Assentados comemoram 30 anos de lutas e conquistas

Cerca de 3 mil pessoas comparecerem nos dois dias de atividades que contou com diversas atrações

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Por Danielle Melo
Da Página do MST

Nos dias 26 e 27 de março, assentados e assentados comemoraram o 30ª aniversário do Assentamento Nova Vitória, no município de Pinheiros, Espírito Santo.

As atividades, que começaram no sábado (26), às 20h, contaram com uma mística que retratou a luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais pela terra. Os parabéns foram comemorados juntamente com um bolo feito pelas mãos dos assentados e assentadas.

Cerca de 3 mil pessoas comparecerem os dois dias de atividades, que contaram com diversas atrações, como a banda Os Irmãos Capixabas e Chapéu de Palha, oriunda do Assentamento Nova Vitória, e um dos seus integrantes salientou a importância da presença do grupo neste espaço, uma vez que, ele foi forjado na militância.

“Temos uma pertença muito grande por esse lugar, que foi quem guiou os primeiros passos da banda Chapéu de Palha, comunidade que faz hoje 30 anos de história, de luta, de conquistas e a festejamos isso com muito prazer,” afirmou Naldo, integrante da banda.

Pereira da Viola também esteve presente nas festividades e falou sobre a emoção em fazer parte da história de lutas do Assentamento Nova Vitória.

“São trinta anos que fazem parte da minha história também… Sou parceiro do MST e dos movimentos sociais como um todo; é de extrema importância para minha vida pessoalmente e para minha carreira… Vivemos um momento especial para reafirmar esse compromisso com a democracia e a liberdade, com as diferenças e as conquistas que conseguimos até hoje.”

No domingo (27), as festividades começaram logo cedo com um torneio de futebol. E os artistas locais Ademar Teixeira, Brinquedo da Viola e Toni Baldi deram continuidade às apresentações musicais.
 

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30 anos de história

O Assentamento Nova Vitória é resultado do processo de negociação com o governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Agricultura. E a integração ao MST deu-se a partir das participações nas mobilizações por educação, crédito, entre outros.

A comunidade surgiu após muitas lutas. Uma delas foi o arrendamento de meio alqueire de terra para construção de uma horta comunitária. Dona Mariana Rosa da Silva, 70 anos, é uma das primeiras moradoras do assentamento e conta com suas palavras como foi essa luta.

“O governo achou que não queríamos trabalhar e falou que, para comprar a terra para nós, primeiro arrendaria meio alqueire de terra para fazermos horta. Trabalhamos na horta, em meio alqueire de terra, com umas dez famílias, para segurar essa terra.” 

A partir daí se criou uma associação denominada “Haste da Terra”, com famílias oriundas do município de Pinheiros, que reivindicaram uma maior extensão de terra para trabalhar e morar. Tais famílias eram formadas basicamente por agricultores e meeiros que haviam sido expulsos do campo.

Após dois anos de reuniões e, com apoio da Igreja Católica, as reivindicações se intensificaram e, no dia 03 de março de 1986, essas famílias conquistaram 540 há de terra. Na época, apenas 32 famílias foram assentadas na área, hoje são aproximadamente 55 famílias.

A conquista da terra foi uma grande vitória para essas famílias. A assentada dona Mariana Rosa lembra que, quando chegaram, não tinha nenhuma estrutura para cultivo da terra.

“Não tínhamos trator, nem caminhão, a gente capinava com os braços. Alguns desanimaram e foram embora. Mas depois, com a ajuda dos maquinários, nós plantamos mais arroz, feijão e colhemos muitas coisas.”
 

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Questionada sobre os 30 anos do Assentamento, dona Mariana nos contou sobre sua alegria e emoção de participar deste momento.

“Sinto-me muito feliz. Ontem mesmo eu estava lá brincando e minhas filhas falaram que eu estava muito alegre. Respondi que estava mesmo, porque a luta que nós tivemos para hoje comemorar os 30 anos dessa conquista. A maior satisfação, para mim, é criar meus netos e bisnetos no sossego dessa terra. Eu comecei na luta e estou aqui até o fim”, concluiu a assentada, entre risos.

Para o MST, são histórias como a de Dona Mariana e tantos outros, que dá força para o Assentamento Nova Vitória, como também para as novas gerações que chegam para somar na luta diária.