Festival de música quebra ‘espírito competitivo’ e seleciona 20 canções
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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Fotos: Leandro Taques
Foram dois meses recolhendo e selecionando canções de todas as partes do Brasil até que fossem selecionadas apenas 40 músicas para que participassem do Festival Nacional de Música &”39;Da Luta Brotam Vozes de Liberdade&”39;, realizado entre os dias 21 e 23 de julho, em Belo Horizonte (MG).
Depois de dois dias de apresentação na Serraria Souza Pinto, onde ocorre o Festival Nacional de Artes e Cultura da Reforma Agrária, finalmente saíram, na noite desta sexta-feira (22), os 20 músicos que terão suas canções gravadas num CD. (Veja a lista dos selecionados no final do texto).
Entretanto, para os jurados que participaram deste processo seletivo, o maior significado fora a prova de que é possível compartilhar música e valorizar a cultura brasileira do campo e da cidade deixando de lado a competitividade e o individualismo.
O contraponto ao modo tradicional de fazer festivais no país e o caráter coletivo do evento ficam evidenciados durante as apresentações: entre uma e outra, artistas populares sobem e descem do palco, tanto para cantar suas músicas quanto para ajudar na apresentação de seus companheiros Sem Terra e amigos do Movimento.
Outro diferencial é o ingresso ao local do evento: todas as pessoas podem acompanhar as apresentações, durante os três dias, sem pagar nada por isto.
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“Aqui não há primeiro, segundo ou terceiro lugar. Há uma seleção, mas todos são premiados com troféus, sem distinção de lugar. Todos participam com o intuito de compartilhar o seu trabalho e a sua arte. Teve multiplicidade, diversidade de gêneros e de ritmos, teve espírito de igualdade e coletividade. Ao mostrar que é possível sair do mundo competitivo, o MST fez a democratização da arte, e a quebra desse paradigma deve servir de exemplo para outros festivais”, avalia a jurada e cantora mineira Aline Calixto.
Junto a Aline, nas últimas duas noites, outros três músicos se somaram à mesa em frente ao palco para selecionar 20 das 40 músicas inéditas apresentadas no festival e que serão gravadas num CD – 10 de autoria de militantes do MST e outras 10 de amigos do Movimento. Elas serão reapresentadas na noite deste sábado, a partir das 19h30, na Serraria Souza Pinto. Além disso, todas as 40 canções selecionadas para o festival – 20 de militantes do MST e 20 de amigos do movimento – estarão num DVD.
Espaço de resistência
Para o jurado gaúcho Pedro Munhoz, o evento surge como um novo espaço de resistência para combater as disputas e as desigualdades imposta pelo capitalismo. “O combate que estamos fazendo através do festival chegou atrasado, pois a sociedade capitalista e seus meios de consumo sempre estiveram presentes na vida dos brasileiros. Essa construção é importante para estabelecer um contraponto e fazer com que a população saiba que existe um outro viés musical se concretizando”, explica o músico.
As letras das canções apresentadas prenderam a atenção da cantora mineira Déa Trancoso. A maioria trata sobre a luta por Reforma Agrária Popular e a conjuntura social e política do país. “O festival nos traz a realidade cantada, mostra o Brasil que se quer construir e denuncia a opressão que sofre os trabalhadores. Ele é poesia, arte e luta política. Mesmo no enfrentamento da corrupção, da hipocrisia e de um governo ilegítimo, é metafísico ver o MST tornando real um evento como este. Essa iniciativa só tem quem pensa uma nova vida e defende um novo país”, disse Déa.
Conforme o jurado Rafael Lima, do Pará, além de revelar talentos e pessoas que se interessam pela história da luta pela terra, o festival é uma utopia, realizada por não ter caráter competitivo, e uma ferramenta de resistência cultural. “Jamais veremos um festival como este, em outros âmbitos, nacionalmente. Ele é a prova da resistência, e quem resiste culturalmente é capaz de resistir amplamente a tudo, inclusive aos golpes”, finalizou.
Confira as 20 músicas selecionadas que serão gravadas em CD e DVD:
Amigos do MST:
1. Sem Terra, violeiro viajante – Lucas Reis e Wellington Torres (PI)
2. Eis a questão – José Ricardo Maciel Nerling e Helton José Zanchi (RS)
3. Aboio por justiça e paz – Neudo Oliveira (PE)
4. Em cada canto de Minas – Bruna de Castro Gavino (MG)
5. Longa jornada – João Paulo Rosa (PE)
6. Eu não – Moisés Henrique Sousa Silva (MG)
7. 7 palmos – Chico Nê (MA)
8. Fecunda-Ação – Anita Lima (SP)
9. Tambores em Marcha – Renato Albino Gonçalves (MG)
10. Ferro e fogo – André Luís da Silva Monteiro (MG)
Militantes do MST:
1. Migrantes – Ramão Aldo Antunes da Silva (MS)
2. Direito das crianças do campo – Alexandre Soares de Almeida (MG)
3. É assim no meu sertão – Rosalvo José dos Campos e Florisvaldo da Silva Leite (BA)
4. Terra de ninguém – Gilvan Santos (PI)
5. Triste lembrança – Valdemir Joaquim de Oliveira (MS)
6. Quantos gritos – Lupércio Damasceno (SE)
7. Terra da nação – Sérgio Apolinário da Silva (SP)
8. Rapadura – Danilo Araújo (SP)
9. Rumo à nossa utopia – Grupo de Cultura Arte e Terra (RO)
10. A juventude quer – Noel Gonçalves de Oliveira e Gilmar Endelmann (MG)