Símbolo de resistência no Maranhão, Assentamento Cipó Cortado festeja nove anos

Em um território onde reina superexploração e assassinatos de camponeses, o trabalho escravo, a grilagem de terra e a miséria, o Cipó Cortado trouxe vida e é um ponto de esperança na região.

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Por Reynaldo Costa
Da Página do MST

 

Em 29 de novembro de 2006, trabalhadores rurais organizados pelo MST ocuparam a fazenda Cipó Cortado, no município de Senador La Roque no Sudoeste do Maranhão. Deu-se início a um dos mais emblemáticos focos de resistência camponesa no Maranhão nas últimas duas décadas.

Passado os momentos mais difíceis, os assentados comemoraram com uma grande festa no ultimo sábado, 26/11, a conquista da terra e os nove anos de resistência das famílias Sem Terra que permanecem na comunidade.

Realizada durante todo o dia, a festa iniciou com uma alvorada acompanhada de fogos de artifício, seguida de uma marcha pelas ruas da comunidade e várias brincadeiras durante o dia. Animada com muito forró e reggae e movida por um grande churrasco organizado e arcado pelos próprios assentados, pessoas de varias comunidades da região interagiram e acompanharam mais de perto a grande importância da luta pela terra.

Uma mudança real

Em poucos anos, mesmo ainda como acampadas, as famílias que vivem na área da Cipó Cortado vêm a cada ano melhorando de vida. “Muitos chegaram aqui sem nada, alguns que tinham algumas coisas tiveram de vender para poder se manter na terra. Agora começamos já a recuperar nossos bens e outros já estão em situação bem mais avançada”, explica Edmilson Oliveira, o Bil, que conclui refletindo: “aqui na Cipó ainda não tem fartura, mas não temos mais miséria. Estamos construindo uma nova história.”

Na sede onde se escondiam os pistoleiros que atacavam camponeses na região, hoje funciona uma escola cheia de alegria e de esperança.

Sem apoio ainda do governo para produzir, os assentados se esforçam e vem produzindo sua subsistência. São quintais inteiros cheios de frutas, criações de galinhas, porcos. Alguns já dispõem até de gado.

Na comunidade também há espaço para produção coletiva. Um grupo de assentados desenvolve um projeto produtivo consorciando criação de peixe com o cultivo de hortaliças.

 

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Pertença e identidade

É muito comum na Cipó cortado encontrar casas com bandeiras do MST hasteada, encontrar pelas ruas pessoas de qualquer idade vestidas em camisetas e com bonés do Movimento. Esta mística se estende à participação da comunidade na luta do MST como um todo. Na região Sul e Sudoeste do estado, os trabalhadores desta comunidade são os mais ativos nas atividades do MST.

Outro grande exemplo de pertença foi acolher o Curso Básico de Formação de militantes do MST da Região Amazônica envolvendo militantes dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins. Durante um mês a comunidade está acolhendo 60 pessoas que participam deste curso.

A solidariedade é outra marca importante dos assentados da Cipó Cortado, desde que estes entraram na luta, homens e mulheres desta comunidade vem contribuindo para que outros trabalhadores também possam ter acesso a terra.

A vontade de produzir e de ajudar a quem mais precisar de terra, torna a Cipó Cortado um símbolo de resistência em meio a muitos latifúndios selvagens.