Durante Feira Nacional, camponesas trazem a produção e resistência agroecológica

A presença das mulheres é expressiva em todos os espaços da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, mas apesar de comemorar, ainda há muito pelo que lutar.

 

Por Mariana Castro
Da Página do MST
Fotos: Cássia Miranda

Facões afiados, discurso combativo e uma doce fala. Jandira da Silva, 46 anos, sofreu com o violento despejo de sua família do assentamento Elizabeth Teixeira, essa, que deu nome à área, foi uma mulher marcada para morrer, mas que assim como Jandira e tantas outras, resiste aos diários massacres.

Assentada há 10 anos, Jandira manuseava com destreza um facão para descascar as macaxeiras vindas do seu quintal, fruto da resistência e retomada ao assentamento. 

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“Eu e meu companheiro mantemos uma horta com produtos orgânicos, onde planto mais mandioca. Com elas eu faço mandioca chips, banana chips e vendo na cidade. Tenho muito orgulho disso, da luta e da minha vida. É dela que tiro a renda da nossa família”.

Apesar do trabalho desempenhado pelas mulheres nas áreas rurais, somente em 2005, a partir da reivindicação do Setor de Gênero do MST, o Governo Federal alterou o cadastro para que mulheres pudessem ser reconhecidas como trabalhadoras rurais. Antes disso, apenas os homens constavam nos registros. Elas figuravam enquanto dependentes dos maridos.

A presença das mulheres é expressiva em todos os espaços da 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, mas apesar de comemorar, ainda há muito pelo que lutar. Mesmo participando constantemente das lutas agrárias, apenas 12% das terras de assentamentos no Brasil estão em nome de mulheres. Em caso de separação do companheiro, elas deverão enfrentar a burocracia jurídica, na maioria dos casos, sem acesso à informação.

Pelos corredores da Feira, o empolgante ritmo do triângulo convidava os visitantes para a banda de produção agroecológica do Rio de Janeiro. Quem tocava e cantava era Suellen Carvalho, jovem do assentamento Campo Alegre. “Eu nasci na luta! A alegria é por poder estar aqui apresentando a produção de homens e mulheres que não puderam estar presentes”, conta.

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Suellen destaca que as mulheres sempre ocuparam um papel fundamental em todo o processo de produção e luta. “Se a gente for relembrar, quem começou a agricultura, a gente vai perceber que as mulheres têm um papel fundamental. Se formos pensar, elas que traziam esse cuidado de ter um horta no quintal de casa, de alimentar bem a família, cuidar da roça e da venda”.

Nas bancas, as feirantes aproveitam os espaços para trabalhar o diálogo sobre a saúde da mulher, a troca de saberes e experiências com as mulheres da cidade contra a violência, a favor da vida e contra os agrotóxicos, com ânimo e alegria.

Assim como Suellen e Jandira, centenas de camponesas estão no Parque da Água Branca, em São Paulo, na 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária com suas histórias de luta, conquistas e resistência de todos os cantos do Brasil, que, com suas experiências na produção de alimentos saudáveis reafirmam o importante papel das mulheres na construção e na luta pela Reforma Agrária Popular.

Confira o ensaio fotográfico completo “Mulheres da Feira”.

*Editado por Gustavo Marinho