PM ataca acampamento em área grilada por latifundiário e pretendida pela Vale

A ação das forças policiais aconteceu sem mandado judicial. Os trabalhadores rurais temem um novo Massacre de Eldorado dos Carajás.

Da Página do MST

Não foi preciso nenhum mandado judicial para que um comando de operações policiais, composto por membros da Polícia Militar, Grupo Tático Operacional e Polícia Rodoviária, realizassem o despejo de famílias Sem Terra acampados às margens da Fazenda Santa Clara, entre a região conhecida como Santa Cruz (PA), na última quarta-feira (3).

A ação das forças policiais se deu após trabalhadores rurais da região, do assentamento Paulo Fonteles e integrantes do acampamento protestarem contra a mineradora Vale, ao denunciarem os problemas ambientais causadas pela companhia no Rio Gelado, principal rio da região, mas que sofre com as consequências de ter uma das maiores barragens de rejeito do país em sua cabeceira.

Segundo os relatos dos trabalhadores rurais, ainda eram umas 10h quando o movimento já se desarticulava e os manifestantes resolveram fazer uma marcha no entorno da sede da fazenda, uma área do Instituto de Terras do Pará (ITERPA), porém grilada por Damião Macedo.

Segundo relatos dos trabalhadores das comunidades vizinhas, Macedo é conhecido na região por sua truculência e por ter se apossado de terras de pequenos agricultores, de destruir florestas, praticar o trabalho escravo e de se utilizar de mão de obra infantil em serrarias clandestinas.

Porém, ao chegarem às proximidades da fazenda, os trabalhadores foram recebidos à bala e com bombas de gás, que atingiram crianças, mulheres e idosos. Até o momento três pessoas estão desaparecidas. Mais de 120 pessoas foram transportadas em caminhões escoltados pelas viaturas da polícia até a Delegacia de Parauapebas.

Sete integrantes do acampamento estão presos, sendo um deles uma mulher. Dezesseis pessoas já registram queixas e fizeram exame de corpo delito. Durante o processo violento de despejo dos trabalhadores, 35 pessoas foram feridas ou sofreram escoriações pelo corpo, incluindo 10 crianças, mulheres e idosos que tiveram que ser tratados as pressas.

Em nota, os movimentos populares da região e entidades civis pedem a “imediata intervenção da Ouvidoria Agrária Nacional, do INCRA, do ITERPA, assim como dos organismos de Direitos Humanos para que esse tipo de ataque aos direitos à cidadania não transforme – pela aliança explicita entre capital mineral, latifúndio e Estado – a luta pela Reforma Agrária num anúncio de um novo Massacre de Eldorado dos Carajás, que este ano completa o infame aniversário de 20 anos de impunidade”.

Neste sentido, os movimentos agora lutam pela libertação das sete presos na operação policial, pela prisão dos agressores e pela desapropriação imediata da Fazenda Santa Clara.