Curso básico forma militantes da classe trabalhadora no Rio Grande do Sul

​Ao todo, serão cerca de oito horas de estudos por dia em sala de aula, com o complemento de leituras, atividades práticas e participações em lutas populares que acontecem durante o período do curso.
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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Formar lutadores da classe trabalhadora. Este é um dos objetivos centrais do Curso Básico de Formação de Militantes, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e oferecido hoje em nas cinco regiões do país.

Ao todo, cerca de 60 acampados e filhos de assentados da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul participaram do processo de formação, num período de 30 dias – entre os meses de maio e junho – , no Centro de Formação Sepé Tiarajú, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre.

O curso básico faz parte da história do Movimento há pelos menos 26 anos, quando foi realizada a sua primeira edição em nível nacional, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), no estado de São Paulo.

Com a descentralização do processo de formação para as grandes região do país, o curso já chega a sua 8ª edição na região Sul no próximo mês de setembro, quando cerca de 100 Sem Terra do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná devem se deslocar novamente até o Assentamento Filhos de Sepé, no estado gaúcho.

De acordo com Geronimo Pereira da Silva, do setor de Formação do MST/RS, o objetivo do curso é formar militantes que compreendam a história dos trabalhadores, o que é e como se dá a luta de classes e como ela se expressa nas diferentes localidades.

“A história dos trabalhadores foi sendo negada a eles ao logo dos tempos. Nós conhecemos histórias de grandes homens através dos livros, que não nos contam o protagonismo do povo e das mulheres. Alexandre, o Grande, construiu um grande império mas quem estava por trás disso eram milhares de pessoas. Essa negação da história dos trabalhadores é típica da burguesia para justificar o seu projeto de exploração. É nesse sentido que o curso ajuda os alunos a visualizarem os ataques de inimigos, como o capitalismo, nos seus espaços de convívio”, disse Silva.

Nos 30 dias de curso, os alunos trabalharam com métodos práticos e teóricos, envolvendo a formação humana em eixos como trabalho, vivência, estudos e organicidade. Além de serem instigados a pensar o assentamento que desejam construir, os alunos têm envolvimento com diversas disciplinas, como filosofia, economia política, questão agrária, método do trabalho de base, teoria da organização, agroecologia, trabalho e renda, reforma agrária popular, entre outras.

Ao todo, serão cerca de oito horas de estudos por dia em sala de aula, com o complemento de leituras, atividades práticas e participações em lutas populares que acontecem durante o período do curso.

“A maioria dos participantes é acampados de todas as regiões do estado. E se o acampamento é um espaço de transição eles têm que começar a pensar o assentamento que querem construir, tendo consciência de que ele será o reflexo de como o povo se organiza enquanto acampado. Além dessa auto-organização, que também abrange processos de crítica e autocrítica, nosso objetivo é formar militantes para a luta da classe trabalhadora, e que sejam capazes de planejar ações de base e de massa”, afirmou o educador.

 

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Organização popular

O acampado Daltair Beiger, 46 anos, estava numa ocupação do MST quando ficou sabendo do curso, e levou junto a esposa Flávia da Silva para participar da formação. Para Beiger, o aprendizado vai contribuir na organização do acampamento onde mora, o Dom Tomás Balduíno, em Eldorado do Sul. “O curso nos fez compreender melhor as razões da luta da classe trabalhadora.

Se hoje estamos morando num acampamento, debaixo de lona preta, não é porque gostamos, mas sim porque a sociedade nos obriga a procurar um novo meio de vida. Para nós, que temos a raiz do campo, a única maneira de conseguirmos melhores condições de vida é estando na luta. Nosso objetivo é para além da conquista da terra, pois envolve trabalho, autossustento, renda e dignidade. O MST nos deu essa oportunidade de trabalhar a nossa própria história, porque sabe que o estudo melhora a vida das pessoas”, argumenta o acampado.

O curso básico também levou para o centro de formação a jovem Liliane Martins, de 19 anos, filha de agricultores do Assentamento Os Pioneiros, em Candiota, na região da Campanha. Segundo ela, que concluiu o ensino médio em 2014 e tentou ingressar em Jornalismo em 2015, os estudos estão entre as prioridades de sua vida. “Estudei no Centro de Educação Popular e Pesquisa em Agroecologia em 2015, mas fiquei desesperada quando ocorreu o trancamento do curso, pois quero muito continuar estudando.

Quando surgiu a oportunidade de fazer o curso básico eu não pensei duas vezes e vim participar”, explica. Liliane, que quer ingressar na turma especial de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), conta ainda que o aprendizado irá ajudá-la na organização do grupo de jovens e em iniciativas como a construção da Frente Brasil Popular na região da Campanha.

Durante o curso, os educandos também visitaram a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), e dialogaram sobre alimentação saudável com agricultores do Assentamento Capela e moradores do Acampamento Dom Tomás Balduíno, ambos na região Metropolitana de Porto Alegre.

Turma Sepé Tiarajú

Durante cada edição do curso os alunos elegem o nome da turma. Os Sem Terra gaúchos optaram por homenagear Sepé Tiarajú, por haver uma identificação política e coletiva com o herói indígena. Além disso, cada um dos sete núcleos de base, nos quais a turma de reunia, homenageou um lutador ou lutadora do povo e criou um grito de ordem que dialoga com sua história.

 

*Editado Por Maura Silva