Armazém do Campo inaugura como nova opção para consumo de alimentação saudável em SP

Lotada durante todo o sábado, loja recebeu seus primeiros clientes e apoiadores em busca dos produtos de assentamentos.

 

Por Rute Pina 
Do Brasil de Fato 

 

Centenas de pessoas estiveram presentes na inauguração do Armazém do Campo neste sábado (30). Iniciativa do MST, a loja suprirá a demanda por um espaço de comercialização de produtos orgânicos na cidade, uma percepção do Movimento, intensificada na I Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada no Parque da Água Branca no ano passado – à época, mais de 200 toneladas de alimentos provenientes de assentamentos de todo o país foram comercializadas.

Todos os produtos da loja são oriundos de assentamentos, cultivados por pequenos agricultores ou produzidos por empresas parceiras, que visam à produção orgânica e agroecológica.

Segundo o MST, o Armazém do Campo será uma vitrine da produção do Movimento, que espera ampliar esta experiência para outros estados, além do comércio pela internet.

Além de moradores da região e de outros bairros da cidade, estiveram presentes no evento o prefeito Fernando Haddad, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, o ex-senador Eduardo Suplicy, Douglas Izzo, presidente da Central Única dos Trabalhores de São Paulo (CUT-SP), o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, os deputados federais pelo PSOL Luiza Erundina e Ivan Valente, entre outros.

Consumo saudável

A produtora Pary Souza, 51 anos, que mora no bairro Campos Elíseos, conta que a movimentação no número 499 da Alameda Eduardo Prado, chamou a sua atenção nesta semana. Andando pela rua, viu um rapaz descarregando caixas para um galpão que ela nunca havia reparado antes.

“Como moro do lado, fui perguntar o que era. E me falaram que seria um armazém que venderia produtos orgânicos e um café. Achei ótimo que teria uma nova opção”, comentou. Um colega lhe contou depois que aquele era um espaço onde encontraria produtos vindos de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Achei melhor ainda porque além de comprar o produto, ainda a ajudamos na causa”, riu.

Pary afirma que um dos empecilhos para integrar melhor os orgânicos à sua alimentação ainda é o preço. “Semprei gostei de produtos naturais, sou daquela geração natureba”, brincou.

O publicitário Liverson Costa, de 47 anos, costuma comprar orgânicos semanalmente. Ele disse acompanhar as novidades do segmento e por isso saiu da Zona Norte, onde mora, apenas para conhecer o Armazém. Mesmo pagando um pouco mais caro e hoje, na inauguração, enfrentando a fila por causa da casa cheia, ele prefere os produtos agroecológicos, pois quer evitar o consumo de venenos. “As grandes indústrias não têm a intenção de alimentar a população, elas não têm nenhuma relação com a terra”, disse.

Quem também afirmou consumir quase diariamente produtos orgânicos por questões de saúde foi o professor de ciências sociais René Estevam. “Já é um hábito. E quando fiquei sabendo que iam abrir este espaço, vim conferir porque acho muito importante a cultura do orgânico”, disse. René destacou também que estes pontos de consumo são importantes para a democratização destes produtos.

Fortalecimento da luta

O professor René Estevam também acredita que a loja é a demostração de novos caminhos pelos quais a reforma agrária deve escoar sua produção e representa a valorização do campesinato e uma maneira de fortalecimento dos movimentos populares através do diálogo com a população. “Temos que interagir para ganhar força e fazer as coisas acontecerem. Eu acho que esse espaço vem neste movimento de criar estas iniciativas interessantes”, pontuou.

O dirigente nacional do Movimento, João Pedro Stedile, afirmou que a loja reflete a mudança de entendimento do que atualmente é a reforma agrária. “O novo paradigma, e onde se deve focar as políticas públicas, é produzir alimentos saudáveis. Portanto, a reforma agrária não é mais só camponesa, mas popular e deve interessar todo o povo e nosso compromisso é produzir esses alimentados saudáveis”, disse. Ele aproveitou a ocasião para homenagear a engenheira agrônoma brasileira Ana Maria Primavesi, cuja produção acadêmica se centra no manejo ecológico dos solos e na busca de outros modelos de produção agrícola, diferentes daqueles estabelecidos pelo agronegócio.

Também presente na inauguração do Armazém, o jornalista Paulo Henrique Amorim disse que o espaço não é apenas a demonstração da força de produção e comercialização do MST, mas explicita a capacidade política de resistência do movimento. “É um movimento criminalizado e perseguido, mas sobrevive. E mais do que nunca o MST é necessário”, disse.

A advogada Flávia Maria, de 34 anos, decidiu sair da Moóca, bairro da Zona Leste, para vir até o Armazém. Ela também acredita que a loja ajudará a desmitificar a imagem que a população tem do Movimento. “As pessoas têm uma ideia muito errada das tais invasões, como a mídia costuma chamar. É necessário mostrar que os Sem-Terra e assentados trabalham e produzem”, disse. Flávia destacou também que o consumo dos produtos é uma forma de geração de renda para os pequenos agricultores.

 

Veja vídeo da inauguração aqui