Unidade: nossa principal arma contra o golpe

O papel de uma Frente não é de apenas somar as forças existentes, mas multiplicar sua capacidade de ação
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Gebrim: “A luta contra o golpe e sua nova ofensiva neoliberal será longa. É hora de jogar energias na retomada do funcionamento da Frente Brasil Popular” / Arquivo pessoal

 

Por Ricardo Gebrim* (Publicado do Brasil de Fato) 

A classe dominante aposta na permanente fragmentação das forças populares. Ao longo do enfrentamento ao cerco político conservador que produziu o golpe contra a presidenta Dilma, nossa maior conquista organizativa foi a Frente Brasil Popular.  Mais uma vez, a atual geração de lutadores pôde comprovar o ensinamento de que a unidade é mais poderosa arma de um povo em luta.  Essa geração constatou que os meios de comunicação têm consciência do perigo que representa a unificação nacional das lutas. Que juntos não dispersamos energias e potencializamos nossa força.

A “Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional”, em El Salvador, e a “Frente Ampla”, no Uruguai, constituem os dois casos bem-sucedidos de frentes políticas das forças de esquerda, com caráter estratégico, na América Latina.

Na história do Brasil, temos uma preciosa experiência de construção de uma Frente, na década de 1930, com a Aliança Nacional Libertadora. Criada para lutar contra a influência do fascismo, cresceu e se enraizou por todo o país, aglutinando um amplo campo democrático e apresentando um programa político com itens que até hoje permanecem atuais.

Nenhuma dessas experiências poderá ser copiada, mas todas elas nos comprovam que a ação é o melhor cimento da construção da unidade. Uma verdadeira Frente, que congregue efetivamente as principais forças e organizações populares, é uma construção paciente, que exige confiança mútua, dedicação e respeito entre seus participantes. Ela não pode se resumir ao imprescindível trabalho de articulação ou conformar-se a ser uma organizadora dos calendários de lutas e atividades.

Assim como não pode permitir o hegemonismo de nenhuma das forças que a compõem, jamais deverá estar a serviço de qualquer projeto individual. Em outras palavras, seu papel não é de apenas somar as forças existentes, mas de multiplicar sua capacidade de ação.

Sabemos que a confiança mútua é construída nas lutas e exige tempo. Especialmente as lutas de rua, como manifestações, greves gerais e campanhas unitárias.

Em geral, as experiências históricas demonstram que o terreno da luta eleitoral nunca é o mais favorável para iniciar a construção da unidade. Ocorre que o calendário eleitoral não nos deu o tempo suficiente para avançarmos na consolidação de nossa unidade, impedindo a construção de candidaturas unitárias nestas eleições municipais.

E exatamente por isso que o período eleitoral, ao invés de aprofundar e consolidar o funcionamento da Frente, acabou por dificultar reuniões e debates que vinham se desenvolvendo em inúmeros municípios e bairros por todo o país.

Além disso, a pulverização de candidaturas de partidos que compõem a mesma Frente contribuiu para piorar o desempenho das forças que lutam contra o golpe nas urnas. Por isso é fundamental retomar e ampliar o processo de enraizamento da Frente Brasil Popular, impedindo que mágoas e rancores inevitáveis que se acumulam nos pleitos eleitorais atrapalhem a construção de uma ferramenta de lutas muito mais estratégica para nosso povo.

A luta contra o golpe e sua nova ofensiva neoliberal será longa. Precisamos, mais do que em outros momentos, consolidar nossa unidade. É hora de jogar energias na retomada do funcionamento da Frente Brasil Popular.

*Ricardo Gebrim é da direção nacional da Consulta Popular, organização que integra a Frente Brasil Popular.