No Ceará, MST homenageia bispo Dom Fragoso

Quando indagado se era subversivo, comunista, ele respondia: “subversivo é a realidade de opressão que vive os pobres”.

 

 

Por Genivando Santos
Da Página do MST

 

“Eu queria ser um pastor. Um pastor como o Evangelho coloca. E o Evangelho, sobretudo o de São João, diz assim que Jesus é “o bom Pastor”. Então, eu, Antônio, não ia ser o “bom Pastor”; eu iria ser um seguidor, tentar seguir o Bom Pastor. O Bom Pastor Jesus privilegiou os pequeninos, as viúvas, os órfãos, os fracos, os doentes, os mais distantes, os mais necessitados. Então, era essa a linha que eu queria seguir.” (Dom Fragoso)

Na tarde da última quinta feira (15), o MST realizou uma homenagem ao Bispo da Diocese de Crateús, Dom Antonio Batista Fragoso. Na ocasião estiveram presentes diversas lideranças comunitárias e religiosas que, junto com o bispo, contribuíram na construção das comunidades eclesiais de Base (CEBs), dentre eles Padre Geu Carneiro, Irmã Siebra Oliveira, Maria Lima, Lurdes Santos, Zé Grande, Virginia Santos, Sebastião Sales, entre outros.

Mesmo com todas as atrocidades da burguesia selvagem, ainda há esperança. É do Sertão Paraibano que surge o sopro de Vida. O profeta dos pobres, o homem santo. Dom Antônio Batista Fragoso, sertanejo paraibano de Teixeira, nasceu em 10 de dezembro de 1920. Profundamente marcado pelo compromisso evangélico com a causa dos pobres, e com esse compromisso de lutar contra as opressões é que Fragoso se torna o primeiro bispo da Diocesse de Crateús – CE, onde permaneceu por 34 anos (1964 a 1998).

Como bispo, aprofundou sua caminhada ao lado dos camponeses, mulheres, juventude, formando e animando comunidades, na perspectiva da Igreja dos Pobres, popular e libertadora.

Mesmo com as perseguições por parte dos militares, Fragoso nunca deixou de lutar em defesa dos pobres, estava sempre ao lado dos Sem Terra, das prostitutas, dos posseiros, trabalhadores rurais sem direitos. Por isso, era perseguido. Quando indagado se era subversivo, comunista, ele respondia: “subversivo é a realidade de opressão que vive os pobres”.

Guiado pelo Deus da Vida, Dom Fragoso foi plantando a semente da vida nova, sementes essas chamada de Comunidades Eclesiais de Base- CEBs.

“Fragoso pastor comprometido com a luta dos pequenos, homem de Deus que a luz do Evangelho fez jorrar fonte de esperança, motivou a formação das comunidades, assentamentos, dos sindicatos, das pastorais, dos movimentos sociais e da organização dos oprimidos. Fragoso acreditava que os trabalhadores tinham que ser livres, libertos e protagonista de sua própria história e que a raiz de tudo isso estava na organização comunitária”,afirma Virginia dos Santos, uma das fundadoras das CEBs da região de Crateus e hoje assentada no Assentamento Santana, em Monsenhor Tabosa.

Para Maria de Jesus dos Santos, da coordenação Nacional do MST, “Dom Fragoso acreditava na educação libertadora, na comunicação que transforma as consciências, na formação por meio da fé e da prática e tinha certeza de que os movimentos sociais eram fundamentais para a construção da emancipação humana, por isso motivou a criação de organizações como: sindicato de trabalhadores rurais, o MST, e diversas pastorais.

Em 12 de Agosto de 2006 vivendo na Paraíba, Dom Fragoso morre, mas seus ensinamentos permanecem firmes como rocha. E em 2014 seus restos mortais são trazidos a Crateús.

A caminhada dos oprimidos é fruto de um processo coletivo. A fé, a oração, a partilha, a comunhão são elementos importantes nesta construção. A história da luta da classe trabalhadora tem sido feita por mulheres e homens que decidiram dizer não ao cabresto, ao patrão e juntos teimaram em construir o novo. Rompendo a velha ordem e estabelecendo novas relações onde a vida vale mais do que qualquer propriedade, vida em primeiro lugar.

E neste momento é possível sentir e ouvir os sentimentos, a luta, a resistência, as palavras de ordens, dos guerreiros e guerreiras que guiado pelo Deus da Vida plantaram as sementes que nos levaram a terra que corre leite e mel.

Os mártires de nossa luta, não morrem jamais, mas se eternizam, isso porque seus sonhos, suas vozes, sua luta é o principal motivo que nos leva a permanecer de pé.

 

 

*Editado por Rafael Soriano