Agroecologia só se faz com o povo organizado

Produção agroecológica do MST da Bahia será comercializada durante a 3ª Feira Estadual da Reforma Agrária, que acontece entre os dias 8 e 10 de junho em Salvador.

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Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

 

A lógica de expansão do capital passa, necessariamente, pela invasão territorial, a destruição da natureza e a super exploração do trabalho.

Para se contrapor a essa lógica, o MST tem defendido no último período a construção de um projeto que democratize a terra e garanta direitos aos trabalhadores e trabalhadoras: a Reforma Agrária Popular. Paralelo a isso, é preciso ainda pensar um novo modelo de produção agrícola, que respeite a natureza, a relação do ser humano com o trabalho e os demais seres vivos, de maneira coletiva e solidária.

Essas ideias fazem parte de alguns conceitos construídos em torno da agroecologia, considerada uma ponte fundamental para se pensar os assentamentos e acampamentos do MST.

Porém, antes de colocar na prática esses elementos é necessário ter luta, enfrentamento e resistência. É o que tem acontecido no Extremo Sul da Bahia, desde o nascimento do MST no estado, em 1987.

Agroecologia também é luta

No mês de março um novo território foi ocupado e denúncias surgiram. É o caso do enfrentamento travado por mil trabalhadoras Sem Terra, que ocuparam a usina de cana-de-açúcar Santa Maria, em Medeiros Neto. O monocultivo era dedicado à produção de etanol e supostamente foi constituído em 2002, tendo como acionista majoritário a Quanti Participações Ltda., que detêm 98% de seu capital.

 

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Segundo o MST, a empresa possuí dívidas milionárias junto ao BNDES e diversos processos trabalhistas de violação aos direitos humanos e destruição do meio ambiente.

Foi nesse contexto que a empresa falida se transformou no Pré-Assentamento Marisa Letícia, pois as mulheres que ocupavam a área formaram uma comissão para negociar com os donos da usina sobre os impactos na região e discutir a necessidade de assentar as famílias.

Depois da ocupação, a empresa cedeu 60 hectares onde 45 famílias realizam o “sonho” de produzir seu próprio alimento, com base na agroecologia e na construção coletiva da luta política.

Para Lucinéia Durães, da Direção Estadual do MST, o modelo de agricultura camponesa e dos povos tradicionais estabelece novas relações entre o homem e a natureza, com interação entre os diversos plantios, criação de pequenos e grandes animais, domínio sobre as sementes, uso predominante de insumos internos e a própria produção de alimentos.

“Essa lógica se contrapõe as formas de dominação capitalista, que tem se expandido pelo agronegócio, onde as sementes híbridas e transgênicas, o controle de insumos e industrialização dos alimentos, são objetos de lucro, instrumento de controle político sobre as nações”, explica Durães.

Uma feira para transformar

A 3º Feira Estadual da Reforma Agrária, que acontecerá entre os dias 8 e 10 de junho, na Praça da Piedade, em Salvador, é uma síntese desse processo histórico de luta e formulação coletiva, ao compreender a agroecologia como um dos instrumentos de diálogo com a população sobre a luta pela terra, pela Reforma Agrária e por uma sociedade mais justa e igualitária.

Faz parte também da feira a socialização e construção de uma ciência popular com bases nas relações, onde inter-relações ecológicas e sociais possam ser vivenciadas, refletidas e reconstruídas a partir de um processo cíclico e contínuo.

Os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, que estarão expondo seus produtos, acreditam que a agroecologia não é só garantir uma produção saudável, mas também dar oportunidade de aprender a ler e escrever a quem historicamente teve esse direito negado, por exemplo.

 

*Editado por Leonardo Fernandes