“Ou mudamos a forma de vida ou a vida será extinta”, diz presidente da Agapan

A declaração foi dada durante aula pública sobre questão ambiental e alimentação saudável realizada no Acampamento da Legalidade e da Democracia em POA.
MSTMatriz19-1024x682.jpg

 

Leandro Molina (Texto e foto)
Da Página do MST 

“Ou mudamos a forma de vida ou a vida será extinta”. Com esta reflexão o engenheiro agrônomo e presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan),Leonardo Melgarejo, abriu a aula pública sobre questão ambiental e alimentação saudável realizada na manhã desta sábado (16), no Acampamento da Legalidade e da Democracia que segue instalado na Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre.

Melgarejo falou sobre algumas questões técnicas que envolvem a produção de alimentos, e citou seis empresas que hoje são responsáveis pela produção de agrotóxicos no Brasil. Segundo ele, essas empresas dominam o mercado e tentam perpetuar o modelo de produção chamado de preventivo, que despeja milhares de litros de veneno nas lavouras do país.

“Deveríamos usar o modelo curativo, que é o mais indicado e usado pela agroecologia”, disse ele ao explicar que esta forma ataca somente as pragas em locais específicos, sem a necessidade de pulverizar veneno por toda a lavoura como faz o agronegócio.

O engenheiro alertou sobre o uso indiscriminado e glifosato, que é um herbicida popularmenteconhecido como “mata-mato”. Este agrotóxico é o mais comercializado no mundo, e possui uma ação sistêmica. Melgarejo explicou que ao ser aplicado, o veneno percorre toda planta, passando pelas folhas e circulando até as raízes.

Além disso, se aplicação não tiver um controle efetivo pode matar a planta, menos as plantas transgênicas. “Anualmente são aplicados 183 milhões de litros de glifosato nas lavouras brasileiras. Além de tornar o solo menos produtivo isso causa um dano imensurável à saúde”, afirma.

Melgarejo ainda lembrou que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico no mundo, e que cada brasileiro consome cerca de 7 litros de veneno por ano.

Destacou que no Rio Grande do Sul o consumo sobe para 8 litros por habitante, e que na região de Ijuí, no Noroeste do estado, o consumo é de 20 litros por habitante ao ano. “É preciso estabelecer um limite mínimo para uso de veneno. É uma mentira muito grande que a baixa quantidade usada nas lavouras causa um mal menor”, observa.

Veneno financiado com dinheiro público

O engenheiro ainda reforçou a necessidade de novas leis que defendam a vida e a produção de alimentos saudáveis. Citou os projetos de lei do deputado estadual Edegar Pretto (PT) que tramitam na Assembleia Legislativa. Um para proibir a fabricação, comercialização e uso de produtos que contenham em sua fórmula a substância 2,4-D, outro que propõe a rotulagem de alimentos que foram produzidos com uso de agrotóxicos, e um terceiro que proíbe a pulverização aérea de lavouras.

Também destacou projeto de lei do deputado estadual Altemir Tortelli (PT) que trata da educação rural, como forma de incentivar as novas gerações, principalmente do campo, a ter um cuidado maior com o ambiente e produção saudável.

“O glifosato é financiado com dinheiro público, e as empresas que o produzem não pagam impostos. Portanto, é urgente uma nova cultura de cuidado com nossa casa comum. Se a vida está ameaçada, toda a população é responsável por cuidá-la”, alerta.

Melgarejo também fez uma crítica aos professores e doutores que defendem o uso de veneno nas lavouras. Disse que os “especialistas” vivem do medo da população, e que os interesses deles ameaçam os de quem quer viver de forma saudável. “Esses especialistas são como pistoleiros de aluguel que defendem um lado. Então precisamos reforçar o esclarecimento e mostrar quais são nossos interesses”, cobrou.

Outra crítica do palestrante diz respeito aos projetos que tramitam na Câmara dos Deputados, em Brasília, como o que prevê a retirada do símbolo dos transgênicos das embalagens, e outro que, que segundo ele, quer esconder os agrotóxicos da população ao chama-los de produtos fitossanitários.

“É uma grande mentira que existem estudos que assegurem que o uso de veneno é adequado. Decidir não comer transgênicos é uma opção saudável, e deve ser feita pelo consumidor”, frisou.

Ao encerrar a aula pública, Leonardo Melgarejo mencionou a produção de arroz orgânico nos assentamentos do MST da região Metropolitana de Porto Alegre, que trabalha na linha da pedagogia da alternância, diferente do agronegócio que produz sem considerar os danos para a saúde, a contaminação das águas e a fertilidade do solo.

“O que os grande chamam de Commodities nós chamamos de drenagem das riquezas nacionais que ameaçam o futuro de todos nós”, declarou, e concluiu dizendo que os deveres para uma saudável também passam pelas políticas de Estado, e que o processo de democracia contribui para isso, ao se referir da contrariedade que tem em relação ao golpe de Estado em curso no país.