Movimentos sociais fazem história na luta pela terra em Alagoas

Com passagem por diversa cidades, marcha foi encerrada em Maceió com o apoio de 2500 Sem Terra, além da sociedade civil.

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Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

 

Em mais de 80 km percorridos, cerca de 1500 trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra, juntamente com outros movimentos da luta por terra, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), Movimento de Luta pela Terra (MLT), Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) e Terra Livre, construíram diálogo junto à sociedade alagoana e demonstraram a grande expressão da força e da organização dos que construíram a Marcha em Defesa da Reforma Agrária, da Democracia e Contra o Golpe.

“Nas cidades de União dos Palmares, Branquinha, Murici, Messias ou em Maceió, cada passo dado coletivamente por homens, mulheres, jovens e crianças foi exemplo para o povo alagoano de que é a luta e a resistência que nos trará as conquistas dos nossos direitos”, afirmou José Roberto, da Direção Nacional do MST.

Após diversas atividades e mobilizações em Maceió, os Sem Terra realizaram uma grande assembleia em praça pública, onde finalizaram as ações da Marcha em Alagoas. “Nossa Marcha e nossa unidade fez história na luta pela terra em Alagoas. E ela não termina aqui, ela agora inicia um novo processo em nossos assentamentos e acampamentos, na defesa da Reforma Agrária e dos direitos da classe trabalhadora”, disse.
Ações em Maceió

Em Maceió, desde a última quinta-feira (28), já se somavam à Marcha cerca de 2500 Sem Terra que participaram do ato unificado do dia do trabalhador/a, em 1º de maio, e que seguiram acampados na cidade.

Na manhã de terça-feira (03), os Sem Terra reuniram-se com o presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), Washington Luiz, onde pautaram a imediata suspensão das ordens de reintegração de posse, em especial ao novo despejo já marcado para o acampamento São José, em Atalaia, área onde foi assassinado, há dez anos, Jaelson Melquíades, dirigentes do MST.

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Para Margarida da Silva, da Direção Nacional do MST, a unidade dos movimentos do campo foi fundamental para realizar essa pressão junto ao Poder Judiciário, “se não fosse a unidade das nossas organizações, não teríamos chegado até aqui”.

“O processo de reintegração de posse do Acampamento São José tomou uma dimensão gigantesca. Grande parte da sociedade vem se sensibilizando aos nossos companheiros e companheiras que vivem e resistem embaixo da lona preta, como o exemplo do Arcebispo de Maceió, que fez o pedido para que o Tribunal de Justiça olhasse para o povo que vive ali há 12 anos acampado. Isso para nós é importantíssimo, pois fortalece no conjunto da sociedade a real necessidade para a realização da Reforma Agrária”, comentou Margarida.

Segundo a dirigente, o presidente do Tribunal comprometeu-se a realizar esforços para a suspensão do despejo e o permanente diálogo para acompanhar e analisar o andamento do processo de negociação da área.
Os Sem Terra também participaram de audiência com o governador, Renan Filho (PMDB), quando discutiram as reintegrações de posse, além das questões referentes à criminalidade e à violência contra os trabalhadores rurais, além da exigência de intervenção do governo do Estado para destinar as áreas do Grupo João Lyra para fins de Reforma Agrária.

“O próprio governo sinalizou importante postura com relação à disputa da área onde hoje fica o Acampamento São José”, afirmou Margarida. “O governo comprometeu-se no que for necessário para evitar que a polícia vá ao acampamento antes das questões que envolvem a área serem julgadas”, explicou.

Em relação às terras do Grupo João Lyra, o governo constituirá um grupo de trabalho que terá a tarefa de operacionalizar e otimizar a negociação e diálogo no que diz respeito ao imediato assentamento das famílias que hoje vivem acampadas, em especial nas áreas da Usina Laginha. O grupo será constituído por representações dos movimentos sociais, poder judiciário, do Comitê de Mediação de Conflitos Agrários, além da representação jurídica da massa falida.

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Violência e a criminalidade no campo

Os Sem Terra também participaram de reunião com o Secretário de Segurança do Estado, além de negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Pautando a violência e a criminalidade no campo alagoano, os trabalhadores/as reivindicaram a imediata prisão de mandantes e executores de crimes cometidos contra os trabalhadores e lideranças rurais. “A violência no campo é o reflexo da impunidade e do silêncio do estado brasileiro com os inúmeros casos de mortes de Sem Terra. Somente em Alagoas, temos diversos exemplos de companheiros que foram assassinados e, mesmo com mandantes e executores sendo de conhecimento do estado, ninguém é punido”, denunciou Margarida.

Na próxima terça-feira (10), uma nova reunião entre os representantes dos movimentos sociais e o Secretário de Segurança, onde deve ser entregue um documento com as informações e reivindicações dos Sem Terra, relatando os casos e a exigência dos julgamentos dos assassinatos no campo alagoano.

Na avaliação de Josival Oliveira, do MLST, a experiência de caminhar mais de uma semana trouxe um sentimento muito especial para cada Sem Terra. “A vitória de nossa marcha está na coragem de, diante de uma conjuntura como essa, termos passado por onde passamos, estabelecendo o diálogo com a sociedade, construindo um processo de formação e trabalho de base”

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