LGBT Sem Terra realizam curso de formação política no nordeste

Participantes debateram sobre a sexualidade humana, o patriarcado, a história do movimento LGBT, além dos desafios na luta pela Reforma Agrária Popular.

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Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

 

Militantes LGBT Sem Terra, vindos de diversos estados do Brasil, realizaram entre os dias 29 de junho e 3 de julho o primeiro Curso de Formação de Militantes LGBT Sem Terra, no Centro de Formação Paulo Freire, em Caruaru, Pernambuco.

“A realização desse curso é um importante passo que damos coletivamente, no sentido de proporcionar um bom momento de formação política e ideológica, na tarefa de multiplicar os debates com os demais sujeitos LGBT que estão inseridos nos diversos espaços da nossa organização”, destacou Sintia Gonçalves, lésbica e militante do MST no estado do Ceará.

Com o objetivo de potencializar a formação política dos militantes gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais e travestis, o curso de formação no nordeste foi a primeira experiência que também deve ser repetida em outras regiões e estados para enraizar no conjunto do MST o debate em torno do tema da diversidade sexual, sua relação com a luta pela Reforma Agrária e pela transformação social, além de contribuir na auto-organização dos LGBT. A formação contou também com a participação de militantes do Levante Popular da Juventude, da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e da Marcha Mundial de Mulheres.

 

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De acordo com Alessandro Mariano, da coordenação do curso, a formação contemplou algumas importantes dimensões para o debate LGBT dentro do MST. “Na medida em que temos um curso de formação para os LGBT Sem Terra, fortalecemos um processo de visibilidade desse debate dentro do MST”, reforçou. “Pensar esse aspecto, fortalece a atuação dos sujeitos LGBT nas diversas frentes da nossa organização. Nosso primeiro curso expressa essa relação”, concluiu.

Ao longo dos dias de formação, os participantes debateram temáticas relacionadas à sexualidade humana, o patriarcado, a história do movimento LGBT, além de aprofundar a leitura da conjuntura política e os desafios na construção e na luta pela Reforma Agrária Popular.

“O curso tem um impacto significativo na perspectiva de quebrarmos os tabus e socializarmos o que temos acumulado coletivamente na luta e organização dos LGBT Sem Terra”, comentou Maxwell Nogueira, gay, do MST na Paraíba.

Maxwell reforçou a necessidade dos debates e processos de auto-organização serem reafirmados em todos os estados onde o MST está organizado. “Será com a multiplicação dos debates que travamos aqui que seguiremos avançando na organização dos coletivos LGBT Sem Terra como espaço reconhecimento e de afirmação desses sujeitos como sujeitos de luta e importantes na construção do MST.”

A formação possibilitou também a troca de experiências de vida de cada um dos participantes, contribuindo para a afirmação da identidade coletiva dos LGBT Sem Terra, nas semelhanças e diversidades que cada um percorreu em seu processo de luta.

Embalados pela mística da construção de uma sociedade livre de opressão e exploração, a poesia e a música se misturaram aos relatos pessoais e coletivos que contribuíram na construção da leitura do perfil e desafios dos sujeitos da diversidade sexual que vivem nos assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária.

Próximos passos

“Saímos do curso com o desafio de ampliar esse debate nas nossas áreas e demais instâncias do MST, assim como de acumular coletivamente para ações concretas, que caminhem pela dimensão das necessidades reais dos sujeitos LGBT que vivem no campo, a partir da luta pelo direto ao acesso à terra, políticas sociais de educação e saúde, por exemplo”, disse Alessandro.

 

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Os estados participantes do curso apontaram ações a realizarem desde encontros e debates nos cursos, passando pela utilização das diversas linguagens para abordar a temática da diversidade sexual nos espaços de assentamento e acampamento, como o cinema, por exemplo.

Fabiana Gomes, do MST de Alagoas, destacou a importância que o curso teve para o seu reconhecimento enquanto LGBT Sem Terra e comprometida com a luta pela Reforma Agrária Popular. “O curso me deu diversos elementos fundamentais para que eu pudesse me enxergar como lésbica e Sem Terra, enfrentando os desafios do dia-a-dia, mas sabendo que não estou sozinha. Saio daqui com muito mais força para seguir contribuindo com a organização”.

 

*Editado por Leonardo Fernandes