Organização e solidariedade barram despejo forçado em Atalaia
Por Gustavo Marinho e Rafael Soriano
Da Página do MST
Fotos: Gustavo Marinho
A solidariedade de diversos movimentos populares e sindicatos conseguiram suspender o despejo do acampamento São José, localizado na fazenda São Sebastião em Atalaia (AL) – 45 km de Maceió -, que estava marcado para esta segunda-feira (15).
As movimentações da Polícia Militar acercando o acampamento com cavalarias e até ambulâncias não foram suficientes para arrefecer o processo de resistência das famílias e a ampla solidariedade dos movimentos populares e da sociedade alagoana com o acampamento.
“O alerta permanece, e toda essa capacidade de organização para resistir das famílias e de solidariedade que recebemos dos demais movimentos de luta pela terra e dos companheiros da cidade somente reforçam o sentimento de continuar a luta pela reforma agrária, pelo acesso à terra e aos direitos”, ressalta José Roberto, da direção nacional do MST. “Uma vitória para o MST, evitando o despejo e o agravamento da situação dessas famílias”, conclui.
Estiveram presentes na manhã desta segunda no acampamento São José, na Zona Rural de Atalaia, representantes de diversos movimentos sociais do campo alagoano, entre a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), a Via do Trabalho, o Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), entre outros. Também somaram forças os sindicatos dos trabalhadores da educação e dos bancários, bem como a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
“O estado doava a terra pra o fazendeiro escravizar antigamente, hoje tem muita diferença? Veja o caso do cortador de cana-de-açúcar nos contextos atuais”, reflete Izac Jackson, da CUT, condenando o papel do Estado brasileiro sempre em favor das elites. “O valor dessa resistência é imensurável: é um marco pela historia de resistência de cada um de vocês. É um marco pela vida de um trabalhador que está presente entre nós em espírito, nos dando força”, avalia.
Preparados para o enfrentamento, bem como diziam as falas que animavam a multidão, os sindicalistas deram uma força extra à resistência. “Essa tristeza que passamos se transforma em oxigênio para luta, em esperança. Por isso estamos aqui, toda classe trabalhadora unida para resistir e dar o recado claro: essa terra será efetivamente de cada trabalhador, cada trabalhadora! É simbólica e será conquistada!”, disse Izac.
Desde o início da manhã, havia toda uma movimentação das tropas da polícia militar, caminhões, carros-pipa, ambulâncias; toda uma infraestrutura disponibilizada pela Prefeitura contra as famílias, que contraditoriamente sofrem com a negligência do acesso à políticas públicas no dia a dia.
“Mais uma vez nos surpreende a ação ágil do município quando para atender o interesse do Estado burguês e dos fazendeiros, disponibilizando toda estrutura contra as famílias”, alertou José Roberto.
Enquanto o Estado tem total disponibilidade para a resolução do interesse de posse dos grupos oligarcas da região, a política de Reforma Agrária, seja na divisão das terras ou na garantia de acesso aos demais direitos de moradia digna, assistência técnica adequada, subsídios, educação e outros, é negligenciada. “Só se resolve um lado, e a grande dívida histórica e social com os trabalhadores vai se acumulando”, se indigna José.
O MST fez diversas mediações com as instâncias do poder público, no sentido de apelar para o bom senso e à justiça social com aquele território e com as famílias acampadas. O próprio Ministério Público Federal, segundo o Movimento, questiona a possibilidade da posse da área ser entregue à família requerente da reintegração, pois o falecido requerente (Pedro Batista) tinha contrato de arrendamento formal com a massa falida da Usina Ouricuri.
O julgamento da ação rescisória sobre este tema, impetrada pelo MPF e em tramitação no Tribunal de Justiça (TJ-AL), é de grande esperança para as famílias para terem acesso àquelas terras. O MST e os demais movimentos de Alagoas seguem mobilizados para que se faça justiça social, e alertam que apenas iniciaram uma grande campanha de solidariedade sobre o acampamento São José, que ganha adeptos a cada dia.
Histórico
O acampamento São José foi criado em 2004, quando da primeira ocupação da fazenda São Sebastião, rodeada de outras áreas que também pertenceram à Usina Ouricuri e que viraram assentamentos por meio da luta dos trabalhadores rurais. A disputa por terras na região já deixou marcas violentas, como o assassinato de Chico do Sindicato e José Elenilson (em 1995 e 2000, respectivamente).
Onde agora se localiza o acampamento, foi executado a tiros a mando de fazendeiros da região o dirigente estadual do MST, Jaelson Melquíades. Todos os casos permanecem impunes até hoje.