“A elite brasileira que entrou na história do golpe não o fez sem cobrar um preço”, afirma Gilberto Carvalho

Para o ex-ministro, a elite interessada no golpe parlamentar visa excluir o povo da esfera de controle sobre s direitos sociais e bens nacionais.

 

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O ex-ministro Gilberto Carvalho em ato nesse 1º de maio

 

Por Lizely Borges
Da Página do MST

 

Em entrevista concedida durante o ato unificado do Dia do Trabalhador, nesse 1º de maio, organizado pelas Frentes Povo sem Medo e Brasil Popular,  o ex- ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República do governo Dilma, Gilberto Carvalho (PT), reconhece que o governo não garantiu os direitos sociais de parcela da população, Carvalho pontua que esta mesma população integra os atos em defesa da democracia e defende a construção da ação unificada de organizações e movimentos como estratégia de resistência política e econômica. 

Para Carvalho: “a elite brasileira que entrou na história do golpe não o fez sem cobrar um preço, não entrou na luta pelo golpe sem estabelecer uma pauta que lhes interessa e que exclua os trabalhadores”. 

“Eles não querem apenas trocar o governo, sai Dilma entra Temer  ou quem for. Eles querem é mudar a lógica de um avanço progressivo que a classe trabalhadora estava, está e vai construir daqui para a frente. É como no tempo de Getúlio Vargas, que construíram ações que o levaram ao suicídio, como no tempo do Jango que usando do fenômeno da corrupção e do comunismo, na verdade, eles queriam deter a escalada que a classe trabalhadora estava tendo com o reforma de base. É o mesmo catecismo de sempre. Eles vão cobrar do Temer agora esses princípios fundamentais que é tirar direitos dos trabalhadores, que é desestabilizar e romper com as regras fundamentais que asseguram os nossos direitos, as convenções coletivas, a CLT, é romper com o grau de investimento que o governo tem feito com os excluídos, é voltar a ter aos poucos as taxas de lucros, de estabilidade para a exploração fundamental para o capitalismo internacional investir aqui”, afirma. 

Qual a importância da tomada das ruas pela classe trabalhadora, em especial neste primeiro de maio, dado o contexto político e econômico presente?

O dia primeiro de maio é um dia muito propício para que nós da classe trabalhadora façamos a reflexão de que só com a luta, com a generosidade e com a visão muito clara da realidade, com um diagnóstico muito claro do que está acontecendo no país nós conseguiremos superar a crise que nos envolve neste momento, mais do que crise trata-se um golpe que está em curso no Congresso Nacional e nos Poderes da República.

Nesse momento, ao lado dessa traição do vice-presidente, do Cunha presidindo aquela sessão que nos envergonha profundamente, ao lado desse sofrimento, nós temos uma novidade muito importante que é a união das forças populares que representam de fato o povo e que está produzindo um processo extraordinário de mobilização. E quem participa das mobilizações se dá conta que nós estamos unificando nestes procedimentos gente que não é ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT), base aliada do governo, pelo contrário, tem muita crítica ao governo, mas que generosamente entendendo o momento, o que está em jogo, vai para a rua defender a democracia e a permanência de direitos sociais e conquista de novos direitos e contra a ameaça que este golpe está trazendo a tudo isso. Destaco a importância que esta frente se consolide, as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, os artistas, a juventude – nós precisamos de maturidade para conformar uma unidade básica, superando as atuais divergências e construir progressivamente uma unidade cada vez mais orgânica na ação concreta porque esta unidade será não só um bloco de resistência, mas também de avanço.

Vai permitir, assim desejamos, que supere esta crise e Dilma continue no poder e fazer com que seu governo vá mais para os temas populares e entenda que aquilo que é fundamental para ela não são os grandes capitalistas, mas a força do povo, e isso tomando medidas que atendam mais a classe trabalhadora. No caso de uma derrota nossa, a gente vai construir um pólo de resistência fundamental para impedir que eles quebrem nossos direitos, com os princípios democráticos, como eles estão fazendo. Eu tenho preocupação com este momento, todos nós estamos tristes, mas eu tenho otimismo que este processo possa gerar uma nova força política mais ampla e que ajude, inclusive, o PT a se revisar e romper com aquilo que foi ambiguidade, foi adaptação ao jeito tradicional de fazer política e avance nas pautas importantes como reforma política, agraria, tributária.

Como avalia as críticas aos movimentos sociais diversos que saem em luta pela democracia e são vistos como governistas?

É evidente que o lado de lá não ficará quieto. As pessoas honestas, mesmos do outro lado, estão cada vez mais constrangidas. A votação do dia 17 [votação da Camará de Deputados que deu abertura ao processo de análise do impeachment] só mostrou quem está do outro lado. A defesa que fizeram do impeachment constrangeu muito.

Então as forças conservadoras têm tentado desqualificar naturalmente o lado de cá, os militantes que estão indo para rua a troca de nada, pelo contrário, é gente que foi muitas vezes desprezada pelo nosso governo, lamento dizer isso, mas é real, gente que não foi recebida neste tempo, que não teve seus direitos atendidos, mas mesmo assim, por entender a democracia está indo para as ruas. Então essas acusações que as pessoas estão sendo financiadas, que estão recebendo trinta reais, que é gente aparelhada, não merece o mínimo respeito, porque essa gente é lutadora, e entende que o bem da nação é maior, neste momento, do que seus interesses particulares.

O que significa para a classe trabalhadora a aprovação de projetos de lei que estão em tramitação no Congresso Nacional e que afetam diretamente à direitos sociais já consolidados ou ainda não efetivados?

A elite brasileira que entrou na história do golpe não o fez sem cobrar um preço, não entrou na luta pelo golpe sem estabelecer uma pauta que lhes interessa e que exclua os trabalhadores. Eles não querem apenas trocar o governo, sai Dilma entra Temer  ou quem for. Eles querem é mudar a lógica de um avanço progressivo que a classe trabalhadora estava, está e vai construir daqui para a frente. É como no tempo de Getúlio Vargas, que construíram ações que o levaram ao suicídio, como no tempo do Jango que usando do fenômeno da corrupção e do comunismo, na verdade, eles queriam deter a escalada que a classe trabalhadora estava tendo com o reforma de base. É o mesmo catecismo de sempre. Eles vão cobrar do Temer agora esses princípios fundamentais que é tirar direitos dos trabalhadores, que é desestabilizar e romper com as regras fundamentais que asseguram os nossos direitos, as convenções coletivas, a CLT, é romper com o grau de investimento que o governo tem feito com os excluídos, é voltar a ter aos poucos as taxas de lucros, de estabilidade para a exploração fundamental para o capitalismo internacional investir aqui.  

Não vamos esquecer que este fenômeno não é brasileiro, é do comportamento da elite internacional e que inclusive ajuda a financiar estes movimentos de rua. Esta provado que estes movimentos [de apoio ao golpe] tem financiamento de organizações norte-americanas. O que está em jogo, de fato, é a autonomia de construção política e econômica do país. Eles estão de olho no Pré-sal, nas nossas riquezas estratégicas. Já estão anunciando, antes de chegar ao governo, o processo brutal de nova onda de privatização, o que significa tirar do povo a possibilidade de controlar as riquezas e jogar para as multinacionais. Então é por isso que a gente tem que lutar em defesa do país, porque senão fizermos o Brasil vai virar, de fato e cada vez mais, uma república bananeira, exportando aquilo que é primário para eles lá fora ganhem mais riqueza.