Estudo sobre a soberania alimentar marca abertura de Encontro dos Sem Terrinha

O evento que ocorre no Rio Grande tem como lema “Alimentação Saudável: um direito de todos”

 

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Um estudo sobre soberania alimentar marcou, na tarde desta segunda-feira (10), a abertura do 18º Encontro Estadual dos Sem Terrinha do Rio Grande do Sul. O evento tem como lema “Alimentação Saudável: um direito de todos”, e acontece no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, em Santa Maria, na região Central do estado.

Ao todo, cerca de 700 crianças de 7 a 12 anos de idade, oriundas de acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária de todas as regiões gaúchas participam do encontro. O estudo sobre a alimentação saudável foi feito pelo engenheiro agrônomo Álvaro Delatorre, que apresentou aos Sem Terrinha dois curtas-metragens que tratam da relação do homem com os alimentos, a natureza e também os hábitos alimentares das crianças.

Após a sessão, os Sem Terrinha foram incentivados a relatar o que compreenderam sobre as mensagens repassadas nos vídeos. “As crianças são atraídas pelas embalagens dos produtos”, “elas preferem doces às frutas”, “os homens se preocupam em adquirir riquezas e não com o meio ambiente”, “as empresas só querem vender, não se importam com a saúde das pessoas e acabam prejudicando a natureza”, foram algumas observações feitas por eles.

Ao mesmo tempo, quando questionadas se conheciam alguns alimentos, ao contrário das respostas das crianças urbanas que participaram do vídeo, disseram: “sim! Chuchu, berinjela, abobrinha”, que são alguns dos alimentos produzidos pelos seus pais em áreas de assentamentos.

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Delatorre complementou que a Via Campesina foi pioneira ao trazer a reflexão sobre a soberania alimentar no mundo.

“Quem pode produzir aquilo que consome são os camponeses, os agricultores familiares e assentados. O trabalhador da cidade precisa trocar salário por comida, enquanto o trabalhador do campo pode consumir seu próprio alimento sem depender das grandes multinacionais e desse padrão de consumo convencional”, completou.

O engenheiro agrônomo ainda perguntou aos Sem Terrinha se eles estão dispostos a produzir seus próprios alimentos, e acrescentou: “Nós só teremos soberania alimentar nos nossos assentamentos se tivermos gosto por isso. Se acharmos que cultivar alimentos não é importante e que é mais interessante plantar soja, nós nunca teremos a soberania alimentar”. E finaliza, “queremos que os Sem Terrinha tenham gosto por produzir sua berinjela, o seu arroz e seu feijão, e que não fiquem dependentes dessas multinacionais que só exploram o homem e o meio ambiente. Queremos que vocês tenham condições de escolher o que comer e o que produzir”.

A coordenadora do projeto Esperança/Cooesperança, irmã Lourdes Dill, também participa do encontro e falou sobre a importância de valorizar os alimentos orgânicos e agroecológicos e os malefícios que os &”39;produtos de prateleira&”39; causam à saúde. “Os venenos e os transgênicos já mataram muitas pessoas, inclusive crianças. Isto muito nos entristece e devemos repudiar”, salienta.

Como método educacional, ela puxou o grito de ordem “Sem Terrinha e organização, menos fome na população”, que em seguida se transformou em coro com as centenas de vozes das crianças.

O encontro

O 18º Encontro Estadual dos Sem Terrinha é promovido pelo setor de Educação do MST e se encerra na próxima quarta-feira (12), com uma confraternização.

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Nesta terça-feira (11), haverá doação de alimentos ao Centro de Apoio à Criança com Câncer (CACC), indígenas e catadores da cidade, e, a partir das 8h30, marcha até o Ministério Público Federal para reivindicar o aumento do recuso destinado à merenda escolar. Hoje, o valor repassado pela União é de R$ 0,30 ao dia por criança. Os Sem Terrinha também exigirão diversidade de alimentos e valorização de produtos orgânicos e agroecológicos na alimentação escolar.

Exposição

O encontro conta com exposição de fotografias, maquetes, artesanatos e alimentos livres de venenos. Todos os itens são construídos e produzidos em áreas de assentamentos, acampamentos e escolas do MST. Os alimentos serão utilizados para preparar as refeições numa cozinha coletiva, que serve refeições para todas as crianças.

*Editado por Iris Pacheco