educação rural no Brasil, na qual são os patrões que definem e orientam a formação dos trabalhadores, com um horizonte restrito e unilateral de formação de força e trabalho barato para os seus próprios interesses”, destacou Rios.

Pensando nisto, Obede Guimarães, também do setor, disse que o estado, o agronegócio e o latifúndio continuam utilizando diversos mecanismos para a expulsão do povo do campo, garantindo assim o seu projeto.

“Um mecanismo fundamental dessa expulsão é a negação de políticas públicas de qualidade e de interesse das famílias camponesas. A implementação da Escola Técnica do MST se opõe ao projeto do capital e oferta alternativas à juventude, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura camponesa da região”, concluiu.