Uma história de luta que reflete a construção do MST na Bahia

Cada história compõe o processo de luta do MST na Bahia, que neste 07 de setembro completou 29 anos de resistência, construção política e organização

 

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Mota se formou em Técnico de Gestão Agrícola, é integrante da direção estadual do MST e mora no Projeto de Assentamento Bela Manhã.

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Desde a última segunda-feira (5), 1500 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra ocupam o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Salvador, por tempo indeterminado.

Com o acampamento montado na área externa do órgão, as histórias de vida dos trabalhadores são contadas nas rodas de conversa e nas trocas de experiências vividas nas lutas em defesa da Reforma Agrária.

Cada história compõe o processo de luta do MST na Bahia, que completou nesta quarta-feira (07), 29 anos de resistência, construção política e organização de suas bases. Em meio a tantas história, uma delas se destaca.

José Mendes da Mota, 39, está nesta caminhada junto ao MST desde os 10 anos idade. Oriundo de uma comunidade quilombola, do município de Itanhém, no extremo sul da Bahia, seus familiares foram convidados a se somarem a luta pela terra e contra toda forma de exploração do latifúndio, a partir daí, sua “vida tomou novos rumos”.

Junto aos seis irmãos analfabetos, bem como seu pai e sua mãe, Mota participou da primeira ocupação de terra do MST no estado que foi realizada em 1987, na Instância 40 45 – que possui mais de 5 mil ha -, município de Alcobaça. Para realizar a ação foram mobilizados milhares de trabalhadores e trabalhadoras da sede do município e de cidades circunvizinhas.

“A ocupação foi tranquila. Não houve truculência, porém a militância que estava organizando o acampamento estava sendo perseguida. O objetivo da perseguição era frear o processo de luta pela terra que estava nascendo no estado”, conta Mota.

O acampamento estava montado no “coração” do latifúndio de celulose, chamado de deserto verde pelas primeiras lideranças do movimento na região, e ali se consolidava o desafio de ampliar as relações políticas com a sociedade em denúncia ao modelo de produção do agronegócio, com ênfase nos impactos ambientais provocados.

Vida no acampamento

“Tudo era muito primário, tendo em vista que era a nossa primeira experiência dentro do Movimento, e muitas dificuldades foram enfrentadas. Desde a estrutura de lona, que de dia é muito quente e a noite é muito fria, até a alimentação”, lembra Mota.

Na época, o acampamento contou com o apoio de sindicatos e da igreja católica, porém estava localizado no meio de uma mata densa onde o transporte não era acessível. As doações de alimentação, por exemplo, na maioria das vezes, tinham que ser carregadas nas costas dos acampados por mais de 20 km.

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“Provamos na prática que uma vida digna é possível e que a
Reforma Agrária muda a vida das pessoas”.

“A solidariedade foi no princípio do período de acampamento. Uma lata de óleo era dividida entre dez famílias. Cada um vinha com seu copo e ali a gente dividia. Assim foi construída a nossa luta até conseguirmos estruturar nossa produção”.

O militante relata a primeira vez em que ele e seus irmãos tiveram acesso à educação. “A primeira escola frequentada por mim e meus irmãos foi no acampamento. Aprendemos a ler e escrever debaixo da lona preta, em cadeiras improvisadas feitas de madeira e com a ajuda de professores voluntários”, explica Mota.

“Uma vida digna é possível”

O acesso a terra foi um dos grandes objetivos que nortearam o surgimento do MST na Bahia. Com a ocupação do 40 45 essa questão se materializou. Um ano e seis meses após a ação foi decretado, oficialmente, o processo de desapropriação da área.

E a luta pela terra ganha traços de transformação da realidade na vida dessas famílias. O dirigente relata essas mudanças e pontua que o acesso a uma educação pública de qualidade e a possibilidade de produzir em suas áreas compõe esse trajeto na busca por uma vida digna.

“Muita coisa mudou na vida de minha família. O que trago com maior destaque foi a faculdade feita pelos meus irmãos, que hoje são profissionais da educação. Além disso, temos diversas criações de animais e plantações. As dificuldades diminuíram muito. Provamos na prática que uma vida digna é possível e que a Reforma Agrária muda a vida das pessoas”.

Como filho dos titulares do assentamento, Mota se formou em Técnico de Gestão Agrícola e é dirigente estadual do MST. Ele também se acampou e hoje está morando no Projeto de Assentamento Bela Manhã, em Teixeira de Freitas. 

*Editado por Iris Pacheco