Educandos do MST recebem o 9º Prêmio Orirerê

Foram mais de 500 trabalhos inscritos dos colégios estaduais de 79 cidades paranaenses, entre elas de duas escolas MST.
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Por Riquieli Capitani
Da Página do MST

Na tarde da última quinta-feira (19), no plenário da Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba, foram entregues os diplomas a alunos e professores que participaram do 9º Prêmio Orirerê – Cabeças Iluminadas, com o tema “Zumbi dos Palmares – Herói Nacional”, nas categorias de pintura, redação e música.

Foram mais de 500 trabalhos inscritos dos colégios estaduais de 79 cidades paranaenses, entre elas de duas escolas do MST, o Colégio Estadual do Campo Contestado, no Assentamento Contestado, na Lapa, que venceu como melhor redação, e a Escola Itinerante Paulo Freire, situada no Acampamento Reduto de Caraguatá, no município de Paula Freitas, ganhadora como melhor pintura.

O prêmio – que foi criado em 2009, pelo Centro Cultural Humaitá, no Paraná, tem como objetivo valorizar e dar visibilidade a cultura africana e à presença negra no estado -, levou os autores dos melhores trabalhos para conhecer o Museu Afro Brasil, em São Paulo.

A professora do Colégio Contestado, Adriana da Silva Alexandre, conta que todos os anos na Semana da Consciência Negra, é trabalhado o tema da cultura africana, e a importância de Zumbi dos Palmares da história brasileira, na escola toda, no período da manhã, tarde e noite os alunos produziram materiais sobre essa questão.

“Eu fiquei sabendo do 9º Prêmio Orirerê, e com base no que já estávamos trabalhando com os alunos, os textos e filmes que abordavam Zumbi dos Palmares, foi incentivado, nas salas de aula, a produção de painéis e a produção textual. Após isso, fiz a inscrição de dez alunos, e no início desse ano veio essa premiação que abrilhantou nossa escola, onde a Inetti foi contemplada ao escrever o texto “19 de novembro de 1695”, comenta Adriana.

“Pra mim é muito gratificante estar recebendo esse prêmio, porque sou uma aluna do campo, uma aluna do MST, é muito bom. E sim, isso vai continuar me dando forçar para continuar escrevendo e tendo novas inspirações para contar as histórias”, afirma Inetti.

Inetti foi convidada a fazer a leitura do seu texto na tribuna de honra da Assembleia Legislativa, para as mais de 200 pessoas que estavam presentes no ato de premiação, e ao terminar ela falou duas palavras de ordem do Movimento “MST, por escola, terra e dignidade”, e “Fechar escola é crime”, que faz referência as várias escolas que estão sendo fechadas no campo.

Já a Escola Itinerante Paulo Freire, decidiu a participação do concurso pela categoria painel, onde cada turma produziu um trabalho de pintura e deliberou coletivamente qual iriam inscrever no concurso, no qual foi escolhido o da turma do 9º ano: “Punhos de pedra, zumbi nosso herói inspiração da nossa luta”.

 

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Veja abaixo o texto premiado.
 
19 de novembro de 1695
 
Lá vem ele! Correndo feita onça, cansado que só…
 
Ah, menino magro, mais forte, inteligente, espoleta. Lá na roça de milho, plantava e olhava, na verdade mais brincava do que trabalhava: oh menino! Busca o boi, o menino
planta a horta! Atá, eu pegava e corria pro mato, ficava comendo jabuticaba, mas é claro eu respeitava todos, e quando era pra eu fazer, ah… Eu fazia…
 
Nasci, lá por volta de 1655, no quilombo mesmo, lembro-me das nossas cantorias, todos se ajudavam. Quando era criança, fui capturado, me entregaram para um senhor ‘diferente’, falavam que era um jesuíta, no começo, fiquei ressabiado, mas ele era como um pai para mim me ensinou diversas coisas, entre elas algumas línguas estrangeiras, mas isso não me tirava à saudade de meu povo, de minha terra, além disso, me batizaram de… Francisco. Era &”39;piá’, tinha 15 anos, não aguentei e fugi.
 
Era tão esperto, fui um estrategista, por isso me tornei líder do quilombo, quando meu tio Canga Zumba veio a faltar. Certa noite de luar fui com mais alguns negros até uma fazenda de cana-de-açúcar libertar nossos ‘irmãos’, ah! Éramos verdadeiros guerreiros.
 
Até que um dia bandeirantes invadiram Palmares, e o destruíram, eu corri, fugi. Mas fui preso, e estou aqui nesse lugar horrível, esperando… Por isso escrevo essa carta rapidamente, pra ninguém ver, e deixo-a entre as pedras da parede, mas antes preciso dizer o nome do traidor, era um de meus aliados, Antônio Soares… Está vindo alguém!
 
Que minha história seja lembrada…
 
Extra, extra, 20 de novembro de 1695, o líder de Palmares é morto.

 

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