“O governo de Alagoas precisa priorizar quem produz alimentos saudáveis”

Mulheres Sem Terra se mobilizam em todo estado em jornada de lutas

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Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

 

Desde segunda-feira (7), cerca de 1500 camponesas em toda a cidade de Alagoas estiveram mobilizadas e, do interior à capital, pautaram a necessidade de uma política agrícola para a Reforma Agrária.
           

Em reunião na noite da última terça-feira (9,) em que estiveram presentes os secretários de agricultura, Álvaro Vasconcelos, de planejamento, Carlos Christian Reis, o chefe do gabinete civil, Fábio Farias e o presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (ITERAL), Jaime Silva; a representação das trabalhadoras, organizadas no MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) levaram as reivindicações da Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra em Alagoas.
           

“Nós temos uma diversidade de pontos para tratar com o governo do estado, mas aqui na nossa Jornada das Mulheres, nossa principal demanda é a construção de uma política agrícola para Alagoas”, afirmou Débora Nunes, da direção do MST.
           

Para Débora, grande parte dos problemas estruturais que Alagoas enfrenta, como o desemprego, a fome e a miséria, podem ser melhorados se o governo tiver um olhar responsável e comprometido com o desenvolvimento do campo.
           

“Entendemos que parte considerável da responsabilidade de fixar as trabalhadoras e trabalhadores no campo está no cenário das políticas do governo do estado”, destacou. “É preciso garantir que mulheres, homens, jovens e crianças possam permanecer trabalhando e vivendo no campo alagoano, dinamizando a economia dos municípios onde estamos e alavancando o desenvolvimento de Alagoas”.
           

Segundo a dirigente a monocultura da cana-de-açúcar em Alagoas já chegou em seu limite e a substituição pelo eucalipto não responde as reais demandas do povo alagoano. “O governo precisa, de fato, priorizar quem produz alimentos saudáveis, gerando emprego e renda para o povo, não investimento no agronegócio que destrói a natureza e mata a sociedade”, disse Débora.

“De um lado o agronegócio recebe isenção de impostos para gerar miséria, destruir o meio ambiente, ameaçando à soberania alimentar do país e a vida da população brasileira, afetando de forma direta a realidade das mulheres, do outro lado nós não temos qualquer sinalização política e apoio para as áreas de reforma agrária, sabendo que esse é um passo importante para transformar os índices de Alagoas”.

Para Terezinha Vital, do MLST, a Jornada das Mulheres Sem Terra em Alagoas deu o recado ao governo do estado, que sinalizou o compromisso da discussão inicial para uma política agrícola para Alagoas, mas que as camponesas seguem atentas e dispostas a construírem outras lutas. “Ou o governo constrói políticas para a reforma agrária, em especial para as mulheres camponesas, de maneira concreta e efetiva, ou nós iremos voltar. E, na próxima vez, não será mais para repetir o recado. Nossa cobrança agora será para exigir compromisso!”, anunciou.

Além da sinalização para o debate da política para o campo alagoano, o secretariado apontou uma agenda de ações com os movimentos para as demandas apontadas pelas mulheres.
           

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Jornada em Alagoas
           

Do sertão ao litoral de Alagoas, as trabalhadoras rurais Sem Terra tiveram suas bandeiras de luta na Jornada que abre as mobilizações do MST no ano, em especial a defesa da Reforma Agrária, a garantia de direitos sociais, pela democracia, contra a anunciada reforma da previdência e o agronegócio.
           

No início da manhã se segunda-feira (7), agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foram ocupadas em sete municípios de Alagoas: Delmiro Gouveia, Piranhas, Traipu, Teotônio Vilela, Girau do Ponciano, Murici e Porto Calvo. As Sem Terra também ocuparam as sedes das prefeituras das cidades de Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado, Atalaia e Girau do Ponciano, pautando a desburocratização do INSS para o acesso aos direitos sociais pelas camponesas, além de pautar nos municípios as demandas de infraestruturas sociais e produtivas para as áreas da reforma agrária.
           

Ainda na segunda-feira as Sem Terra ocuparam a Praça Centenário, na principal avenida de Maceió, onde montaram acampamento anunciando a continuação das lutas da Jornada na capital.
           

Em defesa dos direitos das trabalhadoras do campo e da cidade, pela democracia e contra o golpe, 3000 mulheres realizaram uma grande marcha pelas ruas de Maceió na manhã do dia 8 de março, dia Internacional de Luta das Mulheres. A marcha reuniu movimentos populares, sindicatos, partidos, juventude e de luta pela terra com bandeiras, palavras de ordem e batucada durante toda a manhã da terça-feira.

“O dia 8 de março para nós sempre representou um dia de muita luta!”, reforçou Margarida da Silva, da Direção Nacional do MST. “Nossa mobilização conjunta por direitos, em defesa da democracia e contra o golpe, reafirmamos nosso posicionamos contra o que a elite desse país vem tentando fazer com a classe trabalhadora.

Nas ruas foi mais um recado dado pelas mulheres trabalhadoras do campo e da cidade de que somos contra qualquer tipo de retrocesso nesse país, em especial dos direitos que conquistamos a partir das nossas lutas.”
A marcha seguiu em direção até o centro da cidade, onde as trabalhadoras realizaram paradas na Delegacia da Mulher, Tribunal de Justiça de Alagoas, além do Palácio do Governo do Estado.

Após a marcha, as trabalhadoras rurais Sem Terra ocuparam a sede da Secretaria do Estado de Agricultura, Pesca e Aquicultura, onde montaram acampamento e seguiram mobilizadas com agendas de negociação com a superintendência do Incra e na agência do INSS em Maceió.

“Seguimos em luta e dispostas a voltar quantas vezes for preciso para a capital, com mais ocupações, mais marchas e mais lutas!”, afirmou Margarida. “É essa nossa força que precisamos cada vez mais mostrar a esse governo que apresenta um descompromisso com as camponesas e camponeses, a partir do momento que não tem nenhuma política pública diferenciada, em especial para as mulheres do campo”.

Na tarde de hoje (9), as Sem Terra desmontam o acampamento na Secretaria de Agricultura e retornam para os municípios de onde saíram ainda na segunda-feira.
           

Em Alagoas as ações somam-se as diversas lutas do MST em todo o país que mobilizou, além de Alagoas, em mais 20 estados, cerca de 30 mil mulheres, com o lema “Mulheres em luta, em defesa da natureza e alimentação saudável, contra o agronegócio”.

 

Veja aqui fotos da Jornada Nacional de Lutas em Alagoas